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CASO KELLY
Dossiê é pivô de inquérito
Jornalista da BBC volta a acusar governo Blair
DA REUTERS, EM LONDRES
O jornalista da BBC Andrew Gilligan disse ontem que o especialista britânico em armas David
Kelly acreditava que o Iraque fosse uma ameaça militar mínima e
acusou o governo de exagerá-la
para justificar a guerra.
A afirmação foi feita em depoimento no inquérito sobre a morte
de Kelly. Ele se suicidou cortando
o pulso no mês passado, após a
revelação de que o cientista havia
sido a fonte de Gilligan numa reportagem segundo a qual um
dossiê do governo britânico sobre
armas iraquianas teria sido "incrementado" a pedido do chefe
de comunicações do premiê Tony
Blair, Alastair Campbell.
Gilligan disse que Kelly lhe contou que a maioria dos especialistas britânicos em inteligência estava insatisfeita com o dossiê.
Mas a versão de Gilligan sobre a
conversa que ele teve com Kelly
destoa de um memorando enviado pelo cientista a seus chefes.
"Nossa conversa não foi sobre o
dossiê", escreveu Kelly no memorando, acrescentando ter dito a
Gilligan que acreditava que o dossiê constituísse ""um reflexo justo
de informações obtidas de fontes
abertas".
Gilligan, no entanto, lendo anotações feitas de sua conversa com
Kelly, disse: "O programa [de armas de Saddam Hussein] era pequeno. Ele não teria conseguido
matar muita gente, mesmo que
tudo tivesse dado certo para ele".
Em outro trecho, Kelly teria mencionado o fato de "não haver armas utilizáveis" no Iraque.
Quase cinco meses depois de as
forças americanas e britânicas terem invadido o Iraque para derrubar Saddam Hussein, ainda não
foram encontradas armas de destruição em massa no país, fato
que está reduzindo os índices de
confiança pública em Blair. Uma
sondagem conduzida nesta semana indica que 41% da população
britânica culpa o governo pela
morte de Kelly, e 68% acreditam
que o governo tenha agido de maneira desonesta.
Gilligan disse que Kelly criticou
Campbell por modificar o dossiê
de inteligência redigido antes da
guerra, dando destaque à alegação de que o Iraque seria capaz de
colocar armas químicas ou biológicas em funcionamento após
aviso prévio de apenas 45 minutos. "A maioria das pessoas no setor de inteligência estava insatisfeita com o dossiê porque ele não
refletia a opinião fundamentada
que elas estavam propondo."
Sua afirmação foi confirmada
anteontem, quando Martin Howard, vice-chefe de inteligência
do Ministério da Defesa britânico,
disse no inquérito que dois funcionários da pasta estavam insatisfeitos com os termos utilizados
no dossiê do governo, divulgado
em setembro de 2002.
Segundo Gilligan, o dossiê ""foi
modificado uma semana antes de
sua publicação, para se tornar
mais interessante". Indagado sobre como acontecera essa modificação, Gilligan respondeu no inquérito: "Kelly disse: "Campbell".
O governo nega a versão de Gilligan.
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