São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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LATINOBARÓMETRO

Para 71% na AL, só elite se beneficia

Pesquisa mostra que nenhum governo satisfaz aos brasileiros

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O brasileiro demonstra muito pouca confiança no governo, democrático ou autoritário, revela a mais recente pesquisa Latinobarómetro, que mede opiniões, atitudes e valores em 18 países da América Latina desde 1995.
A pesquisa 2004 foi divulgada ontem pela revista britânica "The Economist". De 1996 para 2004, caiu nove pontos percentuais a porcentagem de brasileiros que cravam que "democracia é preferível a qualquer outro tipo de governo". Eram 50%, número já relativamente baixo; agora são 41%.
Mas caiu também os que apostam na solução autoritária: em 1996, 24% diziam que, "em certas circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível a um democrático". Agora, são 18%.
O desconforto com o governo (qualquer que ele seja) fica claro em outra pergunta: 65% respondem que "acham que o governo beneficia uns poucos poderosos, em vez de todos". Aliás, essa é uma característica de toda a região: 71% dos consultados dão essa mesma resposta no conjunto dos 18 países pesquisados.
De todo modo, subiu a porcentagem dos que apostam na democracia, a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, apenas 35% dos brasileiros preferiam a democracia a outra forma de governo. Agora, são 41%.
O desconforto com a democracia não leva, no entanto, a pensar em alternativa. Sessenta e oito por cento dos brasileiros dizem que "só um sistema democrático pode trazer o desenvolvimento".
Mas 54% aceitariam um governo não-democrático se resolvesse os problemas econômicos.
Número bem parecido (53%) diz que prefere a ordem mesmo que "algumas liberdades possam ser limitadas". Esse número parece indicar mais a preocupação com a segurança pública do que inclinação pelo autoritarismo.
De todo modo, é enorme, sempre superior a 50% em cada país, o número dos latino-americanos que se dizem insatisfeitos com a maneira como funciona a democracia. No Brasil, são mais de 60%. Mas já foram mais: perto de 80% em 1996 (na metade do segundo ano do governo Fernando Henrique Cardoso).
Como democracia tem sido, na região, sinônimo de economia de mercado, os pesquisados não vêem alternativa: sempre mais de 50% em cada país dizem que "a economia de mercado é o único sistema que pode desenvolver o país". No Brasil, são pouco mais de 60%, o segundo lugar entre os pró-mercado, atrás apenas dos mexicanos (70%).
Em aparente paradoxo, o país campeão da economia de mercado (os EUA) não é bem visto pelos latino-americanos em geral e pelos brasileiros em particular.
A pergunta exata é "qual é a sua opinião sobre os Estados Unidos". A resposta é uma ponderação entre os que respondem "muito boa" (opinião) e "boa" menos os que dizem "má" e "muito má". Feita essa conta, a avaliação positiva dos brasileiros sobre os EUA supera a negativa em 10%. Na Argentina, país cujo colapso é atribuído em grande parte ao FMI e, por extensão, aos Estados Unidos, a opinião anti-norte-americana é mais extensa, a mais disseminada na região.
Outro aparente paradoxo está dado pelo fato de que é na Venezuela que aparece uma das mais baixas porcentagens de insatisfação com o funcionamento da democracia (a mais baixa surge no Uruguai).
A se aceitar a avaliação da oposição ao presidente Hugo Chávez, a democracia venezuelana estaria em cacos, mas os pesquisados em países como Chile, Brasil ou México, bem mais estáveis, estão mais descontentes.


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