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Na Unasul, Brasil insistirá em garantia colombiana
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de sucessivas negativas colombianas, inclusive do
chanceler Jaime Bermúdez,
que esteve em Brasília na semana passada, o Brasil vai insistir na reunião de chanceleres
e ministros da Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) na necessidade de a
Colômbia apresentar garantias
por escrito de que a ampliação
de seu acordo militar com EUA
não extrapolará o combate ao
narcotráfico nem as fronteiras
do país. A reunião será nesta
terça-feira, em Quito.
O recado a ser dado será claro: para o Brasil e outros vizinhos, como a Argentina, se a
Colômbia não der respaldo jurídico à promessa de que a presença de tropas americanas em
até sete bases no país se restringirá ao território colombiano, poderá ficar isolada, com
uma permanente desconfiança
pairando no ar.
O Brasil será representado
pelos ministros Celso Amorim
(Relações Exteriores) e Nelson
Jobim (Defesa). Jobim já esteve no início do mês na Colômbia e no Equador, tentando fazer uma mediação entre esses
dois países. Eles estão com as
relação diplomáticas suspensas
desde o ano passado, após Bogotá realizar uma operação
contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano.
Além disso, Jobim ainda irá
amanhã à Bolívia, que integra o
eixo antiamericano da região
com Venezuela e Equador.
A Colômbia, que está "na
berlinda", por causa do acordo
com os EUA, exige que os ministros discutam também as
alianças da Venezuela com o
Irã e com a Rússia e as suspeitas de envolvimento de outros
países (numa referência à própria Venezuela e ao Equador)
com grupos narcotraficantes.
Até anteontem, havia ao menos três propostas circulando
entre as chancelarias. Elas serão levadas à reunião de terça.
Duas são de autoria equatoriana. Elas estipulam a instituição de uma espécie de "código
de conduta" relativo a gastos
militares e a instalação de uma
comissão com a incumbência
de fomentar relações de confiança entre os 12 países da
Unasul, planejando troca de visitas e de informações na área
da defesa.
Transparência
A outra proposta é do Brasil e
vai na linha de mais transparência, com a criação de um dispositivo que formalizaria a
obrigatoriedade de os países da
Unasul notificarem seus acordos de cooperação militar, sobretudo dos que envolvam grau
de presença ou equipamento
estrangeiro. Assim, seria criado
uma espécie de "catálogo".
A ideia, chamada de "projeto
transparência", seria colocada
na cúpula de presidentes em
Bariloche, Argentina, no final
de agosto. Mas a reunião foi
consumida pela retórica.
Para dar "exemplo", o governo brasileiro diz estar disposto
a dar explicações sobre os acordos recentemente firmados
com a França para aquisição de
helicópteros, submarinos convencionais e a construção de
um submarino de propulsão
nuclear, além da disposição de
empregar até 4 bilhões na
aquisição de 36 aviões de caça
para a FAB.
Se questionado, o Brasil dirá,
segundo fontes diplomáticas,
que essas ações são "perfeitamente proporcionais às necessidades de defesa e de segurança que o país tem".
Também defenderá que não
há necessidade de manter isso
sob sigilo -um diplomata inclusive citou a possibilidade de
colocar na internet os acordos
assinados com a França, seguindo o exemplo do Chile, que
é o único país que escancara
sua força bélica pela rede.
Recentemente, a Venezuela
comprou fuzis, tanques, helicópteros e três submarinos da
Rússia. Na última quinta-feira,
em Moscou, o presidente Hugo
Chávez e seu par russo, Dmitri
Medvedev, selaram acordo para o fornecimento de mais tanques a Caracas.
Outros países latino-americanos também foram às compras. O Chile adquiriu fragatas
e outros equipamentos do Reino Unido e da Holanda. O
Equador comprou aviões Supertucano do Brasil, helicópteros militares da Índia e fragatas
do Chile. E o Peru tem um plano de reequipamento de até
US$ 650 milhões.
Para o Brasil, tais movimentações justificam a necessidade
de mais troca de informação na
região, com o intuito de evitar
curtos-circuitos capazes de estimular uma corrida armamentista entre vizinhos.
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