São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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PAZ SOB ATAQUE
Forças de segurança não conseguem conter o linchamento de soldados israelenses nem manifestações durante a retaliação militar
Polícia palestina não controla Ramallah

DO ENVIADO ESPECIAL

Na praça central de Ramallah, a polícia palestina tentava controlar a multidão enfurecida, que gritava "Israel, saia da Palestina, queremos nossa terra de volta" e "Não vamos abandonar nossos mártires", entre outras frases, enquanto helicópteros israelenses bombardeavam a cidade.
Pouco antes, de manhã, dois soldados israelenses haviam sido mortos no centro da cidade, após errar o caminho de volta para casa e pegar a estrada que leva a Ramallah, segundo o Exército.
O linchamento aconteceu depois que a polícia palestina não conseguiu deter cerca de mil pessoas que tentavam invadir a delegacia local. Um dos soldados, depois de morto, foi lançado pela janela do centro policial e, no chão, submetido a mais golpes.
A imagem, tal qual à do menino palestino Muhammad al Durah, morto nos braços do pai, evidencia a necessidade de paz na região e o tipo de comportamento a que um ciclo de violência pode levar.
Em Ramallah, onde algumas áreas residenciais foram atingidas, "mais de 25 pessoas, civis em sua maioria, ficaram feridas", segundo Mustafa Barghouti, do Centro Palestino de Assistência Médica. Na cidade, a rádio palestina, a poucos metros do quartel-general do líder palestino Iasser Arafat, foi bombardeada, o que cortou sua transmissão.
Diversos tanques foram enviados para o local. Os palestinos retiraram civis de áreas próximas a delegacias, pois acreditavam que elas seriam bombardeadas.
"Por que uma cidade inteira deve ser bombardeada por causa da ação de um grupo de pessoas totalmente fora de controle? Não podemos pagar o preço dessa ação violenta", disse Amal, que procurava seu irmão entre pessoas que corriam nas ruas.
O Exército israelense declarou que os ataques foram uma resposta à morte dos dois soldados e negou que eles integrassem um comando especial enviado à cidade, como disseram algumas autoridades palestinas. Ao menos 13 policiais ficaram feridos quando tentavam controlar a multidão, segundo os palestinos.
Metade de Ramallah ficou sem energia ontem, e quase toda a cidade ficou sem telefone.
Ramallah está sob administração palestina. Segundo acordos de paz firmados, o Exército israelense não podia entrar na cidade, mas a situação se alterou após o início desta nova Intifada (levante popular).
"Provavelmente vamos nos habituar novamente a ver os bombardeios israelenses", afirmou Hussein. "Eles fuzilaram nossas crianças e nem todos conseguem controlar sua fúria. Esse ato me parece um gesto de vingança pelas últimas matanças."
Em vários pontos da cidade, grupos de palestinos promoviam manifestações. Quando os helicópteros israelenses lançavam mísseis, as pessoas procuravam se proteger em casas próximas.

Emergência em Gaza
Israel também atacou a cidade de Gaza, que declarou estado de emergência ontem. Navios israelenses se aproximaram de Gaza.
Barcos da Autoridade Nacional Palestina foram destruídos, e uma das sedes do Fatah (principal grupo político ligado à Organização para a Libertação da Palestina foi atacada.
Os palestinos não tem um Exército, embora parte deles possua armas, e não se sabe quais seriam os alvos dos israelenses. De acordo com analistas políticos, a intenção de Israel foi enviar uma "mensagem de força" aos palestinos e mostrar determinação para a população, revoltada com o linchamento dos soldados.
Arafat disse que o ataque era uma "declaração de guerra". "Se isso não é guerra, não sei o que essa palavra significa. A comunidade internacional deve intervir para impedir que a população seja massacrada. Tanques e helicópteros estão atacando civis. Eu digo a Israel: Pare essa loucura, essa guerra, esse terrorismo", afirmou um dos principais negociadores palestinos, Saeb Erekat. (PDF)


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