São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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COMENTÁRIO

Israel cogita separação física

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

A dramática escalada dos choques entre Israel e palestinos reforça entre israelenses o apoio a uma separação total entre os dois lados, com uma retirada unilateral das tropas do país das áreas habitadas por palestinos, menos Jerusalém Oriental.
A medida significaria uma suspensão do processo de paz e deixaria os palestinos com muito menos do que foi oferecido ao líder Iasser Arafat nas negociações de julho último, em Camp David.
Israel iniciou o processo de paz com o então arquiinimigo Arafat, em 1993, após seis anos de Intifada (revolta popular palestina contra a ocupação israelense) e o colapso da União Soviética (91).
A Intifada mostrou que o poderoso Exército de ocupação israelense não tinha como enfrentar, moral e militarmente, miseráveis crianças atirando pedras.
Já o fim da União Soviética, principal aliado e fomentador dos Exércitos árabes, desarmou os inimigos do Estado judeu, dando-lhe segurança suficiente para fazer concessões.
"Os líderes israelenses que lançaram e apoiaram os acordos de Oslo sabiam que a paz seria, na melhor das hipóteses, um subproduto das negociações. Para eles, o principal objetivo era o fim da ocupação", escreveu recentemente Douglas J. Feith, ex-membro do Conselho de Segurança dos EUA.
O premiê israelense, Ehud Barak, disse ontem que está elaborando planos para a separação física entre israelenses e palestinos. Israel vem construindo uma extensa rede de estradas para conectar-se a suas colônias na Cisjordânia e na faixa de Gaza passando ao largo das populações palestinas.
Barak disse ontem também que quer formar um governo de união nacional com a direita liderada pelo deputado Ariel Sharon. Foi sua visita a local disputado pelas duas partes em Jerusalém, em 28 de setembro, que iniciou os conflitos atuais. É a composição certa para avançar a idéia de retirada unilateral.
Nada disso irá resolver a situação, muito pelo contrário. Durante seus 33 anos de ocupação, Israel impediu qualquer desenvolvimento econômico nos territórios palestinos, que dependem de Israel como mercado e fonte de trabalho. Uma eventual separação agora pioraria ainda mais a miséria palestina, principal motivação para os "mártires" da atual Intifada, frustrados com a "paz".
Arafat poderá declarar um Estado palestino, fechando o ciclo de medidas unilaterais, e manter ataques de baixa intensidade contra os israelenses.
Mas basta olhar o mapa da região para concluir que só entrando em acordo os dois povos poderão viver dignamente.


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