São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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PRÊMIO

É a primeira vez que a organização como um todo ganha prêmio de US$ 900 mil, a ser dividido com seu secretário-geral

ONU e Kofi Annan dividem Nobel da Paz

DA REDAÇÃo

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, disse ontem que foi uma "sensação maravilhosa" ter sido escolhido como o ganhador do Prêmio Nobel da Paz deste ano, a 100ª edição da premiação.
Ele divide o prêmio com a própria ONU, instituição na qual tem servido em inúmeros cargos durante a maior parte de sua vida.
O comitê do Nobel agraciou Annan, 63, por ter sido proeminente ao trazer vida nova à ONU. O prêmio também foi dado à organização como um todo porque ela "se mantém à frente dos esforços para a obtenção da paz e da segurança mundial".
Jubilosos, funcionários da equipe de Annan lotaram a entrada da sede da ONU, em Nova York, para ovacionar o secretário-geral quando ele chegou para trabalhar ontem cedo.
Eleito para substituir o egípcio Boutros Boutros-Ghali na Secretaria Geral da instituição, em 1997, Annan conta com imensa popularidade entre os 52 mil funcionários das Nações Unidas ao redor do mundo.
"É uma sensação maravilhosa e um grande encorajamento para nós e para a organização, pelo trabalho que fizemos até agora", disse Annan depois de ter sido informado da escolha em sua residência oficial. "É um grande reconhecimento para a equipe."
É a primeira vez que a ONU recebe o Nobel da Paz. O único secretário-geral a ganhar o prêmio até então havia sido o sueco Dag Hammarskjold, agraciado postumamente em 1961.
Annan foi reeleito em junho de 2001 por unanimidade pelos 189 representantes de países na Assembléia Geral para mais um mandato de cinco anos. Ele irá dividir em partes iguais com a organização o prêmio de US$ 943 mil.
"Ele foi quem melhor compreendeu o papel central do homem nos trabalhos das Nações Unidas", disse Joanna Weschler, do Human Rights Watch, em Nova York, que aplaudiu a escolha do comitê do Nobel.
O Prêmio Nobel é um raro incentivador moral para a ONU, que foi atacada por quase toda a década passada por seu fracasso em impedir os massacres em Ruanda, em 1994, e na Bósnia, em 95. Outros reveses incluíram intervenções fracassadas na Somália e em Serra Leoa, semanas de caos e genocídio em Timor Leste, quando de sua luta pela independência da Indonésia, em 1999, bem como uma disputa aparentemente sem fim com os EUA, maior financiador da instituição.
Só após os atentados de 11 de setembro o Congresso dos EUA decidiu liberar verba para o pagamento de US$ 926 milhões devidos à ONU. A organização diz que ainda faltam cerca de US$ 500 milhões a serem pagos, mas os Estados Unidos questionam essa cifra. Vários congressistas criticam a organização por supostas posições liberais.
O prêmio vem em um momento em que a organização enfrenta novos desafios. Annan tem tentado levar a ONU à frente da luta contra o terrorismo. É provável que o secretário-geral seja chamado para ajudar na reconstrução do Afeganistão quando as ações militares terminarem. No entanto, até agora, os EUA têm agido sem nenhuma consulta à organização, afirmando que têm direito à autodefesa.
Geir Lundestad, do comitê norueguês que outorgou o prêmio, disse que a premiação foi decidida em 28 de setembro, 17 dias depois dos atentados, e quase uma semana depois do início da ofensiva dos EUA contra o Afeganistão. "Esses acontecimentos certamente influenciaram nossa decisão", disse ele.
Entre os embaixadores nas Nações Unidas que celebraram o prêmio a Annan estava o britânico sir Jeremy Greenstock. "Esse homem apóia a paz em sua longa vida. A integridade e a autoridade moral são exatamente o tipo de liderança que o mundo quer em uma época difícil."
Annan nasceu em Gana em 1938 e entrou para as Nações Unidas em 1962, como administrador na Organização Mundial da Saúde, em Genebra. Sua carreira na ONU inclui passagens por postos na África e na Europa em quase todas as áreas da organização, da administração do orçamento à manutenção da paz.
Ele é casado com a sueca Nane Annan, sobrinha de Raoul Wallenberg, o diplomata sueco que salvou dezenas de milhares de judeus dos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Em suas comunicações, o comitê do Nobel afirmou que Annan dedicou quase inteiramente sua vida às Nações Unidas. Como secretário-geral, ele foi proeminente ao levar vida nova à organização. Ao mesmo tempo em que sublinhou a tradicional responsabilidade da ONU quanto à paz e à segurança, ele também enfatizou suas obrigações quanto aos direitos humanos. Ele levantou novos desafios contra a Aids e o terrorismo internacional e utilizou de modo mais eficiente os modestos recursos das Nações Unidas.

Afeganistão
Sobre a idéia do presidente dos EUA, George W. Bush, de deixar a cargo da ONU a reconstrução do Afeganistão, Annan afirmou que a organização está disposta a cooperar, mas que "não se pode impor um governo ao povo afegão". Annan disse que "neste momento a ONU está muito comprometida na frente comunitária e isso vai continuar". "Estamos envolvidos com os afegãos há muito tempo."


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