São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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Painel da ONU e Al Gore dividem o Nobel da Paz

Prêmio é reconhecimento da responsabilidade humana na crise climática

Ex-vice-presidente dos EUA é "indivíduo que mais fez pela compreensão global" do tema, diz comitê; IPCC "criou consenso amplo"

Raveendran/France Presse
Presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, celebra prêmio em Nova Déli


DA REDAÇÃO

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, pela sigla em inglês) e o ex-vice-presidente americano Al Gore são os vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2007.
Nas palavras do Comitê Norueguês do Nobel, que ontem anunciou o prêmio, o grupo de cientistas reunido pela ONU e o político americano alçado à celebridade após virar um cruzado da causa ambiental foram condecorados devido a "seus esforços de ampliar e disseminar um conhecimento amplo sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem e por estabelecer as bases para reverter tais mudanças".
A premiação coroa um ano de triunfos para o "ex-futuro presidente dos EUA", que inclui o Oscar de melhor documentário a seu filme "Uma Verdade Inconveniente". "Esta é uma chance para elevar a consciência global", disse Gore. "Enfrentamos uma verdadeira emergência planetária. A crise climática não é uma questão política, é um desafio moral e espiritual para a humanidade."
"Esse prêmio também joga uma nova responsabilidade sobre os nossos ombros", disse o cientista indiano Rajendra Pachauri, que preside o IPCC, do Instituto de Energia e Recursos da Índia, em Nova Déli. "Há muito a percorrer."
É a segunda vez em quatro anos que o prêmio contempla a questão ambiental, cuja relação com guerras e paz torna-se mais e mais evidente em conflitos como o de Darfur -a guerra sudanesa, que já contabiliza mais de 300 mil mortos, começou como uma disputa por terras em regiões semidesérticas.
"Ao escolher Al Gore e o IPCC, o comitê chama a atenção para o fato de que a mudança climática é a maior ameaça individual à paz mundial que já enfrentamos", disse Wangari Maathai, a ambientalista que venceu o Nobel em 2004.
Trata-se, também, de uma mensagem política de peso -apesar da declaração de Gore e da do presidente do comitê, Ole Danbolt Mjoes, de que "o prêmio não deveria ser encarado como um recado ao presidente americano". George W. Bush é alvo freqüente de críticas pelos anos de inação ante o aquecimento global e pela não-adesão ao Protocolo de Kyoto, que fixa metas de corte dos gases causadores do fenômeno.
O IPCC, criado em 1988, produziu neste ano um dos mais amplos estudos sobre a mudança climática -resultado de um trabalho de seis anos de mais de 2.500 cientistas. A conclusão é a de que o aquecimento global é "inequívoco" e, com 90% de certeza, o fenômeno é causado pelo homem. As emissões de gases, segundo o painel, têm de ser cortadas em 15% para frear conseqüências mais graves.

"Chute na canela"
Elevar a questão ambiental a tema de segurança por si só já seria um puxão de orelha no governo de Washington.
Mas o fato de um dos premiados ser o homem que derrotou Bush no voto popular nas eleições presidenciais de 2000 (e depois perdeu a disputa numa decisão da Suprema Corte envolvendo os votos na Flórida) parece um novo "chute na canela" -a expressão usada pelo ex-presidente do comitê do Nobel Gunnar Berge ao entregar o Nobel da Paz de 2002 ao ex-presidente Jimmy Carter, ferrenho crítico de Bush.
Gore anunciou que planeja doar sua metade do prêmio de 10 milhões de coroas suecas (R$ 2,8 milhões) para a Aliança para a Proteção Climática, organização que divulga a urgência de conter a crise.
O prêmio foi criado em 1895 pelo industrial sueco Alfred Nobel visando contemplar esforços pela manutenção da paz e pelo desarmamento. Nos últimos anos, no entanto, têm sido contemplados aqueles que promovem direitos humanos, democracia e redução da pobreza, como o bengali Muhammad Yunus, vencedor em 2006.


Com agências internacionais


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