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Painel da ONU e Al Gore dividem o Nobel da Paz
Prêmio é reconhecimento da responsabilidade humana na crise climática
Ex-vice-presidente dos EUA é "indivíduo que mais fez pela compreensão global" do tema, diz comitê; IPCC "criou consenso amplo"
Raveendran/France Presse
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Presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, celebra prêmio em Nova Déli |
DA REDAÇÃO
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática
(IPCC, pela sigla em inglês) e o
ex-vice-presidente americano
Al Gore são os vencedores do
Prêmio Nobel da Paz de 2007.
Nas palavras do Comitê Norueguês do Nobel, que ontem
anunciou o prêmio, o grupo de
cientistas reunido pela ONU e o
político americano alçado à celebridade após virar um cruzado da causa ambiental foram
condecorados devido a "seus
esforços de ampliar e disseminar um conhecimento amplo
sobre as mudanças climáticas
provocadas pelo homem e por
estabelecer as bases para reverter tais mudanças".
A premiação coroa um ano de
triunfos para o "ex-futuro presidente dos EUA", que inclui o
Oscar de melhor documentário
a seu filme "Uma Verdade Inconveniente". "Esta é uma
chance para elevar a consciência global", disse Gore. "Enfrentamos uma verdadeira
emergência planetária. A crise
climática não é uma questão
política, é um desafio moral e
espiritual para a humanidade."
"Esse prêmio também joga
uma nova responsabilidade sobre os nossos ombros", disse o
cientista indiano Rajendra Pachauri, que preside o IPCC, do
Instituto de Energia e Recursos
da Índia, em Nova Déli. "Há
muito a percorrer."
É a segunda vez em quatro
anos que o prêmio contempla a
questão ambiental, cuja relação
com guerras e paz torna-se
mais e mais evidente em conflitos como o de Darfur -a guerra
sudanesa, que já contabiliza
mais de 300 mil mortos, começou como uma disputa por terras em regiões semidesérticas.
"Ao escolher Al Gore e o
IPCC, o comitê chama a atenção para o fato de que a mudança climática é a maior ameaça
individual à paz mundial que já
enfrentamos", disse Wangari
Maathai, a ambientalista que
venceu o Nobel em 2004.
Trata-se, também, de uma
mensagem política de peso
-apesar da declaração de Gore
e da do presidente do comitê,
Ole Danbolt Mjoes, de que "o
prêmio não deveria ser encarado como um recado ao presidente americano". George W.
Bush é alvo freqüente de críticas pelos anos de inação ante o
aquecimento global e pela não-adesão ao Protocolo de Kyoto,
que fixa metas de corte dos gases causadores do fenômeno.
O IPCC, criado em 1988, produziu neste ano um dos mais
amplos estudos sobre a mudança climática -resultado de um
trabalho de seis anos de mais de
2.500 cientistas. A conclusão é
a de que o aquecimento global é
"inequívoco" e, com 90% de
certeza, o fenômeno é causado
pelo homem. As emissões de
gases, segundo o painel, têm de
ser cortadas em 15% para frear
conseqüências mais graves.
"Chute na canela"
Elevar a questão ambiental a
tema de segurança por si só já
seria um puxão de orelha no governo de Washington.
Mas o fato de um dos premiados ser o homem que derrotou
Bush no voto popular nas eleições presidenciais de 2000 (e
depois perdeu a disputa numa
decisão da Suprema Corte envolvendo os votos na Flórida)
parece um novo "chute na canela" -a expressão usada pelo
ex-presidente do comitê do Nobel Gunnar Berge ao entregar o
Nobel da Paz de 2002 ao ex-presidente Jimmy Carter, ferrenho crítico de Bush.
Gore anunciou que planeja
doar sua metade do prêmio de
10 milhões de coroas suecas
(R$ 2,8 milhões) para a Aliança
para a Proteção Climática, organização que divulga a urgência de conter a crise.
O prêmio foi criado em 1895
pelo industrial sueco Alfred
Nobel visando contemplar esforços pela manutenção da paz
e pelo desarmamento. Nos últimos anos, no entanto, têm sido
contemplados aqueles que promovem direitos humanos, democracia e redução da pobreza,
como o bengali Muhammad
Yunus, vencedor em 2006.
Com agências internacionais
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