São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2011

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MINHA HISTÓRIA
BHANTE BUDDHARAKKHITA, 45


NA ÁFRICA COM BUDA

Nascido em Uganda, ele trocou o cristianismo pelo budismo e é hoje o único monge negro na África

RESUMO
Nascido em Uganda -país católico- e criado no cristianismo, Steven Kabogosa, 45, travou contato com o budismo no período em que viveu na Índia. Tornou-se um seguidor de Buda e foi ordenado como monge, sob o nome Bhante Buddharakkhita. Hoje, ele vive nos EUA e viaja pelo mundo ensinando técnicas de meditação. Convertida recentemente ao budismo, sua mãe é a primeira monja de Uganda.

(...) Depoimento a

CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO

Nasci em 1966, em Campala, Uganda, no leste da África. Recebi um nome africano dos meus pais, Kabogosa.
Mas, como Uganda é um país católico, fui batizado depois como Steven.
Vivi em Uganda uma infância comum e frequentei escolas cristãs. O país tem mais de 60% de sua população católica -é a maior porcentagem no continente africano.
Vivi em Uganda até 1990, quando surgiu a oportunidade de eu ir estudar na Punjab University, em um intercâmbio do governo de Uganda com o da Índia.
Procurei igrejas por lá, mas havia poucas e elas ficavam longe de onde eu estudava. Aos poucos, comecei a me interessar pelas tradições e cultos indianos.
Eu me perguntava no que essas pessoas acreditavam. E elas me disseram que acreditavam em Buda. Quando fui a Dharmasala, foi quando descobri o budismo.
Conheci dois monges no hotel onde eu estava hospedado e fiquei muito amigo deles. Minha curiosidade sobre a religião que seguiam crescia a cada dia.
Acompanhava-os a um mosteiro. E, uma vez, peguei a bicicleta de um deles escondido e fui sozinho rezar.
Não sabia meditar, então imitava os monges do mosteiro, sentados com as pernas cruzadas e as mãos unidas à frente do corpo.
Quando eles ficaram sabendo disso é que me ensinaram mais sobre o budismo e a meditação. Acho que viram que meu interesse pela religião deles era verdadeiro.
No começo dos anos 90, fui a um retiro pela primeira vez. Tive um curso introdutório sobre budismo.
Quando vi a quietude, as atitudes humildes, pensei: "É o que eu quero para minha vida". Era muito pacífico e silencioso, comparado com a correria do mundo.
Então, comecei a seguir o budismo seriamente. Fui para Nova Déli ser voluntário em um mosteiro por um ano.
Depois viajei ao Nepal e visitei o Tibete, ouvi lamas muito sábios ensinando, foi uma experiência extraordinária. Decidi dedicar minha vida à busca da verdade.
Fui aos EUA em 1999 para um retiro em Massachusetts. Era um país tão diferente da Ásia e da África; foi um desafio me acostumar. Também viajei pela América Latina na época. Conheci até o Brasil.
Mas eu estava determinado. Percebi que a verdadeira felicidade depende de circunstâncias internas, e não externas. A felicidade dependia de eu desenvolver qualidades internas, meditar, ter bons pensamentos.
Fui ordenado em San José, na Califórnia, foi a primeira cerimônia de ordenação da qual participei na vida. Morri de vergonha quando as pessoas se curvaram para mim, em sinal de respeito.
Hoje moro na Virgínia, nos EUA. Viajo o mundo ensinando meditação.
Em 2008, minha mãe se converteu ao budismo também. Ela se tornou a primeira monja em Uganda.
Agora compartilho todos os ensinamentos do budismo com outras pessoas na África, onde eu não conheço nenhum outro monge negro além de mim.
Soube que há um na África do Sul, mas ele é branco.


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