São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LINHA DE FRENTE

Aliança do Norte entra na capital Cabul

Rebeldes tomam prédios do governo, e milícias do Taleban deixam a cidade em direção a Candahar

DA REDAÇÃO

Os rebeldes da Aliança do Norte entraram pela manhã (madrugada de hoje no horário de Brasília) em Cabul, a capital do Afeganistão, tomando vários prédios do governo, ocupados pelo Taleban.
"Tomamos Cabul" gritava um combatente da Aliança do Norte numa das ruas do centro da cidade. "Nós temos os principais prédios governamentais", disse outro. "Estamos perseguindo o Taleban", acrescentou.
As tropas da Aliança do Norte estavam estacionadas durante à noite a 6 km da entrada oeste da cidade e a 20 km da entrada leste e não atenderam o pedido dos EUA para não ocupar a capital até que fossem realizadas as negociações para a formação de um novo governo.
As tropas do Taleban foram vistas deixando Cabul numa longa fila de tanques e veículos de combate em direção à cidade de Candahar, onde estão os líderes da milícia.
De acordo com relatos, os rebeldes da Aliança do Norte estão em caminhões repletos de soldados armados de fuzis e lança-foguetes, mas não tiveram de enfrentar resistência. Nas ruas, homens tiraram seus turbantes, em sinal de adesão às forças de oposição.
As tropas da Aliança do Norte, que estavam concentradas em Bagram, chegaram às imediações de Cabul após dez horas de combate, em que 6.000 rebeldes lutaram contra os soldados do Taleban.

Combates
O combates mais intensos ocorreram na rota para a entrada leste de Cabul. O ataque teria sido mais tranquilo pelo oeste devido ao recuo de comandantes do Taleban.
Durante a ofensiva, os EUA, que vinham bombardeando a zona de combate perto de Bagram, suspenderam seus ataques. Em sinal de ação coordenada, os aviões dos EUA passaram a atacar alvos do Taleban dentro da capital.
Foram lançadas ao menos três bombas -uma delas atingiu a casa do governador taleban de Cabul, o mulá Abdul Manan Niazi, que, segundo informações preliminares, não estava no local.
A evolução da Aliança em direção a Cabul havia sido confirmada ontem pelo Taleban. O embaixador da milícia no Paquistão, Abdul Salam Zaeef, disse: "É verdade que as forças de oposição romperam a linha de frente, mas o Taleban criou uma nova linha, que está reforçada".
Moradores de Cabul e um repórter da agência de notícias "Reuters" afirmaram ter visto dezenas de veículos do Taleban saindo da capital, em direção à estrada que leva a Candahar, no sul do Afeganistão.

Futuro governo
O chanceler Abdullah Abdullah declarou que o próximo passo da Aliança do Norte será debater a criação de uma frente política ampla capaz de governar o Afeganistão após a queda do Taleban. "Com os eventos dos últimos dias, tornou-se urgente discutir um programa que represente uma solução para o país", afirmou Abdullah.
Seu discurso conciliador parece afinado com os interesses da coalizão liderada pelos EUA. O pedido de Washington para que os rebeldes não entrem em Cabul está ligado à questão das divisões étnicas do Afeganistão.
Em sua maioria, a Aliança do Norte é formada por tadjiques e uzbeques, grupos de forte representação no norte do país, mas minoritários na região central e no sul. Esse foi o motivo pelo qual não houve objeção para a tomada de Mazar-e-Sharif, por exemplo, cidade cravada em região predominantemente uzbeque.
Em Cabul, a maioria da população é pashtu, principal etnia afegã, e contrária à presença da Aliança -no período em que os atuais rebeldes controlaram Cabul, no início dos anos 90, cerca de 50 mil moradores morreram.
Christopher Langton, um dos diretores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos havia dito, antes da tomada de Cabul,
que seria muito difícil para a Aliança não avançar em direção a Cabul, apesar dos apelos dos EUA. "Os rebeldes estão em um grande momento, e haverá muita pressão para continuar", antecipou o analista


Com agências internacionais

Texto Anterior: Três jornalistas são mortos no Afeganistão
Próximo Texto: Mazar-e-Sharif é alvo de saques e sequestros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.