|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LINHA DE FRENTE
Aliança do Norte entra na capital Cabul
Rebeldes tomam prédios do governo, e milícias do Taleban deixam a cidade em direção a Candahar
DA REDAÇÃO
Os rebeldes da Aliança do Norte
entraram pela manhã (madrugada de hoje no horário de Brasília)
em Cabul, a capital do Afeganistão, tomando vários prédios do
governo, ocupados pelo Taleban.
"Tomamos Cabul" gritava um
combatente da Aliança do Norte
numa das ruas do centro da cidade. "Nós temos os principais prédios governamentais", disse outro. "Estamos perseguindo o Taleban", acrescentou.
As tropas da Aliança do Norte
estavam estacionadas durante à
noite a 6 km da entrada oeste da
cidade e a 20 km da entrada leste e
não atenderam o pedido dos EUA
para não ocupar a capital até que
fossem realizadas as negociações
para a formação de um novo governo.
As tropas do Taleban foram vistas deixando Cabul numa longa
fila de tanques e veículos de combate em direção à cidade de Candahar, onde estão os líderes da
milícia.
De acordo com relatos, os rebeldes da Aliança do Norte estão em
caminhões repletos de soldados
armados de fuzis e lança-foguetes,
mas não tiveram de enfrentar resistência. Nas ruas, homens tiraram seus turbantes, em sinal de
adesão às forças de oposição.
As tropas da Aliança do Norte,
que estavam concentradas em Bagram, chegaram às imediações de
Cabul após dez horas de combate,
em que 6.000 rebeldes lutaram
contra os soldados do Taleban.
Combates
O combates mais intensos ocorreram na rota para a entrada leste
de Cabul. O ataque teria sido mais
tranquilo pelo oeste devido ao recuo de comandantes do Taleban.
Durante a ofensiva, os EUA, que
vinham bombardeando a zona de
combate perto de Bagram, suspenderam seus ataques. Em sinal
de ação coordenada, os aviões dos
EUA passaram a atacar alvos do
Taleban dentro da capital.
Foram lançadas ao menos três
bombas -uma delas atingiu a casa do governador taleban de Cabul, o mulá Abdul Manan Niazi,
que, segundo informações preliminares, não estava no local.
A evolução da Aliança em direção a Cabul havia sido confirmada ontem pelo Taleban. O embaixador da milícia no Paquistão,
Abdul Salam Zaeef, disse: "É verdade que as forças de oposição
romperam a linha de frente, mas
o Taleban criou uma nova linha,
que está reforçada".
Moradores de Cabul e um repórter da agência de notícias
"Reuters" afirmaram ter visto dezenas de veículos do Taleban
saindo da capital, em direção à estrada que leva a Candahar, no sul
do Afeganistão.
Futuro governo
O chanceler Abdullah Abdullah
declarou que o próximo passo da
Aliança do Norte será debater a
criação de uma frente política ampla capaz de governar o Afeganistão após a queda do Taleban.
"Com os eventos dos últimos
dias, tornou-se urgente discutir
um programa que represente
uma solução para o país", afirmou Abdullah.
Seu discurso conciliador parece
afinado com os interesses da coalizão liderada pelos EUA. O pedido de Washington para que os rebeldes não entrem em Cabul está
ligado à questão das divisões étnicas do Afeganistão.
Em sua maioria, a Aliança do
Norte é formada por tadjiques e
uzbeques, grupos de forte representação no norte do país, mas
minoritários na região central e
no sul. Esse foi o motivo pelo qual
não houve objeção para a tomada
de Mazar-e-Sharif, por exemplo,
cidade cravada em região predominantemente uzbeque.
Em Cabul, a maioria da população é pashtu, principal etnia afegã, e contrária à presença da
Aliança -no período em que os
atuais rebeldes controlaram Cabul, no início dos anos 90, cerca
de 50 mil moradores morreram.
Christopher Langton, um dos
diretores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos havia
dito, antes da tomada de Cabul,
que seria muito difícil para a
Aliança não avançar em direção a
Cabul, apesar dos apelos dos
EUA. "Os rebeldes estão em um
grande momento, e haverá muita
pressão para continuar", antecipou o analista
Com agências internacionais
Texto Anterior: Três jornalistas são mortos no Afeganistão Próximo Texto: Mazar-e-Sharif é alvo de saques e sequestros Índice
|