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Governo não tem plano contra sequestro, diz ONG
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O governo Álvaro Uribe, iniciado há três meses, vem comemorando resultados importantes de
sua política de pulso firme contra
os grupos armados ilegais, mas,
até agora, não apresentou um plano concreto de combate aos sequestros. A avaliação é de David
Buitrago, diretor jurídico da Fundação País Livre, organização
não-governamental de apoio a sequestrados e familiares.
Apesar das críticas, ele elogia a
posição de Uribe de não ceder às
pressões para trocar sequestrados
por guerrilheiros presos, como
desejam as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
A Colômbia é o país com o
maior número de sequestros no
mundo -cerca de 3.000 por ano.
Ao redor de mil pessoas estão
atualmente em cativeiro.
Leia a seguir entrevista concedida ontem por Buitrago à Folha,
por telefone, de Bogotá:
Folha - A Colômbia já está há mais
de 90 dias em estado de exceção,
período no qual o governo adotou
uma série de medidas para combater a violência. O sequestro do
monsenhor Jorge Jiménez indica
que o governo falhou?
David Buitrago - Até agora, o governo está assumindo uma posição ofensiva, que vem se traduzindo em resultados como capturas e mortes de rebeldes e uma diminuição de 12% no número de
sequestros. Porém ainda não se
conhece a política do governo para enfrentar os sequestros.
Folha - A atitude do governo de
rechaçar as propostas de troca de
sequestrados por rebeldes presos é
positiva ou negativa para o controle desse tipo de crime?
Buitrago - Eventuais acordos para a troca de sequestrados por
guerrilheiros seriam inconvenientes para o país, porque poderiam estimular os sequestros. Um
acordo somente seria aceitável se
fossem incluídos todos os sequestrados, de uma só vez e com o
compromisso de que acabem definitivamente com os sequestros.
Folha - Esse sequestro indica que
as Farc estão centrando seus esforços em alvos mais valiosos como
moeda de troca e deixando de lado
os sequestros em massa?
Buitrago - Esse é um comportamento que as Farc podem assumir, buscando pessoas específicas
com valor representativo em termos políticos ou econômicos.
Neste momento, as Farc mantêm
silêncio total. Não sabemos se estão se reestruturando, se estão
preparando alguma grande ofensiva ou em que condição estão.
Folha - Até agora, a guerrilha vinha respeitando membros da igreja. Esse sequestro mostra a derrubada dessa barreira?
Buitrago - Acho que essa linha já
foi ultrapassada há muito tempo.
Ainda não se conhece a motivação do sequestro do monsenhor
Jiménez, mas esperamos que tenha sido um engano e que ele seja
libertado logo. É inadmissível que
um membro da igreja seja sequestrado, ainda mais em um país como a Colômbia, onde a igreja tem
a importância que tem.
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