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Derrota de Cristina sela fim de trégua
Presidente da Argentina vê seu projeto de Orçamento derrubado pela Câmara, 18 dias após a morte do marido
Oposição acusa Casa Rosada de subornar deputados e subestimar dados; governo nega e promete investigação
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
A oposição argentina barrou o Orçamento proposto
pela presidente Cristina
Kirchner para 2011 e impôs
anteontem a primeira grande
derrota do governo no Congresso após a morte do ex-presidente Néstor Kirchner
(2003-2007), há 18 dias.
Desde então, os parlamentares vinham adiando votações para render homenagens a Kirchner.
Mas a trégua foi curta e se
encerrou numa sessão tensa
na Câmara dos Deputados,
com troca de acusações e denúncias de suborno.
O Orçamento tornou-se a
grande batalha política pós-luto em razão da discrepância entre a estimativa de arrecadação do Executivo e os
cálculos oposicionistas.
Segundo a oposição, o governo subestimou voluntariamente a inflação e o crescimento do PIB em 2011, para
que o valor arrecadado seja
maior do que o previsto. Assim, sobrariam recursos sem
destino prévio, que permitiriam um gasto arbitrário.
A Casa Rosada prevê orçamento de quase US$ 100 bilhões, considerando inflação
anual de 8,9% e um crescimento de 4,3% na economia.
A oposição estima que a
inflação real poderá chegar a
25%, e o PIB crescerá até 6%.
Essas variações resultariam num extra de US$ 10 bilhões para o orçamento, se o
projeto governista fosse
aprovado.
TUDO OU NADA
Também há divergências
em outros dois temas. Cristina quer usar reservas do Banco Central para pagar a dívida pública e não prevê recursos para aumentar as aposentadorias.
Apesar de ter minoria nas
duas Casas do Congresso, o
governo decidiu ir para o tudo ou nada. Levou a proposta
para o plenário e foi derrotado por 117 a 112 votos.
Antes da votação, no entanto, a Casa Rosada tentou
reverter a situação com uma
série de telefonemas para deputados opositores.
Deixaram o prédio durante a votação 12 opositores, o
que gerou as denúncias de
suborno.
A deputada Cyntia Hotton,
ligada ao vice-presidente e
símbolo da oposição, Julio
Cobos, disse durante a sessão que havia recebido um
telefonema de um funcionário do governo.
Segundo ela, que não revelou o interlocutor, a oferta
incluía financiamento de
projetos, contratos e, implicitamente, propina.
A líder oposicionista Elisa
Carrió disse que o governo
"comprou" deputados para
não votar e comparou o caso
com a aprovação da chamada "Lei Banelco", em 2000,
quando o governo de Fernando de La Rua foi acusado
de subornar senadores para
flexibilizar leis trabalhistas.
O chefe de gabinete de
Cristina, Aníbal Fernandez,
negou que o governo tenha
feito qualquer tipo de oferta
aos opositores, mas disse
que tem liberdade para "conversar" e "tentar convencer"
qualquer deputado.
Fernandez também disse
que o projeto do governo é
"pessimista" em termos econômicos para evitar futuros
cortes de gastos.
A oposição pediu a investigação do caso. O Orçamento
voltou à comissão técnica,
onde deve sofrer alterações.
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