São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2010

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Derrota de Cristina sela fim de trégua

Presidente da Argentina vê seu projeto de Orçamento derrubado pela Câmara, 18 dias após a morte do marido

Oposição acusa Casa Rosada de subornar deputados e subestimar dados; governo nega e promete investigação

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

A oposição argentina barrou o Orçamento proposto pela presidente Cristina Kirchner para 2011 e impôs anteontem a primeira grande derrota do governo no Congresso após a morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), há 18 dias.
Desde então, os parlamentares vinham adiando votações para render homenagens a Kirchner.
Mas a trégua foi curta e se encerrou numa sessão tensa na Câmara dos Deputados, com troca de acusações e denúncias de suborno.
O Orçamento tornou-se a grande batalha política pós-luto em razão da discrepância entre a estimativa de arrecadação do Executivo e os cálculos oposicionistas.
Segundo a oposição, o governo subestimou voluntariamente a inflação e o crescimento do PIB em 2011, para que o valor arrecadado seja maior do que o previsto. Assim, sobrariam recursos sem destino prévio, que permitiriam um gasto arbitrário.
A Casa Rosada prevê orçamento de quase US$ 100 bilhões, considerando inflação anual de 8,9% e um crescimento de 4,3% na economia.
A oposição estima que a inflação real poderá chegar a 25%, e o PIB crescerá até 6%.
Essas variações resultariam num extra de US$ 10 bilhões para o orçamento, se o projeto governista fosse aprovado.

TUDO OU NADA
Também há divergências em outros dois temas. Cristina quer usar reservas do Banco Central para pagar a dívida pública e não prevê recursos para aumentar as aposentadorias.
Apesar de ter minoria nas duas Casas do Congresso, o governo decidiu ir para o tudo ou nada. Levou a proposta para o plenário e foi derrotado por 117 a 112 votos.
Antes da votação, no entanto, a Casa Rosada tentou reverter a situação com uma série de telefonemas para deputados opositores.
Deixaram o prédio durante a votação 12 opositores, o que gerou as denúncias de suborno.
A deputada Cyntia Hotton, ligada ao vice-presidente e símbolo da oposição, Julio Cobos, disse durante a sessão que havia recebido um telefonema de um funcionário do governo.
Segundo ela, que não revelou o interlocutor, a oferta incluía financiamento de projetos, contratos e, implicitamente, propina.
A líder oposicionista Elisa Carrió disse que o governo "comprou" deputados para não votar e comparou o caso com a aprovação da chamada "Lei Banelco", em 2000, quando o governo de Fernando de La Rua foi acusado de subornar senadores para flexibilizar leis trabalhistas.
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernandez, negou que o governo tenha feito qualquer tipo de oferta aos opositores, mas disse que tem liberdade para "conversar" e "tentar convencer" qualquer deputado.
Fernandez também disse que o projeto do governo é "pessimista" em termos econômicos para evitar futuros cortes de gastos.
A oposição pediu a investigação do caso. O Orçamento voltou à comissão técnica, onde deve sofrer alterações.


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