São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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Terrorismo ataca Exército libanês

Carro-bomba mata em Beirute o general François El Hadj, cotado para a chefia das Forças Armadas

Ataque não é reivindicado; suspeitos incluem grupo radical palestino Fatah al Islam, contra o qual militar liderou ação em setembro

DA REDAÇÃO

A explosão de um carro-bomba matou ontem em Baabda, bairro cristão de Beirute, o general François El Hadj, 54. Ele era tido como favorito para substituir como chefe das Forças Armadas o general Michel Suleiman, que poderá ser eleito presidente do Líbano na próxima semana.
O atentado, que não foi reivindicado e sobre o qual não há desta vez a suspeita imediata de participação da Síria, matou também dois guarda-costas do militar. A morte dele coincide com a crise política nascida da dificuldade de encontrar um sucessor a Emile Lahoud, que deixou a chefia do Estado em 23 de novembro.
Há duas semanas o nome de Suleiman se tornou consensual entre partidários e adversários do regime sírio, mas a sessão do Parlamento que deveria referendá-lo foi pela oitava vez postergada anteontem.
A última grande missão de El Hadj havia sido a neutralização, em setembro, de rebeldes palestinos do Fatah al Islam, no campo de Nahr al Bared, ao norte do país. No longo confronto morreram 168 militares e 230 radicais, que reivindicavam ser próximos da Al Qaeda.
O grupo é citado entre os suspeitos do atentado, embora o "Financial Times" afirme que o Fatah al Islam só agiria com o acordo da Síria, que, dentro da confusa correlação de forças no Líbano, divide a suspeição com todos os demais protagonistas que disputam o poder.
François El Hadj, que ocupava a estratégica posição de chefe de operações do Exército, é a nova vítima de uma série de assassinatos iniciada em fevereiro de 2005, quando foi morto o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, que se tornara adversário das ingerências da ditadura de Damasco. Antes do militar agora assassinado, a última personalidade vitimada era, em setembro, o deputado cristão Antoine Chanem.
Pelas tensões que deverá acirrar, ou mesmo pelo automatismo das reações, o atentado foi condenado de maneira praticamente unânime.

Até Hizbollah condena
O Hizbollah, partido radical islâmico com forte implantação social, exortou o país a "se unir em torno do Exército e de seu papel nacional e a trabalhar de modo sério e eficaz na busca de um consenso político". Na Síria, o chanceler Walid al Moualem qualificou o atentado de "ato criminoso".
Em Washington, um dos assessores da Casa Branca disse que o presidente George W. Bush "continuará a se colocar ao lado do povo libanês, para se contrapor aos projetos dos que procuram prejudicar sua segurança e sua liberdade".
O chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner, afirmou que o atentado terrorista foi "covarde" e disse que a vítima representava uma instituição, as Forças Armadas, que desfruta do respeito unânime dos libaneses.
O governo brasileiro, por meio de nota do Itamaraty, também condenou "com veemência o atentado" e solidarizou-se com as famílias das vítimas. "O Brasil reitera seu apelo em prol da concórdia e do diálogo entre as diferentes forças políticas libanesas e respalda os esforços das autoridades locais para investigar, processar e punir os responsáveis pelos atentados ocorridos nos últimos meses", diz o texto.
El Hadj era cristão maronita, grupo religioso que em geral detém a chefia das Forças Armadas, em uma complexa estrutura de partilha do poder. O presidente da República deve pertencer ao mesmo grupo.
O premiê Fuad Siniora, muçulmano sunita e aliado dos ocidentais -e há meses sob a oposição da Síria e do Hizbollah, que querem destituí-lo de seu cargo-, afirmou que "o Exército foi tomado como alvo em razão do papel que exerce para assegurar a estabilidade do país".
Por sua vez, o mais que provável futuro presidente, Michel Suleiman, limitou-se a distribuir comunicado em que afirma que "o povo libanês não sucumbirá ao terrorismo".
Na mesma linha, o ex-general cristão Michel Aoun, hoje mais próximo da Síria e adversário do premiê, disse que a segurança interna no Líbano é "catastrófica" e que o general morto era a quem ele apoiaria para o comando do Exército.
Segundo o Ministério do Interior, uma bomba de 35 kg foi colocada num BMW e detonada por controle remoto, quando por ele passou o jipe que transportava o general. El Hadj morreu instantaneamente.


Com agências internacionais


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