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Terrorismo ataca Exército libanês
Carro-bomba mata em Beirute o general François El Hadj, cotado para a chefia das Forças Armadas
Ataque não é reivindicado;
suspeitos incluem grupo radical palestino Fatah al Islam, contra o qual militar liderou ação em setembro
DA REDAÇÃO
A explosão de um carro-bomba matou ontem em Baabda, bairro cristão de Beirute, o
general François El Hadj, 54.
Ele era tido como favorito para
substituir como chefe das Forças Armadas o general Michel
Suleiman, que poderá ser eleito
presidente do Líbano na próxima semana.
O atentado, que não foi reivindicado e sobre o qual não há
desta vez a suspeita imediata de
participação da Síria, matou
também dois guarda-costas do
militar. A morte dele coincide
com a crise política nascida da
dificuldade de encontrar um
sucessor a Emile Lahoud, que
deixou a chefia do Estado em
23 de novembro.
Há duas semanas o nome de
Suleiman se tornou consensual
entre partidários e adversários
do regime sírio, mas a sessão do
Parlamento que deveria referendá-lo foi pela oitava vez postergada anteontem.
A última grande missão de El
Hadj havia sido a neutralização, em setembro, de rebeldes
palestinos do Fatah al Islam, no
campo de Nahr al Bared, ao
norte do país. No longo confronto morreram 168 militares
e 230 radicais, que reivindicavam ser próximos da Al Qaeda.
O grupo é citado entre os suspeitos do atentado, embora o
"Financial Times" afirme que o
Fatah al Islam só agiria com o
acordo da Síria, que, dentro da
confusa correlação de forças no
Líbano, divide a suspeição com
todos os demais protagonistas
que disputam o poder.
François El Hadj, que ocupava a estratégica posição de chefe de operações do Exército, é a
nova vítima de uma série de assassinatos iniciada em fevereiro de 2005, quando foi morto o
ex-primeiro-ministro Rafik
Hariri, que se tornara adversário das ingerências da ditadura
de Damasco. Antes do militar
agora assassinado, a última
personalidade vitimada era, em
setembro, o deputado cristão
Antoine Chanem.
Pelas tensões que deverá
acirrar, ou mesmo pelo automatismo das reações, o atentado foi condenado de maneira
praticamente unânime.
Até Hizbollah condena
O Hizbollah, partido radical
islâmico com forte implantação social, exortou o país a "se
unir em torno do Exército e de
seu papel nacional e a trabalhar
de modo sério e eficaz na busca
de um consenso político". Na
Síria, o chanceler Walid al
Moualem qualificou o atentado
de "ato criminoso".
Em Washington, um dos assessores da Casa Branca disse
que o presidente George W.
Bush "continuará a se colocar
ao lado do povo libanês, para se
contrapor aos projetos dos que
procuram prejudicar sua segurança e sua liberdade".
O chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner, afirmou que o atentado terrorista
foi "covarde" e disse que a vítima representava uma instituição, as Forças Armadas, que
desfruta do respeito unânime
dos libaneses.
O governo brasileiro, por
meio de nota do Itamaraty,
também condenou "com veemência o atentado" e solidarizou-se com as famílias das vítimas. "O Brasil reitera seu apelo
em prol da concórdia e do diálogo entre as diferentes forças
políticas libanesas e respalda os
esforços das autoridades locais
para investigar, processar e punir os responsáveis pelos atentados ocorridos nos últimos
meses", diz o texto.
El Hadj era cristão maronita,
grupo religioso que em geral
detém a chefia das Forças Armadas, em uma complexa estrutura de partilha do poder. O
presidente da República deve
pertencer ao mesmo grupo.
O premiê Fuad Siniora, muçulmano sunita e aliado dos
ocidentais -e há meses sob a
oposição da Síria e do Hizbollah, que querem destituí-lo de
seu cargo-, afirmou que "o
Exército foi tomado como alvo
em razão do papel que exerce
para assegurar a estabilidade
do país".
Por sua vez, o mais que provável futuro presidente, Michel
Suleiman, limitou-se a distribuir comunicado em que afirma que "o povo libanês não sucumbirá ao terrorismo".
Na mesma linha, o ex-general cristão Michel Aoun, hoje
mais próximo da Síria e adversário do premiê, disse que a segurança interna no Líbano é
"catastrófica" e que o general
morto era a quem ele apoiaria
para o comando do Exército.
Segundo o Ministério do Interior, uma bomba de 35 kg foi
colocada num BMW e detonada por controle remoto, quando por ele passou o jipe que
transportava o general. El Hadj
morreu instantaneamente.
Com agências internacionais
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