São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Agência da ONU diz que precisa de 6 a 12 meses para concluir trabalho; EUA não vêem cronograma definido

Inspetores querem mais tempo no Iraque

DA REDAÇÃO

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse ontem que os inspetores de armas da ONU precisam de seis meses a um ano para completar seu trabalho no Iraque, apesar das pressões dos EUA para que finalizem rapidamente sua missão.
"Estamos trabalhando dentro das linhas de tempo que nos foram dadas pelas resoluções 1284 e 1441 do Conselho de Segurança (CS) da ONU", disse Mark Gwozdecky, porta-voz da AIEA.
"Levará entre seis e 12 meses para alcançarmos uma posição segundo a qual o CS poderia suspender as sanções." O diretor da AIEA, Mohamed El Baradei, disse que há "muita ansiedade para que terminemos nosso trabalho o mais rápido possível". E acrescentou: "Precisamos de alguns meses (...) Quanto tempo levará depende da cooperação do Iraque".
O tempo que será dado aos inspetores -que ontem visitaram faculdades de ciência e tecnologia em Bagdá- é um dos principais pontos das discussões diplomáticas sobre a crise iraquiana.
Enquanto os EUA aceleram o envio de tropas, os países que desejam frear a corrida rumo à guerra argumentam que qualquer ofensiva só seria justificada depois de comprovado pela ONU que Saddam Hussein tenta desenvolver armas de destruição em massa, vetadas pelas resoluções. Os inspetores dizem que ainda não encontraram provas disso.
O chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix, admitiu ontem estar preocupado com a pressão exercida pelo movimento de tropas dos EUA. "Todos sentem que há um certo impulso numa escalada militar como essa, e podemos todos ficar ansiosos e preocupados com isso", disse Blix. "Eu represento o desarmamento por meio de inspeções, e faremos o nosso melhor para seguir nessa linha."
Ele afirmou que os inspetores ampliaram as buscas e visitaram novos lugares em razão da cooperação de alguns países, que lhes passaram dados de inteligência.
Os diretores da AIEA e da Unmovic (órgão da ONU que busca as armas químicas e biológicas iraquianas) devem apresentar em 27 de janeiro ao CS um parecer sobre as inspeções e a cooperação iraquiana. Representantes dessas agências dizem que a data não deve ser vista como o momento de definição final das inspeções.
A Casa Branca afirmou ontem que o presidente George W. Bush não quer fixar data para o fim das inspeções. "O presidente acha importante que os inspetores façam o seu trabalho e tenham tempo para isso", disse um porta-voz.
Autoridades americanas dizem que fatores políticos e logísticos podem adiar por meses o início de um ataque. Observadores militares argumentam que, com o envio de mais cerca de 60 mil soldados à região, Bush em breve terá de optar: ou dá ordens para agir, ou os chama de volta. Mantê-los no Golfo por muito tempo significaria custos muito altos.
Já o premiê britânico, Tony Blair, afirmou que não quer impor um "cronograma arbitrário" sobre o trabalho dos inspetores. Aliado de Bush, Blair enfrenta oposição à guerra dentro do seu Partido Trabalhista e uma opinião pública que só apóia a guerra se houver aprovação da ONU.
Uma pesquisa de opinião do instituto YouGov mostrou que apenas 13% dos britânicos aprovariam ofensiva sem o aval do CS. E 58% não consideram Saddam uma ameaça que justifique o início de um conflito. O premiê enfatizou que deseja ver a questão negociada na ONU, mas não descartou a possibilidade de Washington e Londres agirem de forma independente. Blair disse que a gravidade da ameaça iraquiana o impossibilita de ser contido por um "bloqueio insensato" de algum outro país a uma resolução da ONU autorizando o ataque.

Bombardeio
Bagdá anunciou ontem que seis pessoas ficaram feridas num bombardeio de jatos britânicos e americanos contra um alvo civil na zona de exclusão aérea no sul do país. Os EUA dizem que atacaram uma base de mísseis que ameaçava embarcações no Golfo.
Autoridades militares americanas declararam ao "The New York Times" que receberam ameaça terrorista contra as tropas que estão sendo transferidas ao Oriente Médio. A segurança foi reforçada para evitar atentados.


Com agências internacionais


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