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Hugo Chávez reitera proposta
de status político para as Farc
Presidente procura se explicar em programa na TV: "sou contra o seqüestro"
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
"Eu também sou contra o seqüestro. Me parece horrível.
Não estou de acordo com manter uma pessoa anos em uma
selva, algumas morrendo. Isso
me parece contra a natureza
humana." O presidente Hugo
Chávez, da Venezuela, tratou
ontem, durante a transmissão
da edição de número 300 do
programa dominical "Alô Presidente", de se explicar.
Ele, que ontem na imprensa
venezuelana de oposição era
chamado de "patrono das Farc"
e de "chanceler dos guerrilheiros" por causa da proposta que
fez de que o governo do presidente Álvaro Uribe reconheça
as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como
"força insurgente", tratou de
dizer que é contra os seqüestros e que seu objetivo é "humanizar a guerra". O governo
colombiano qualifica as Farc
como "organização terrorista".
Chávez falou por mais de 70
minutos sobre a Colômbia, que
nesta semana viveu as emoções
da libertação de duas reféns
-Clara Rojas (mãe do pequeno
Emmanuel, filho que teve com
um guerrilheiro) e Consuelo
González de Perdomo, depois
de seis anos de cativeiro.
A ex-parlamentar Consuelo
González fez questão de estar
na platéia de Chávez, no Estado
de Guárico, a mais de seis horas
de viagem de Caracas.
Exatamente quando o programa começou, às 11h, a ex-refém Clara Rojas saiu do hotel
Gran Meliá, na capital venezuelana, onde esteve hospedada
desde o resgate, acompanhada
pela mãe e pelo irmão. "Espero
poder almoçar com Emmanuel
daqui a pouco", disse ela, no
pescoço um colar com a imagem do filho aos 8 meses, que
lhe foi dada de presente por um
guerrilheiro.
Segundo Chávez, sua proposta de reconhecimento das Farc
como "força beligerante" serviria ao propósito de "humanizar
a guerra", embora ele admita
que a expressão é infeliz ("Como se pode humanizar a morte?"). "Na Colômbia, trata-se de
uma guerra civil. E a minha
proposta é que essa guerra seja
regulada pelos protocolos de
Genebra. Reconhecer o estado
de beligerância das Farc, e se as
Farc o aceitam, seria o mesmo
que obrigá-las a respeitar os
protocolos de Genebra. Não se
poderia, por exemplo, utilizar o
seqüestro. Eu não compartilho
a idéia de usar seqüestros."
"Manuel Marulanda, o Tirofijo [líder máximo das Farc] seria levado a percorrer o caminho da paz. Eu mesmo lhe diria
para fazê-lo", acrescentou. "Esse é o caminho para a paz, já
que a saída do extermínio por
força militar não funcionou nos
últimos 50 anos."
Consuelo González durante
toda essa parte do discurso do
presidente venezuelano era focalizada pelas câmeras da TV
governamental. Sorria discretamente ao perceber que estava
sendo filmada.
Mas ela fez questão de interromper Chávez para lhe pedir
que atue junto aos guerrilheiros para que os reféns sejam libertados o quanto antes. "Se o
senhor puder estabelecer uma
conversação com as Farc, faça-os entender que não pode ser
que uma luta revolucionária,
em que o homem deveria ser o
centro, inclua atos como o seqüestro, que viola a dignidade
humana."
Segundo Chávez, "chamam
as Farc de terroristas porque
lançam bombas e matam gente.
Mas hoje ficamos sabendo do
ataque de três ou quatro
[aviões] F-16 contra uma aldeia
iraquiana que dizimaram a população. E eles não são terroristas? Isso é cinismo", disse.
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