São Paulo, sexta, 14 de fevereiro de 1997.

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ENCONTRO
Presidente deposto do Equador se reúne a portas fechadas com Carlos Menem; Cavallo elogia ``El Loco''
Argentina reforça apoio a Bucaram

RODRIGO BERTOLOTTO
de Buenos Aires


O presidente deposto do Equador, Abdalá Bucaram, chegou ontem à Argentina e transportou para esse país o clima de discórdia.
Enquanto Bucaram se reunia com o presidente Carlos Menem, o ex-presidente Raúl Alfonsín chamava o povo às ruas, caso seja aprovada a segunda reeleição de Menem pelo Congresso.
``Menem passaria a ser um usurpador, e teríamos de ir com o povo até a Casa Rosada e dizer isso a ele'', disse Alfonsín. Ontem mesmo, o ex-presidente foi processado por incitamento à rebelião.
As declarações de Alfonsín foram uma reação ao projeto de lei do senador ultramenemista Jorge Yoma, que regulamenta os plebiscitos. Isso seria o primeiro passo para uma mudança na Constituição do país que possibilitaria a ``re-reeleição'' de Menem em 1999. Menem chegou ao poder em 1989, sucedendo Alfonsín, e se reelegeu presidente em 1995.
Em seu giro latino-americano, Bucaram desembarcou ontem pela manhã no aeroporto de Ezeiza e almoçou com Menem na residência oficial de Olivos.
O encontro foi classificado como uma visita privada. ``Alarcón é um ditador. Que eu saiba, ele não me venceu em nenhuma eleição'', disse o ex-mandatário equatoriano antes de reunir com Menem e o chanceler Guido di Tella.
``Admiro muitíssimo Carlitos Menem. Ele é um exemplo para a América e para o mundo.''
Bucaram disse que vai ficar no país até domingo para assistir uma partida entre os times Boca Juniors e River Plate.
Ele falou do fracasso na implantação de seu plano econômico, inspirado no similar argentino e monitorado pelo próprio Domingo Cavallo, mentor do plano que igualou o peso ao dólar e interrompeu a hiperinflação argentina.
``A oposição foi contra o plano porque não suportava a idéia de trabalhar'', afirmou Bucaram, que tem o apelido de ``El Loco''.
Reação de Cavallo
Em um almoço com investidores de Wall Street, Cavallo classificou de ``irresponsáveis'' os líderes equatorianos que destituíram seu cliente. O caos institucional do país andino foi tratado com ironia pelos empresários. Cavallo disse não estar arrependido de ter auxiliado o governo Bucaram. ``Ele tem um estilo bem conhecido e não mudou quando foi eleito.''
Disse ainda que o plano de convertibilidade não chegou a ser aplicado, e o aumento de preços dos serviços públicos, decretado por Bucaram, era uma necessidade.
Cavallo elogiou o apoio de Menem a Bucaram, a quem caracterizou como um ``líder que tem o apoio dos setores marginais da população e está mais capacitado para levar a cabo mudanças do que os políticos tradicionais''.

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