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Sri Lanka confina minoria tâmil em campos
Governo cerca rebeldes separatistas após 26 anos de guerra civil; tâmil se mata na ONU em protesto contra "genocídio"
32 mil flagelados da guerra estão em campos militares; governo planeja manter 200 mil cercados para investigar ligação com o Tigres Tâmeis
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O Sri Lanka divulgou planos
para confinar cerca de 200 mil
civis tâmeis, moradores do último reduto rebelde no noroeste
do país, após o fim da guerra civil. Cidadãos do Sri Lanka, eles
terão de permanecer em "vilas"
controladas por militares, até
serem investigados e liberados
pelo Exército se não tiverem laços com o Tigres de Libertação
do Tâmil Eelam (TLTE).
Os 32 mil civis que escaparam da linha de frente estão retidos em campos controlados
pelo Exército. O governo afirmara que os tâmeis ficariam
em "vilas" por dois ou três anos.
Sob pressão da ONU, prevê
agora que 80% sejam reassentados ainda em 2009.
"É urgente liberar os deslocados pela guerra", disse à Folha o diretor da Human Rights
Watch na Ásia, Brian Adam. O
conflito entre a maioria cingalesa, hegemônica no governo, e
rebeldes tâmeis já matou mais
de 70 mil desde 1983.
Cercados por 50 mil militares e reduzidos a cerca de 2.000
combatentes exaustos, os rebeldes descartam a rendição.
Mas na capital Colombo, a população festeja o que o governo
anuncia desde janeiro como
ofensiva final contra os Tigres
Tâmeis, responsáveis por centenas de atentados suicidas.
"Estão empurrando os Tigres
Tâmeis para a selva. Mas isso
tornará o Sri Lanka mais seguro?", questiona Adam, lembrando que o grupo pode continuar a realizar atentados na
clandestinidade. Para o analista, há risco de acirramento do
radicalismo tâmil com a adoção
de medidas discriminatórias.
Um homem ateou fogo ao
próprio corpo ontem, em frente à sede da ONU em Genebra,
em protesto contra a ofensiva
militar cingalesa, classificada
como "genocídio" pelos tâmeis.
Há duas semanas, tâmeis se
reúnem em frente ao prédio
para cobrar uma intervenção.
Radicalização
A radicalização atinge também cingaleses étnicos, majoritários. A sede do Comitê Internacional da Cruz Vermelha
(CICV) em Colombo foi apedrejada na semana passada,
após apelos do órgão pelo fim
dos bombardeios a hospitais.
"Felizmente, ninguém ficou
ferido", disse Sarasi Wijeratne,
do CIVC, que preferiu não comentar a política de confinamento ou a autoria dos ataques
aéreos. "Queremos trabalhar
com as autoridades", disse à
Folha, lembrando a neutralidade histórica da organização.
A ONU denunciou o bombardeio de um hospital improvisado para tratar civis em Putumattalan, declarada "zona neutra" pelo governo. Em Puthukkudiyiruppu, um hospital controlado por rebeldes foi bombardeado repetidas vezes.
O conflito entre tâmeis e cingaleses no Sri Lanka radicalizou-se na década de 1970, mas
remete à independência do jugo britânico, em 1948, que acirrou o nacionalismo cingalês. O
antigo Ceilão, pouco maior que
a Paraíba, é habitado por cingaleses (74%), tâmeis e moors
(muçulmanos descendentes de
árabes e tâmeis).
Na década de 1950, o cingalês
tornou-se língua oficial, restringindo o acesso de minorias
ao serviço público e à educação
superior. A homogeneização
cultural imposta pela Constituição nacionalista de 1972, que
dava prioridade ao budismo
(religião da maioria cingalesa),
agravou as tensões étnicas.
A discriminação fomentou a
criação de 30 grupos armados
tâmeis. Nenhum, porém, alcançou a notoriedade do TLTE.
Fundado em 1976 por Velupillai Prabhakaran, 21 anos, o
grupo é o principal herdeiro do
movimento de "tigres tâmeis",
levante juvenil contra a Carta
de 1972. A revolta marcou a
ruptura com a resistência pacífica, adotada até então pelos líderes tâmeis da ilha.
Pioneiros em ataques com
homens-bomba, os Tigres Tâmeis declararam guerra ao Estado cingalês em 1983, resistiram a tropas indianas de 1988 a
1991 e funcionavam com um
Estado paralelo no noroeste da
ilha, com Exército, Marinha e
sistema judiciário próprios.
O TLTE foi legalizado em
2002, com um cessar-fogo mediado pela Noruega prevendo
progressiva autonomia para as
regiões tâmeis, sem partição da
ilha. Desrespeitado desde
2006, o acordo foi revogado no
ano passado pelo presidente
Mahinda Rajapaksa, que lançou ofensiva contra o grupo.
Com agências internacionais
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