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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Diplomacia ganha tempo, mas texto pode não ser votado, diz Powell; Washington e Londres se irritam com Paris

EUA admitem adiar voto ou retirar resolução

Larry Downing/Reuters
O presidente George W. Bush participa de evento na Casa Branca; os EUA já admitem não submeter resolução pró-guerra à votação


DA REDAÇÃO

O governo dos EUA disse ontem que admite adiar a votação da nova resolução sobre a questão iraquiana, que abre caminho para a guerra contra o Iraque, ou nem mesmo apresentar o texto para votação no Conselho de Segurança da ONU (CS), após perceber que a oposição ao conflito continua firme apesar das propostas de emendar o texto para convencer os países do CS ainda indecisos.
Ainda sem apoio suficiente à resolução que daria ao Iraque mais alguns dias para cumprir as exigências de desarmamento ou enfrentar um ataque, a Casa Branca reconheceu que os esforços diplomáticos podem durar até a próxima semana. Até anteontem, Washington dizia que a votação ocorreria até hoje.
Porém o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse que o governo americano também poderia nem apresentar a resolução, que conta ainda com a assinatura do Reino Unido e da Espanha, para votação no CS, lançando a ofensiva militar com base em resoluções precedentes do órgão. De acordo com Powell, os EUA liderariam uma "coalizão dos dispostos" a fazer a guerra.
"As opções continuam abertas. Podemos ir à votação para ver o que os [outros] membros [do CS] dizem ou nem fazer a votação. Estudaremos todas as possibilidades amanhã [hoje] e no final da semana", afirmou Powell.
Bush havia dito antes que iria levar a resolução à votação de qualquer jeito. De acordo com especialistas, a hipótese de Washington abandonar os esforços diplomáticos -e a busca da anuência da ONU- poderá apressar o início da guerra. Afinal, sem precisar esperar a evolução das negociações diplomáticas, o presidente dos EUA, George W. Bush, poderá ordenar o início da ofensiva já na próxima semana.
Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, sugeriu que Bush pudesse quebrar a promessa -feita na semana passada- de apresentar a resolução para votação.
Há mais de 200 mil militares americanos e por volta de 40 mil britânicos preparados para invadir o território iraquiano. Bush já afirmou que poderá lançar a ofensiva militar mesmo sem a aprovação da ONU. Por enquanto, apenas os EUA, o Reino Unido, a Espanha e a Bulgária apóiam a nova resolução no CS.
Mas seu maior aliado, o premiê britânico, Tony Blair, busca, desesperadamente, que a ONU aprove a ação para acalmar sua base política no Reino Unido. Para britânicos e americanos, se o texto obtiver 9 dos 15 votos no CS e for vetado, a situação também será razoável, já que o peso de vetar uma decisão majoritária ficará com França ou Rússia.
A obtenção desses 9 votos ficou mais difícil na noite de ontem, quando o chanceler chileno Soledad Alvear anunciou que, se a proposta apresentada for a votação, seu país não irá apoiá-la.
A França, a Alemanha e a Rússia rejeitaram a proposta britânica de exigir que o ditador Saddam Hussein cumpra algumas exigências para evitar o conflito.
Segundo o chanceler francês, Dominique de Villepin, a proposta britânica não toca na "questão-chave de buscar uma resolução pacífica para a crise". "A França rejeita essa lógica de guerra, que prevê o estabelecimento de ultimatos", declarou Villepin. "Não podemos aceitar a proposta porque ela se baseia numa lógica de guerra, numa lógica que permite o uso automático da força."
Segundo o chanceler britânico, Jack Straw, a posição francesa é "extraordinária". Londres expressou irritação com o que chamou de "intransigência francesa".
Fleischer também mostrou exasperação com a França. "Se isso não é um veto descabido, o que seria então?", perguntou o porta-voz da Casa Branca. Ele acusou Paris de "alinhar-se a Saddam".
Mais tarde, Villepin disse que a França está pronta a negociar para manter a unidade do CS: "Queremos uma solução para a crise e buscamos chegar ao consenso".
Bagdá expressou satisfação com as dificuldades diplomáticas enfrentadas por Washington e rejeitou a proposta britânica. Bagdá afirmou que transformará o Iraque num "cemitério americano".

Com agências internacionais


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