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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Previsão é de especialistas americanos, que criticam Bush por não dizer ao país quanto será gasto no Iraque

Pós-guerra pode custar US$ 20 bi anuais

France Presse
Dois aviões S-3B Vikings, da Marinha dos EUA, se preparam para pousar no porta-aviões USS Kitty Hawk, que está no golfo Pérsico


PATRICK E. TYLER
DO "THE NEW YORK TIMES"

O custo de reconstrução do Iraque no pós-guerra será de pelo menos US$ 20 bilhões ao ano e exigirá a presença de longo prazo de algo entre 75 mil e 200 mil soldados para impedir instabilidade generalizada e violência contra antigos membros do regime de Saddam Hussein, afirma estudo de especialistas americanos em segurança nacional.
O relatório foi organizado pelo Council of Foreign Relations (conselho de relações exteriores). O grupo concluiu que o presidente dos EUA, George W. Bush, fracassou em "descrever ao Congresso e ao público americanos a magnitude dos recursos que serão necessários para atender às necessidades pós-conflito" do Iraque.
Funcionários do Pentágono anunciaram que o governo Bush estava planejando incluir soldados e funcionários públicos iraquianos nos esforços de reconstrução do país, pagando-lhes salário. O custo disso não foi revelado.

Riscos
Um dos riscos da ocupação deriva das aspirações de independência curda, no norte do país, o que poderia deflagrar um conflito com a Turquia. Outro deriva das muitas queixas da população xiita contra a minoria sunita que domina o país. A maneira pela qual os líderes políticos serão escolhidos e os recursos petroleiros do Iraque administrados também traz as sementes de um conflito que certamente exigirá recursos norte-americanos significativos.
James Schlesinger, secretário da Defesa de Nixon (1969-74) e Ford (1974-77) e um dos autores do relatório, disse em entrevista que, embora ele estivesse razoavelmente confiante em que as forças militares americanas triunfariam em uma guerra curta contra Saddam Hussein, estava profundamente preocupado com a falta de disposição do governo Bush quanto a falar francamente sobre os custos e tarefas imensos que terão de ser enfrentados depois da guerra. "Não está claro para mim que o povo americano compreenda que estaremos engajados por muito tempo, se desejamos sucesso nessa empreitada."

Alimentação
O relatório destaca, especialmente, a falta de planejamento e os recursos inadequados dedicados à frente humanitária depois da guerra. Ainda que Bush tenha criado um novo Serviço de Reconstrução e Assistência Humanitária no Departamento da Defesa, o planejamento geral das agências internacionais, como o Programa Mundial de Alimentação, mostra que apenas US$ 30 milhões do requerimento inicial de US$ 120 milhões para o Iraque haviam sido cobertos. O painel sugere que a Casa Branca requisite US$ 3 bilhões adicionais para as tarefas de reconstrução do Iraque e assistência alimentícia para o primeiro período do pós-guerra.
Caso os EUA fracassem em agir com rapidez para tratar das necessidades de segurança e alimentos dos mais de 16 milhões de iraquianos que dependem do programa de troca de petróleo por alimentos gerido pela ONU, Washington será alvo de acusações. "Isso alimentaria a percepção de que a intervenção dos EUA representa um aumento no sofrimento humanitário", diz o relatório.
Em documentos anexos, James Dobbins, enviado especial do atual governo ao Afeganistão, disse que até mesmo "o mais baixo requerimento sugerido de 75 mil soldados" para estabilizar o Iraque significaria que "todos os soldados da infantaria americana passariam seis de cada 18 ou 24 meses no Iraque". O relatório reforçou uma recente estimativa do general Eric Shinseki, chefe de Estado-Maior do Exército, de que 200 mil soldados seriam necessários para policiar o Iraque depois de uma guerra. Se esse número de tropas for mesmo necessário, a estimativa de US$ 20 bilhões ao ano em custos "seria excedida por larga margem".


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