São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Cuba libera venda de computador, DVD e TV de 24 polegadas

Compras serão em pesos conversíveis, usados no turismo, diz memorando do governo que circula entre comerciantes estatais

Medida pode ser o primeiro movimento do novo líder cubano, que prometeu na posse abolir em semanas "proibições" simples na ilha

DA REDAÇÃO

O governo de Cuba autorizou a venda de computadores, aparelhos de DVD ou vídeo -itens até agora vetados a compradores particulares-, no que parece ser o primeiro movimento do novo dirigente do regime, Raúl Castro, para eliminar, como prometeu, o "excesso de proibições" na vida da ilha.
A mudança consta de um memorando interno ao qual teve acesso a agência Reuters em Havana. "Baseado na melhora de geração energética que o país apresenta, um nível superior de direção aprovou a comercialização de algumas linhas de aparelhos cujas vendas estavam proibidas", diz trecho.
O memorando lista TVs de 19 e 24 polegadas, bicicletas elétricas, microondas e alarmes para carros. Também fala que aparelhos de ar-condicionado, outro grande objeto de desejo dos cubanos, só serão liberados em 2009, se houver energia.
O texto circula entre comerciantes oficiais de eletrônicos na ilha, mas uma fonte ouvida no Ministério do Comércio Interior cubano, em condição de anonimato, pelo jornal de Miami "El Nuevo Herald" nega que a nova regra já esteja valendo e diz apenas que o governo "estuda" para breve a mudança.
Só estrangeiros e empresas podem comprar computadores em Cuba, enquanto aparelhos de DVDs eram apreendidos no aeroporto até o ano passado, quando as regras aduaneiras foram flexibilizadas.
A restrição de vendas de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos começou na grave crise que abateu a ilha pós-queda da União Soviética, e se intensificou com uma norma de 2003, numa tentativa de evitar os constantes apagões.
A oferta de energia estabilizou-se em 2006, com importação e com o petróleo barato vindo da aliada Venezuela.

Nova classe média
Todos os itens poderão ser comprados com peso conversível (equivalente a US$ 1,08), a moeda na ilha usada para comércio exterior e operadores de turismo, que vale 24 vezes mais que o peso cubano.
Ainda que a maioria não tenha acesso à moeda e tenha salários baixíssimos, calcula-se que algo entre 10% e 15% dos cubanos possam ser classificados como emergentes ou "nova classe média", fruto da economia do turismo -donos de paladares e de casas que recebem turistas, por exemplo.
Como a Folha constatou em fevereiro, são eles que, com dinheiro no bolso e tolerância do governo, lotam as Tendas de Recuperação de Divisas, administradas pelo Exército desde 2005 e que, no começo, eram abertas apenas para turistas. Está nessa "nova classe média" o maior descontentamento com o "excesso de proibições" a que se referiu Raúl Castro.
No poder desde julho de 2006, com a doença do irmão Fidel, Raúl tornou-se formalmente o novo dirigente de Cuba em 24 de fevereiro.
No discurso de posse, ele prometeu para as semanas seguintes o início da eliminação de proibições "mais simples", mas salientou que outras demorarão mais para serem abolidas, por estarem ligadas à temas de defesa nacional.
Para analistas, o que está em jogo no atual comando da ilha é justamente atender às expectativas geradas pela ascensão e declarações de Raúl sobre mudanças econômicas e abertura ao debate, enquanto permanecem o controle de meios de comunicação de massa, perseguição a dissidentes e controle do acesso a internet -ainda que, agora, aparentemente, com computadores mais novos disponíveis a parte da população.


Com agências internacionais


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