São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Repressão aumenta no Tibete

Monges fazem greve de fome por prisão de 12 manifestantes, após protesto de centenas em Lhasa

Na segunda-feira, religiosos budistas foram detidos após irem às ruas para celebrar aniversário de revolta frustrada contra a China

Ashwini Bhatia/Associated Press
Policiais indianos prendem tibetano que planejava marchar desde Dharamsala até o Tibete


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Os monges tibetanos começaram ontem uma greve de fome, exigindo a libertação dos manifestantes que fizeram o maior protesto na região em quase vinte anos.
O protesto pacífico, no qual todos os monges se sentaram no mosteiro de Sera, perto da capital do Tibete, Lhasa, acontece após a prisão de 12 monges na segunda-feira, quando centenas deles tomaram as ruas para celebrar o 49º aniversário de uma tentativa fracassada de se libertar do domínio chinês.
Eles portavam bandeiras do Tibete e cantavam slogans pedindo o retorno do dalai lama, seu líder no exílio.
Outro protesto de monges budistas, no norte da Índia, também acabou em repressão. Foi justamente em Dharamsala, onde fica o governo tibetano no exílio e mora o dalai lama. Mais de cem monges pretendiam fazer uma marcha de seis meses dali até Lhasa, chegando durante a realização da Olimpíada de Pequim.
Todos foram presos pela polícia do Estado indiano de Himachal Pradesh. O governo indiano diz que os tibetanos são livres para morar e trabalhar na Índia, mas impedidos de manifestações políticas.
Antes, a Índia costumava apoiar os monges. "Houve uma mudança na atitude, agora repressiva contra os monges para não desagradar a China", acusa a pesquisadora Meenakshi Ganguly, da ONG americana Human Rights Watch.

Blecaute informativo
Na imprensa chinesa, o assunto foi completamente ignorado. Nos canais estrangeiros a cabo, como a CNN e a BBC, sempre exibidos com atraso de alguns minutos, o sinal era bloqueado pouco antes de qualquer menção ao assunto, deixando a tela do televisor escura.
A imprensa estrangeira na China precisa pedir permissão do governo para poder visitar o Tibete, o que dificulta reportagens de lá. Sites das principais organizações que defendem a autonomia da região, Save Tibet (dirigida pelo ator americano Richard Gere) e Free Tibet, são bloqueados na internet.
O porta-voz da Chancelaria chinesa, Qin Gang, afirmou ontem que os manifestantes em Lhasa estão buscando "espalhar agitação e distúrbios sociais". "Isso foi planejado cuidadosamente pela turma do dalai lama para separar o Tibete e sabotar a estabilidade e harmonia do povo tibetano."
Os ativistas dizem que milhares de policiais usaram gás lacrimógeno contra os manifestantes, mas não há relatório de feridos. Uma fonte disse ao jornal britânico "The Guardian" que mais de 20 tanques bloqueavam os acessos aos mosteiros de Lhasa.
A China proibiu o alpinismo na face norte do monte Everest, o pico mais alto do mundo, antes da chegada da Tocha Olímpica ali. No ano passado, ativistas deixaram uma bandeira na base do Everest com os dizeres "Free Tibet" (Tibete Livre). Espera-se que o número de protestos pela libertação do Tibete aumente este ano, às vésperas das Olimpíadas de Pequim, que será um holofote extra às causas abafadas pela China.
Na semana passada, a cantora islandesa Björk defendeu a independência tibetana em um show em Xangai e foi duramente criticada pelo Ministério da Cultura do país.


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