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GOLPE NA VENEZUELA
Carmona renuncia e vice de Chávez assume
Reuters
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Defensores do presidente deposto, Hugo Chávez, falam com soldados na grade do palácio presidencial de Miraflores, em Caracas |
Diosdado Cabello diz que ficará
no cargo só até volta de Chávez
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Racha entre líderes militares
golpistas provocou a reviravolta
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Exército havia exigido volta do
Legislativo e exílio de Chávez
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MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Apenas um dia após assumir a Presidência provisória da Venezuela,
após o golpe militar que derrubou
Hugo Chávez, o líder empresarial
Pedro Carmona renunciou ao cargo após sofrer pressões por parte
dos militares.
Houve um racha entre os líderes
militares golpistas, ações de grupos
leais a Chávez e conflitos de rua que
colocaram o país numa espécie de
limbo político e institucional. Rodeado por milhares de manifestantes pró-Chávez, o palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, foi
tomado por tropas leais ao ex-mandatário. Seu vice, Diosdado
Cabello, foi empossado na Presidência, como previa a Constituição
de 1999 em caso de renúncia do titular.
Descontentes com a dissolução da
Assembléia Nacional e com a violação de um acordo para que Chávez
e sua família pudessem exilar-se
em outro país, alguns líderes militares que haviam promovido o golpe passaram a questionar os rumos
e a própria existência do novo governo.
Refugiado no Forte Tiuna, principal quartel militar de Caracas, Carmona havia anunciado à tarde que
reconvocaria o Legislativo, dissolvido por ele mesmo no dia anterior,
e que Chávez poderia sair do país,
atendendo a reivindicações expostas pelo comandante do Exército,
Efraín Vásquez. Carmona havia
deixado o palácio à tarde, quando
milhares de manifestantes pró-Chávez começaram a se postar em
frente ao local.
De acordo com o prefeito de Caracas, Alfredo Peña, pelo menos nove
pessoas teriam morrido em confrontos nas manifestações.
Chávez, que havia sido levado ao
Forte Tiuna após ser destituído do
poder, foi transferido pelo governo
provisório a uma base naval a 100
km da capital por causa das manifestações. Ele não aparecia em público desde sua deposição, o que
gerou boatos entre os manifestantes chavistas de que ele poderia ter
sido assassinado.
O ministro da Educação Superior
do governo deposto afirmou que as
forças leais a Chávez exigiam de
seus "captores" que o libertassem
até as 2h de hoje (3h em Brasília).
Cabello, após assumir, disse em comunicado pelo rádio que ficaria no
cargo somente até a volta de Chávez.
As declarações de Carmona reconvocando o legislativo e admitindo
uma "revisão" do decreto que o colocou no poder haviam sido feitas
logo após o comandante do Exército, Efraín Vásquez, ter afirmado
que o processo de destituição de
Chávez teve "erros", anunciando
que só apoiaria o novo governo se
fossem cumpridas "algumas exigências". Entre as exigências estava
a restituição da Assembléia Nacional e do Supremo Tribunal, o respeito à Constituição de 1999 e o envio imediato de Chávez ao exterior.
A OEA (Organização dos Estados
Americanos) havia anunciado a
convocação de sua assembléia geral para decidir se invocaria a Carta
Democrática, dispositivo que prevê a exclusão de um país que tenha
rompido a ordem constitucional. O
secretário-geral da organização,
César Gaviria, deve chegar hoje a
Caracas.
A situação se agravou após o comandante da Brigada de Paraquedistas de Maracay, 80 km a oeste de
Caracas, se rebelar contra o governo provisório e se aquartelar junto
a vários altos oficiais.
O analista Emilio Figueredo Planchart disse à Folha que a rebelião
não foi necessariamente em apoio a
Chávez, mas sim um protesto contra a forma encontrada para substituí-lo. "Havia um acordo para que
Chávez renunciasse dignamente
num discurso à Assembléia Nacional. Alguns militares mais à direita
acharam que seria possível ir mais
longe."
A mulher de Chávez, Marisabel Rodriguez de Chávez, negou que o
marido tivesse renunciado e fez um
apelo à comunidade internacional
para que denuncie Carmona como
golpista. Numa entrevista à CNN
em espanhol, Marisabel disse que
seu marido havia concordado em
renunciar em um discurso à Assembléia Nacional, mas que "ela foi
dissolvida".
Ela pediu a presidentes de outros
países, principalmente dos EUA,
que a ajudem. "O presidente Bush
disse que não aceitaria um golpe na
Venezuela, e o que está acontecendo é um golpe militar."
O governo provisório tinha claro
perfil conservador. Apenas dois
ministros são de partidos políticos.
O das Finanças, Leopoldo Martíne,
é do novo partido Primeiro Justiça,
formado por jovens profissionais
de centro direita, com reduto eleitoral no bairro de classe média alta
de Chacao, em Caracas. Já o chanceler José Rodríguez Iturbe é ex-deputado do conservador partido democrata-cristão Copei. Sua indicação confirma a tese de que a política externa do país irá novamente se
aliar a Washington, após o afastamento durante a era chavista.
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