São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Secretário da Justiça culpa governos anteriores pelo 11/9

Comissão "indicia" FBI por erros

DA REDAÇÃO

A Comissão Nacional sobre Ataques Terroristas contra os Estados Unidos divulgou relatório ontem em que critica duramente o Departamento da Justiça e o FBI por reagirem de forma inadequada às ameaças da Al Qaeda. O presidente da comissão bipartidária disse que o relatório equivalia a um "indiciamento" do FBI.
A comissão ainda observou que o secretário da Justiça, John Ashcroft, só priorizou o contraterrorismo quando já era tarde e que o FBI estava praticamente em guerra consigo mesmo, devido às divergências internas sobre como lidar com as ameaças terroristas.
Ashcroft depôs ontem na comissão e afirmou que os EUA foram surpreendidos pelos ataques porque, "por quase uma década, o governo fechou os olhos para os inimigos". O secretário também culpou barreiras impostas pelo sistema judicial americano. "Mesmo que eles [agentes de inteligência] pudessem entrar nos campos de treinamento de [Osama] bin Laden, precisariam de uma bateria de advogados para agir."
De acordo com a comissão, o sistema de computadores usado pelo FBI (a polícia federal americana) era tão obsoleto que, após os ataques do 11 de Setembro, o órgão teve de mandar fotos dos seqüestradores dos aviões por correio expresso, ao invés de enviá-las por e-mail. Segundo a comissão, o sistema "empregava tecnologia dos anos 80, já obsoleta quando da instalação em 1995".
Em seu depoimento à comissão, Louis Freeh, diretor do FBI entre 1993 e junho de 2001, disse que a possibilidade de uso de aviões em ataques já havia sido mencionada no planejamento da segurança dos Jogos Olímpicos de 1996, mas defendeu a agência.
O ex-diretor afirmou que pediu a contratação de quase 1.900 funcionários entre 1998 e 2001, mas conseguiu somente 76. "Não é para criticar o Congresso nem o Departamento da Justiça. É para mostrar o fato de que não era uma prioridade nacional."
Thomas Pickard, outro ex-diretor do FBI que depôs ontem, disse que Ashcroft rejeitou um pedido de mais verbas para contraterrorismo no dia 10 de setembro de 2001. O relatório da comissão afirma que Pickard declarou que, em uma reunião no meio de 2001, Ashcroft lhe disse que "não queria ouvir" mais informações sobre possíveis ataques -o secretário nega o episódio.
A comissão fez coro com as críticas de que o FBI tem seu desempenho prejudicado pela burocracia e pela falta de comunicação interna e com outras agências. Janet Reno, ex-secretária da Justiça durante a administração Bill Clinton (1993-2001), que também depôs ontem, foi na mesma linha: "A mão direita não sabia o que a mão esquerda estava fazendo".
Anteontem, o presidente George W. Bush afirmou que "talvez seja o momento de reformar nossos serviços de inteligência". Entre as propostas, está a da criação de uma nova agência, nos moldes do MI5 -um dos serviços secretos britânicos, que cuida da segurança interna do país, mas não tem poderes de polícia. Segundo esse plano, o FBI perderia para o novo órgão sua competência para cuidar de contra-espionagem e contraterrorismo. No ano passado, comitês do Senado e da Câmara concluíram que a idéia de uma agência de segurança interna deveria ser reexaminada.


Com agências internacionais e "The New York Times"

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