São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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ÁFRICA DO SUL

Eleição hoje garantirá novo mandato para Thabo Mbeki, apesar do desemprego e de outros problemas como a Aids

Partido de Mandela deve obter 3º mandato

Themba Hadebe/Associated Press
Em Soweto, mulher passa por cartaz eleitoral do presidente Thabo Mbeki, que tenta a reeleição


DA REDAÇÃO

O Congresso Nacional Africano (CNA), partido do ex-presidente Nelson Mandela (1994-99) e do atual líder sul-africano, Thabo Mbeki, deve vencer as eleições de hoje e obter um terceiro mandato na África do Sul pós-apartheid.
Apesar do resultado previsível, o governo teme uma queda no comparecimento do eleitorado às urnas, num sinal de diminuição do interesse pela democracia multirracial que começou a ser construída há apenas dez anos, com o fim do regime de segregação racial imposto pela minoria branca no século passado.
"Não se envolver, não participar da eleição é negligenciar o dever democrático", disse Nelson Mandela, 85, em comício do CNA.
"No caso da África do Sul, isso pode ser entendido como um sinal de desprezo pelas transformações duras e difíceis que temos vivido", afirmou o ex-presidente ao apoiar a reeleição de Mbeki, 61, seu sucessor à frente do movimento que liderou a luta contra o apartheid.
Em 1994, nas primeiras eleições multirraciais do país, 19,5 milhões dos 21,7 milhões de eleitores votaram. Em 99, esse número caiu para 15,9 milhões (71% do eleitorado, percentual elevado em países onde a votação não é obrigatória).
A principal preocupação é com os jovens eleitores, para quem o apartheid é algo distante. "Para esses jovens, a luta contra a segregação racial é passado. Dinheiro é o que importa", diz Dino Fifas, da companhia de pesquisa e marketing Logistix Kids. "Você vota e não ganha nada. Prefiro sair e comprar alguma coisa. É como o mundo funciona hoje", diz S'bu Ndebele, 24.
Nem todos pensam assim. "Meus irmãos mais velhos foram atingidos por balas de borracha e apanharam da polícia. Por isso, precisamos votar. Não podemos viver daquela maneira novamente", diz Lunga Makoe, 25.
A continuação da pobreza e da desigualdade social, o desemprego próximo dos 30%, os altos índices de criminalidade (um dos maiores do mundo) e a política hesitante do governo para a Aids são as principais críticas ao governo do CNA.
A África do Sul tem cerca de 5,3 milhões de pessoas vivendo com o vírus HIV, mas até recentemente o governo se negava a fornecer gratuitamente o tratamento contra a doença.
Num esforço final para evitar o baixo comparecimento e garantir a maioria qualificada no Parlamento (2/3 das 400 vagas na Assembléia Nacional), Mbeki tem destacado os avanços dos últimos dez anos, em especial a transição pacífica para um governo controlado pela maioria negra. E pedido à população que tenha paciência.
A Aliança Democrática, principal força de oposição (com pouco mais de 10% das cadeiras no Parlamento), acusa o governo de falhar no combate à corrupção e ao crime, na criação de empregos e na luta contra a Aids. Também acusa o CNA de querer se perpetuar no governo, como se o país vivesse uma "democracia de partido único".
Apesar de uma nova elite negra estar mudando a sociedade sul-africana, a vida até aqui mudou pouco para milhões de pobres, principalmente negros, que vivem nos subúrbios e em cidades do interior do país.
Já os jovens brancos têm tido dificuldades em arrumar empregos, devido às políticas de cotas para negros, e muitos acabam deixando a África do Sul. O CNA defende as cotas como necessárias para corrigir a desigualdade social.
Muitos questionam a imagem de "nação arco-íris", de um país formado por todas as raças, que o governo tenta construir. "É uma imagem bonita, mas não há preto e marrom no arco-íris", diz o desempregado Trevor Trout, 47, morador de uma favela na Cidade do Cabo, pai de quatro filhos.
Mais de 20 milhões dos 25 milhões de sul-africanos estão registrados para eleger os 400 membros da Assembléia Nacional, que escolherão o presidente. Nas últimas eleições, o CNA obteve 266 cadeiras.
Também estão em jogo os governos das nove Províncias sul-africanas. Apenas duas delas, KwaZulu-Natal e Cabo Ocidental, não são governadas pelo CNA.

Com agências internacionais

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