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Obama não cede a apelo de Lula sobre o Irã
Após reunião na qual brasileiro defendeu continuidade de diálogo com Teerã, presidente dos EUA insiste na pressão por sanções
Departamento de Estado diz que se pode até discutir o teor das punições, mas que hora é de agir; Brasil seguirá busca por saída negociada
Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Líderes de 47 países posam para foto oficial de Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington; Obama diz que resolução contra Irã será votada em poucas semanas
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
Momentos após ouvir proposta do colega brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, defendendo a continuidade da negociação com o Irã, o presidente dos
EUA, Barack Obama, insistiu
ontem na defesa de sanções duras e imediatas da ONU contra
o país persa devido a seu programa nuclear. A conversa
ocorreu às margens da Cúpula
de Segurança Nuclear, que reuniu 47 líderes mundiais em
Washington.
Obama teve uma reunião trilateral não programada com
Lula e o primeiro-ministro da
Turquia, Recep Tayyip Erdogan, a pedido dos dois governantes. Lula e Erdogan haviam
discutido uma proposta alternativa a sanções anteontem, e
decidiram conversar com Obama para defendê-la. O encontro, de cerca de 15 minutos,
ocorreu logo após uma reunião
bilateral oficial entre EUA e
Turquia na tarde de ontem.
"Brasil e Turquia acreditam
que sanções tendem a endurecer posições", disse ontem o
chanceler Celso Amorim. "Todos compartilham do desejo de
evitar usos militares da energia
nuclear. Mas acreditamos que
ainda é possível uma solução
negociada e pedimos que se dê
uma chance a esse esforço."
Segundo Amorim, Obama
"não foi categórico". "Creio que
a visão dos EUA é a de que muita coisa já foi tentada [em vão],
mas Obama não disse ser contra mais negociações."
Pouco depois da reunião com
Lula, entretanto, Obama disse a
jornalistas no encerramento da
cúpula que pretende "ir adiante
[com sanções] com coragem e
rapidamente". "Acho que muitos países do Conselho de Segurança da ONU acreditam
que essa é a coisa certa a fazer",
completou.
Os EUA afirmam que alcançar uma resolução sobre uma
quarta rodada de sanções do
Conselho de Segurança da
ONU contra o Irã é questão de
semanas.
Ontem, Obama reiterou que
"os chineses já enviaram um
representante para negociar a
elaboração de uma resolução
[contra o Irã]". Pequim, com
poder de veto no conselho, vinha sendo o maior entrave para a aprovação das sanções.
"Sabemos que muitos países
têm relações comerciais com o
Irã. Mas o que disse ao presidente Hu [Jintao, da China] e a
outros líderes é que palavras
têm que significar algo. [A intenção] é isolar países que
rompam seus compromissos
internacionais", declarou.
O Departamento de Estado
afirmou que se pode até discutir o teor das sanções, mas "é
hora de agir".
Apesar da intransigência
americana, o Brasil pretende
continuar a discutir a solução
negociada com outros líderes
ainda nesta semana: os presidentes de China e Rússia virão
ao Brasil para participar de cúpula do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), a partir de sexta-feira, e o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, será recebido
em Brasília no sábado. "Não
precisamos pedir licença a
Obama para fazer o que estamos fazendo."
Amorim já havia discutido o
tema com Davutoglu, anteontem à noite. Ele também se
reuniu com o colega britânico,
David Miliband.
Já Lula se reuniu ontem com
o presidente francês, Nicolas
Sarkozy, que apoia sanções, e
com o premiê canadense, Stephen Harper.
O chanceler brasileiro disse
que Lula não falou sobre pontos técnicos de uma proposta
alternativa com Obama. O Brasil vem defendendo, porém, o
uso da Turquia como intermediária para a troca de urânio
pouco enriquecido do Irã por
urânio altamente enriquecido
de outros países, de forma a
evitar que Teerã possua estoque suficiente do material para
produzir a bomba.
A posição contra as sanções
pode acabar isolando Brasil e
Turquia, que atualmente ocupam assentos rotativos no conselho. Ontem, segundo a imprensa argentina, a presidente
Cristina Kirchner usou como
argumento para insistir em ter
um encontro bilateral com
Obama o fato de "não compartilhar da posição do Brasil
quanto às sanções".
TNP
Lula falou à cúpula defendendo a observância brasileira
de tratados internacionais -o
Brasil não assinou o Protocolo
Adicional do Tratado de Não
Proliferação, que facilita inspeções de instalações nucleares
dos signatários pela AIEA
(agência atômica da ONU), e
sofre pressões a respeito. Em
documento que o Brasil distribuiu na cúpula, o país defende a
prioridade ao desarmamento
das potências nucleares.
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