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ANÁLISE
Sanção fraca e retórica agressiva são pior cenário
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Se o tema subjacente à conferência convocada pelo governo
Obama era o programa nuclear
do Irã, uma pergunta vital continua sem resposta: qual a melhor estratégia para impedir
que o país persa rompa com o
TNP (Tratado de Não Proliferação) e produza a bomba?
Por enquanto, os principais
envolvidos lidam com o problema para atender primariamente a seus próprios interesses.
Obama pretende demonstrar
a um Congresso prestes a pôr
em votação o endurecimento
das sanções unilaterais contra
o Irã que pode obter um consenso para uma quarta rodada
de punições no Conselho de Segurança da ONU. Além disso,
quer espantar o fantasma de
um ataque israelense às instalações iranianas, cenário de pavor para os cerca de 250 mil militares americanos nos vizinhos
Iraque e Afeganistão.
O objetivo da China é jogar
água fria sobre as tensões recentes na relação com os EUA,
relativas sobretudo ao seu superavit no comércio bilateral,
mas também à venda de armas
americanas a Taiwan e à iniciativa de Obama de receber o dalai-lama na Casa Branca.
A Rússia não quer jogar fora
o "recomeço" com os americanos, que levou à renovação do
tratado de redução de mísseis
intercontinentais, mas também a um relaxamento da oposição de Washington à pretensão de Moscou de reafirmar
uma área de influência em países próximos, como a Geórgia.
Brasil e Turquia, que ainda
dizem se opor a novas sanções,
preocupam-se sobretudo com
que não sejam abertos precedentes contra o direito, expresso no TNP, de exploração do
átomo para fins pacíficos.
Só uma coisa é certa até agora. Se houver sanções, fique o
Brasil isolado ou não (de qualquer forma, sua implementação será obrigatória), elas serão
mais fracas do que os EUA almejavam no início. Russos e
chineses deixam claro que nada
deve cortar seus laços econômicos com Teerã.
A combinação esdrúxula de
sanções fracas com retórica
agressiva pode ser o pior dos
mundos, como mostra a reação
do Irã à estratégia nuclear de
Obama -o país, alvo da ameaça
atômica americana, denunciou
na ONU o que chama de "chantagem e terrorismo de Estado".
Decreto do aiatolá
Alguns analistas lembram
que existe uma fatwa (decreto
religioso) do aiatolá Khomeini
contra a bomba. Mas a continuidade do regime e o nacionalismo podem falar mais forte.
Como prevê o artigo 10 do TNP,
ao qual a Coreia do Norte recorreu, qualquer país pode se
retirar do tratado se julgar que
existe ameaça iminente à própria sobrevivência.
Quanto ao objetivo primário
da cúpula, o compromisso de
reforçar a segurança de estoques de urânio e plutônio é importante, mas dependerá sobretudo de medidas voluntárias dos 47 países presentes.
Como disseram especialistas
do Departamento de Estado,
seria inviável forjar um novo
acordo multilateral sobre questão que já é objeto de vários textos, parte deles parada por atraso nos processos de adesão e ratificação, como a Convenção
para a Proteção de Material
Nuclear. Um tratado para banir
a produção de novos materiais
físseis, recomendado no âmbito do TNP, é outra medida pendente de avanço.
Países como Ucrânia, Malásia e Chile ofereceram entregar
parte de seus estoques de combustível nuclear usado para a
Rússia ou os EUA. Mas pouco
se sabe sobre concessões de Índia e Paquistão. Os dois países
não integram o TNP e, pelo
acordo de cooperação nuclear
assinado com os EUA em 2005,
apenas as instalações civis indianas passarão a ter inspeção
internacional.
Israel, a terceira potência extra-TNP, preferiu a discrição
em Washington. A proposta de
um Oriente Médio sem armas
nucleares será um dos temas da
conferência de revisão do tratado, no próximo mês.
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