São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Desmentido pela própria Defesa, secretário diz que escândalo é "golpe duro" durante viagem-surpresa

Rumsfeld vai a Bagdá visitar local de tortura

DA REDAÇÃO

Uma visita-surpresa do secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, ao Iraque foi a nova investida do Pentágono para tentar amenizar o prejuízo que o escândalo envolvendo a tortura de iraquianos causou à sua imagem.
Acompanhado do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Richard Myers, Rumsfeld visitou ontem a prisão de Abu Ghraib, palco dos crimes que causaram estupefação pública.
O secretário, cuja demissão vem sendo exigida dentro e fora do governo, tentou elevar o moral das tropas e justificar a posição do Pentágono, mas afirmou que haverá prejuízo aos objetivos americanos, e voltou a prometer a punição dos culpados.
"Fiquei perplexo. Foi um golpe duro", disse sobre as imagens de iraquianos torturados e molestados sexualmente por soldados dos EUA. "Sem dúvida, mais coisas ruins virão, e com o tempo vamos poder avaliar seu efeito sobre o esforço para estabilizar o Iraque. Já está claro que não ajudou."
Foi a única concessão feita aos críticos num discurso que manteve o tom reparador -embora, pouco antes de chegar à prisão, o secretário tenha dito a jornalistas: "Quem pensa que eu estou aqui para abafar o caso está errado".
Sobre o fato de as imagens terem se tornado o principal assunto da imprensa americana desde sua publicação, Rumsfeld disse: "Parei de ler jornais. Você precisa manter a sanidade de alguma maneira. Sou um sobrevivente".
"Ouvimos um monte de críticas da imprensa, mas a verdade é que todo ano há uma fila de gente querendo entrar nos EUA, querendo se tornar cidadãos americanos. A razão para isso é que eles sabem que, como disse Abraham Lincoln, os EUA são a última esperança para a espécie humana."
O secretário também levantou o moral dos soldados, aos quais chamou de "a melhor geração" dos EUA. "Milhões de americanos e provavelmente milhões de iraquianos e afegãos acham isso."

Violações
Enquanto Rumsfeld discursava em Bagdá, o general Peter Pace e o subsecretário da Defesa Paul Wolfowitz -dois dos principais nomes do Pentágono- diziam que técnicas de interrogatório que o secretário afirmou condizerem com as Convenções de Genebra, sobre direitos dos prisioneiros de guerra, na verdade as violam.
Na quarta-feira, Rumsfeld dissera que práticas como a manutenção de prisioneiros em posições de estresse e a alteração da dieta foram aprovadas pelos advogados do Pentágono por estarem em linha com as convenções. Mas Pace e Wolfowitz afirmaram a um comitê do Senado desconhecer a adoção de tais práticas.
Tanto Pace como Wolfowitz descreveram a cena de um prisioneiro em posição de estresse como "uma violação".
Numa aparente tentativa de mostrar agilidade no caso, os EUA marcaram ontem a audiência de dois militares indiciados na véspera por maus-tratos. Os sargentos Javal Davis e Ivan Frederick 2º vão se apresentar no dia 20 de maio. Até agora, nove militares serão submetidos à corte marcial.
Com a deterioração da situação, estão ficando mais claras divisões dentro da própria Defesa. O general Myers dissera na noite anterior ante o mesmo comitê: "Não há meio para uma derrota militar no Iraque. Mas também não há meio para uma vitória militar". "Esse processo tem de ser internacionalizado. É esse o modo de vencer."


Com agências internacionais

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