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IRAQUE OCUPADO
Desmentido pela própria Defesa, secretário diz que escândalo é "golpe duro" durante viagem-surpresa
Rumsfeld vai a Bagdá visitar local de tortura
DA REDAÇÃO
Uma visita-surpresa do secretário da Defesa dos EUA, Donald
Rumsfeld, ao Iraque foi a nova investida do Pentágono para tentar
amenizar o prejuízo que o escândalo envolvendo a tortura de iraquianos causou à sua imagem.
Acompanhado do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas,
general Richard Myers, Rumsfeld
visitou ontem a prisão de Abu
Ghraib, palco dos crimes que causaram estupefação pública.
O secretário, cuja demissão vem
sendo exigida dentro e fora do governo, tentou elevar o moral das
tropas e justificar a posição do
Pentágono, mas afirmou que haverá prejuízo aos objetivos americanos, e voltou a prometer a punição dos culpados.
"Fiquei perplexo. Foi um golpe
duro", disse sobre as imagens de
iraquianos torturados e molestados sexualmente por soldados
dos EUA. "Sem dúvida, mais coisas ruins virão, e com o tempo vamos poder avaliar seu efeito sobre
o esforço para estabilizar o Iraque. Já está claro que não ajudou."
Foi a única concessão feita aos
críticos num discurso que manteve o tom reparador -embora,
pouco antes de chegar à prisão, o
secretário tenha dito a jornalistas:
"Quem pensa que eu estou aqui
para abafar o caso está errado".
Sobre o fato de as imagens terem se tornado o principal assunto da imprensa americana desde
sua publicação, Rumsfeld disse:
"Parei de ler jornais. Você precisa
manter a sanidade de alguma maneira. Sou um sobrevivente".
"Ouvimos um monte de críticas
da imprensa, mas a verdade é que
todo ano há uma fila de gente
querendo entrar nos EUA, querendo se tornar cidadãos americanos. A razão para isso é que eles
sabem que, como disse Abraham
Lincoln, os EUA são a última esperança para a espécie humana."
O secretário também levantou o
moral dos soldados, aos quais
chamou de "a melhor geração"
dos EUA. "Milhões de americanos e provavelmente milhões de
iraquianos e afegãos acham isso."
Violações
Enquanto Rumsfeld discursava
em Bagdá, o general Peter Pace e o
subsecretário da Defesa Paul
Wolfowitz -dois dos principais
nomes do Pentágono- diziam
que técnicas de interrogatório que
o secretário afirmou condizerem
com as Convenções de Genebra,
sobre direitos dos prisioneiros de
guerra, na verdade as violam.
Na quarta-feira, Rumsfeld dissera que práticas como a manutenção de prisioneiros em posições de estresse e a alteração da
dieta foram aprovadas pelos advogados do Pentágono por estarem em linha com as convenções.
Mas Pace e Wolfowitz afirmaram
a um comitê do Senado desconhecer a adoção de tais práticas.
Tanto Pace como Wolfowitz
descreveram a cena de um prisioneiro em posição de estresse como "uma violação".
Numa aparente tentativa de
mostrar agilidade no caso, os
EUA marcaram ontem a audiência de dois militares indiciados na
véspera por maus-tratos. Os sargentos Javal Davis e Ivan Frederick 2º vão se apresentar no dia 20
de maio. Até agora, nove militares
serão submetidos à corte marcial.
Com a deterioração da situação,
estão ficando mais claras divisões
dentro da própria Defesa. O general Myers dissera na noite anterior
ante o mesmo comitê: "Não há
meio para uma derrota militar no
Iraque. Mas também não há meio
para uma vitória militar". "Esse
processo tem de ser internacionalizado. É esse o modo de vencer."
Com agências internacionais
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