São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

COLÔMBIA

Líderes de grupo terrorista de direita terão passe livre a área especial para seguir negociação

Uribe faz novo acordo com paramilitares

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Apoiado pela OEA (Organização do Estados Americanos) e pela Igreja Católica, o governo colombiano, do presidente Álvaro Uribe, surpreendeu ao anunciar ontem um acordo pelo qual os principais líderes das AUC (Autodefesa Unida da Colômbia), grupo paramilitar terrorista de direita, se comprometem a se mudar para uma zona especial para continuar as negociações de desmobilização com o Estado.
O procurador-geral da República, Edgardo Maya, disse que 14 dirigentes paramilitares ficarão "numa área aproximada de 300 km2 [equivalente a uma floresta da Tijuca], localizada no Departamento de Córdoba".
"É um bom começo do processo de entendimento que vai existir entre o Estado e este grupo à margem da lei", disse
Essa região é um dos principais redutos paramilitares do país. Os dirigentes estarão acompanhados de outros 400 paramilitares.
As AUC possuem cerca de 12 mil homens armados. Além do envolvimento com o narcotráfico, elas lideram as acusações de chacina e de expulsão de civis nas áreas que controlam.
As medidas incluem: 1) monitoramento da OEA; 2) fim das ações violentas; 3) vigência de seis meses, prorrogável; 4) os paramilitares só podem sair da área com autorização prévia; 5) eles não poderão ser extraditados para os EUA.
Para o analista colombiano Alfredo Rangel, ao contrário das frustradas negociações com as Farc (guerrilha terrorista de esquerda), o acordo cria condições rígidas para as negociações, mas não garante o fim da violência dos paramilitares.
"As condições podem garantir uma concentração dos membros das AUC nessa zona do país, evitando os riscos ocorridos durante o processo de paz entre o presidente Andrés Pastrana [1998-2002] e a guerrilha das Farc", disse Rangel. Como assessor de Pastrana, ele participou das fracassadas negociações com a guerrilha, que obteve grande área desmilitarizada para negociar a paz.
"Por outro lado, o acordo não garante o cumprimento da trégua. A concentração é de uma parte muito pequena dos seus membros. O resto vai continuar em condições de continuar prejudicando a população civil", disse.
Rangel disse que já havia um acordo de cessar-fogo entre as AUC e o governo do presidente Álvaro Uribe em vigor durante todo o ano passado. Mesmo assim, as AUC realizaram ao menos 200 assassinatos no período.
O anúncio causou surpresa no país, pois acreditava-se que as negociações estivessem suspensas depois do misterioso desaparecimento do principal líder das AUC, Carlos Castaño, há cerca de um mês, após um suposto ataque de paramilitares rivais.
Para Otty Patiño, ex-líder do grupo guerrilheiro esquerdista M-19, a ausência de Castaño compromete as negociações. "A negociação está em colapso. Toda a estratégia foi desenhada sob a liderança de Castaño."


Com agência internacionais


Texto Anterior: Coréia do Sul: Justiça reverte impeachment do presidente
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.