São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

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É preciso haver controle de fronteira, diz dinamarquês

Ministro da Integração, Soren Pind, diz que país é tolerante com imigrantes

Governo decidiu nesta semana fiscalizar a entrada no país, apesar de tratado europeu de livre movimentação

WILSON GOTARDELLO FILHO
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA, EM AARHUS (DINAMARCA)


O ministro da Integração dinamarquês, Soren Pind, 47, diz que seu país é uma tribo que descende dos vikings, e que por isso é tão difícil absorver imigrantes, sobretudo não-ocidentais.
Segundo ele, os dinamarqueses não querem "mudanças negativas", que associa a pessoas vindas de fora.
Nessa semana, o país anunciou que restringirá a entrada de pessoas vindas de outras partes da Europa, violando o Tratado de Schengen, que regula esse ponto. Negou, no entanto, que isso se deva à onda de refugiados do norte da África (sobretudo Líbia e Tunísia).

Folha - Por que restabelecer controle das fronteiras? Soren Pind - Não restabelecemos o controle das fronteiras. Estou muito triste que essa história falsa repercuta ao redor do mundo. Isso aconteceu porque alguns jornalistas e intelectuais europeus esquerdistas tendem a ver o Partido do Povo Dinamarquês [que apoia o governo] como de extrema direita. O fato de o governo ter feito um acordo político com esse partido e o fato de estarmos restabelecendo o controle alfandegário fez essa história correr o mundo.

E como vai funcionar esse "controle alfandegário"? Trata-se de um sistema em que enviamos aleatoriamente fiscais de fronteiras para checar se existe tráfico de drogas, de armas. Não vamos implementar o controle de passaportes, de pessoas, de passageiros nas fronteiras. Mas o que precisamos assegurar é o fim da criminalidade nas fronteiras. E usar fiscais para fazer isso é totalmente aceitável.

A União Europeia examina proposta para reintroduzir controles nas fronteiras. Como o sr. vê esse movimento? Há pressões de outras partes da União Europeia, que são na verdade quem realmente gostaria de restabelecer o controle das fronteiras.

O sr. está se referindo a França e Itália? Quem na verdade ameaçou restabelecer o controle fronteiriço? Certamente não foi o meu país. São dois países muito maiores que o meu.

E qual a posição da Dinamarca sobre isso? Apoiamos a proposta de Itália e França, que trata de situações excepcionais. Os países podem ser autorizados a restabelecer o controle fronteiriço por curto tempo.

Qual o maior desafio para a Dinamarca na integração dos seus imigrantes? É aceitar que nem todo mundo é igual à nossa sociedade. Somos uma tribo há mais de 2.000 anos. Nós viemos dos vikings e gostamos muito do nosso jeito de viver.

E o maior desafio para os imigrantes? É a aceitação de que o país para o qual imigraram é a Dinamarca. Os dinamarqueses não querem ver mudanças negativas, como mulheres vivendo sob opressão, casamentos forçados e violência -nas casas de apoio contra a violência doméstica, de 45% a 46% das mulheres não são de origem dinamarquesa.

A Dinamarca é um bom país para imigrantes? Acredito que sim. A maioria dos imigrantes que eu conheço gosta. Mas é verdade que alguns grupos imigrantes estão mais representados nas estatísticas de crimes.

Quais são esses grupos? Recentemente, fizemos uma pesquisa sobre a contribuição dos diversos imigrantes à economia dinamarquesa. Imigrantes do mundo ocidental contribuem entre 2 bilhões e 4 bilhões de coroas por ano (de R$ 620 mi a R$ 1,24 bi). Países de fora do mundo ocidental, como Paquistão e Somália, custam ao governo cerca de 16 bilhões. É preciso levar em consideração que esses imigrantes têm mais filhos e, claro, frequentam as escolas. E essa diferença entre os dois grupos de imigrantes vai se acentuar até 2050. Por isso, precisamos ser inteligentes. Você não pode ir para os EUA sem nada, certo? Esse é o caso da Dinamarca também. Se você tiver alguma habilidade, nós vamos abrir nossas portas.

A Dinamarca está se tornando um país menos tolerante com os imigrantes? Todas as vezes que se realizam pesquisas sobre tolerância, confiança e outros assuntos, os dinamarqueses estão em primeiro lugar.

FOLHA.com
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