|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELIGIÃO
Bispos abrem reunião para discutir pedofilia de padres em meio a polêmica sobre indenizações
Doadores criticam acordos da igreja nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Muita emoção das vítimas de
abuso sexual por parte de padres e
uma polêmica sobre o modo como a igreja administra o dinheiro
das doações marcaram a abertura, ontem, do encontro anual dos
bispos católicos dos EUA, em Dallas (Texas).
O encontro começou oficialmente de manhã, com o presidente da Conferência dos Bispos Católicos fazendo uma declaração
histórica: "A crise atual é causada
pela profunda perda de confiança
em nossa liderança", disse o bispo
Wilton Gregory. "Isso é devido às
nossas falhas ao lidarmos com o
abuso sexual de crianças por nossos padres e funcionários."
Após o discurso, reunidas pela
ONG Rede de Sobrevivência daqueles Abusados por Padres, dezenas de vítimas deram depoimentos tocantes. O principal talvez tenha sido de Craig Martin, de
St. Cloud (Minnesota), que contou sua história referindo-se a si
mesmo sempre como "John
Doe", nome utilizado pela polícia
em casos de abuso sexual envolvendo menores, que pode ser traduzido como "Fulano de Tal".
"Venho a público hoje romper o
silêncio e a dor que estavam matando "John Doe'", começou ele.
Em seguida, entre lágrimas, contou que um padre de sua paróquia
abusava dele quando criança em
passeios de pescaria.
"Eu bloqueei essa experiência
dentro de mim por anos. Tornei-me alcoólatra, deprimido e revoltado com meus pais", contou.
"Estou aqui hoje para ajudar os
outros e pedir aos bispos que foquem sua ação na ajuda às pessoas, em vez de ficarem se prendendo aos aspectos legais."
Há hoje nos EUA cerca de 300
processos contra padres ou dioceses. Desde janeiro, de um universo de 46 mil pessoas, 150 padres e
quatro bispos já renunciaram devido ao escândalo; daqueles, dois
se suicidaram e um foi assassinado por uma suposta vítima.
Participam do encontro cerca
de 400 bispos, na ativa ou aposentados, mas apenas 285 terão direito a voto. O principal documento
a sair da reunião é o que propõe
que todos os padres que cometerem abuso sexual contra menores
serão expulsos e entregues às autoridades. Se aprovado, vai para
avaliação de João Paulo 2º.
Se por um lado os cardeais faziam contrição e ouviam atentos
os depoimentos das vítimas, por
outro acusavam o golpe de reportagem publicada ontem pelo jornal "The New York Times", segundo a qual o mar de processos
contra a Igreja Católica dos EUA
colocou a entidade numa crise
econômica sem precedentes.
Segundo o jornal, as dezenas de
acordos financeiros sigilosos feitos com vítimas estão levando os
principais doadores da igreja a
questionar o modo como ela administra seus fundos e o destino
que está dando ao dinheiro.
"A Igreja deveria abrir seus livros", disse Erica P. John, herdeira da companhia cervejeira norte-americana Miller, que contribui
com US$ 5 milhões por ano para
causas católicas. "Eles não deveriam ser uma sociedade secreta,
nós somos o povo de Deus e queremos transparência."
É difícil, no entanto, mudar uma prática secular. Por lei, as dioceses dos EUA só devem prestar contas a si mesmas e ao Fisco.
Texto Anterior: Fortaleza Europa: UE cogita punir país de origem de imigrante Próximo Texto: Oriente Médio: Israel investiga "bolão" sobre próximo atentado Índice
|