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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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HISTÓRIA

Museu israelense honra embaixador Souza Dantas, que contrariou Vargas e emitiu mil vistos na 2ª Guerra

Brasileiro é homenageado por salvar judeus

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Praticamente desconhecido no Brasil, o embaixador Luís Martins de Souza Dantas (1876-1954) foi escolhido nesta semana como um dos "justos" por uma comissão do museu Yad Vashem , em Israel, um dos mais importantes centros de documentação sobre o Holocausto.
A homenagem é dada a pessoas que se arriscaram para evitar que judeus fossem presos e enviados a campos de extermínio pela Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Cerca de 6 milhões de judeus foram mortos pelos nazistas e seus aliados durante esse período.
Souza Dantas é o segundo brasileiro a receber a homenagem. Antes dele, apenas Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mulher do escritor João Guimarães Rosa, recebera o título, por sua atuação como diplomata na Alemanha nazista. Ao todo, 19.706 pessoas receberam a homenagem, mas só 19 são diplomatas.
O reconhecimento se deve à atuação de Souza Dantas como embaixador brasileiro na França. O livro do historiador Fábio Koifman, "Quixote nas Trevas - O Embaixador Souza Dantas e os Refugiados do Nazismo", mostra que ele emitiu ao menos 475 vistos a judeus durante a guerra, quando a França estava sob ocupação alemã. Koifman, no entanto, acredita que o número chegue a mil. A concessão dos vistos contrariava a orientação do governo de Getúlio Vargas, que, durante o Estado Novo (1937-45), restringiu a entrada de judeus.
"Por meio de manobras, ele foi dando vistos a todo o mundo", diz Koifman, diretor de pesquisa da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
Quando o então ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, enviou uma ordem expressa para que ele parasse de emitir vistos, em 12 de dezembro de 1940, Souza Dantas começou a assinar com a data anterior à proibição. Centenas de vistos foram concedidos dessa forma.
Souza Dantas também não exigia documentos obrigatórios -chegou a emitir vistos até para pessoas sem passaporte.
Por sua desobediência, o Itamaraty abriu um inquérito administrativo contra ele no final de 1941, mais tarde arquivado.
Para o historiador americano Jeffrey Lesser, autor do livro "O Brasil e a Questão Judaica", a homenagem é justa, mas lembra que muitos judeus entraram no país de outras formas.
"Em geral, os judeus conseguiram vistos porque criaram uma maneira de lidar com as restrições," disse.


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