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HISTÓRIA
Museu israelense honra embaixador Souza Dantas, que contrariou Vargas e emitiu mil vistos na 2ª Guerra
Brasileiro é homenageado por salvar judeus
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Praticamente desconhecido no
Brasil, o embaixador Luís Martins
de Souza Dantas (1876-1954) foi
escolhido nesta semana como um
dos "justos" por uma comissão
do museu Yad Vashem , em Israel, um dos mais importantes
centros de documentação sobre o
Holocausto.
A homenagem é dada a pessoas
que se arriscaram para evitar que
judeus fossem presos e enviados a
campos de extermínio pela Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Cerca de 6
milhões de judeus foram mortos
pelos nazistas e seus aliados durante esse período.
Souza Dantas é o segundo brasileiro a receber a homenagem. Antes dele, apenas Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mulher do
escritor João Guimarães Rosa, recebera o título, por sua atuação
como diplomata na Alemanha
nazista. Ao todo, 19.706 pessoas
receberam a homenagem, mas só
19 são diplomatas.
O reconhecimento se deve à
atuação de Souza Dantas como
embaixador brasileiro na França.
O livro do historiador Fábio Koifman, "Quixote nas Trevas - O
Embaixador Souza Dantas e os
Refugiados do Nazismo", mostra
que ele emitiu ao menos 475 vistos a judeus durante a guerra,
quando a França estava sob ocupação alemã. Koifman, no entanto, acredita que o número chegue
a mil. A concessão dos vistos contrariava a orientação do governo
de Getúlio Vargas, que, durante o
Estado Novo (1937-45), restringiu
a entrada de judeus.
"Por meio de manobras, ele foi
dando vistos a todo o mundo",
diz Koifman, diretor de pesquisa
da Universidade Estácio de Sá, no
Rio de Janeiro.
Quando o então ministro das
Relações Exteriores, Oswaldo
Aranha, enviou uma ordem expressa para que ele parasse de
emitir vistos, em 12 de dezembro
de 1940, Souza Dantas começou a
assinar com a data anterior à proibição. Centenas de vistos foram
concedidos dessa forma.
Souza Dantas também não exigia documentos obrigatórios
-chegou a emitir vistos até para
pessoas sem passaporte.
Por sua desobediência, o Itamaraty abriu um inquérito administrativo contra ele no final de 1941,
mais tarde arquivado.
Para o historiador americano
Jeffrey Lesser, autor do livro "O
Brasil e a Questão Judaica", a homenagem é justa, mas lembra que
muitos judeus entraram no país
de outras formas.
"Em geral, os judeus conseguiram vistos porque criaram uma
maneira de lidar com as restrições," disse.
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