São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atentado mata deputado libanês anti-Síria e mais 9

Político era aliado do filho do ex-premiê Rafik Hariri, assassinado em 2005

Ataque é mais um golpe na coalizão do atual premiê pró-EUA, Fuad Siniora; guerra civil continua à espreita no Líbano

ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT", EM BEIRUTE

As janelas do meu escritório se abriram com um forte estalido enquanto uma explosão ribombava pela capital libanesa. Do lado de fora, 500 metros adiante, havia fumaça saindo do edifício do Staff Esporte Clube. Me esgueirei pelas ruínas perto do mar até os destroços de um trem-fantasma de parque de diversões -trilhos retorcidos, vagões destruídos. Do lado oposto havia um carro em chamas, no interior do qual repousava o cadáver da mais recente vítima libanesa de assassinato político.
E não era uma vítima qualquer. O homem que morreu a bordo do veículo era Walid Eido, membro do Parlamento por Beirute, juiz aposentado, uma figura reverenciada -evidentemente, inimigo da Síria, porque de outra forma não estaria morto- e partidário de Saad Hariri, filho de Rafik Hariri, o ex-premiê assassinado em 14 de fevereiro de 2005.
O atentado matou dez pessoas. Eido foi morto em companhia de seu filho Khaled. O clube era um dos locais preferidos dos adeptos de Hariri, mas, como de hábito, este assassinato deve ter sido bem planejado, bem coordenado, e pago com enorme antecedência. E que golpe isso representa para o grupo político que Hariri comanda. O partido majoritário dirigido por Hariri é o motivo para que o governo de Fouad Siniora tenha sobrevivido, com ajuda -Deus os abençoe- dos norte-americanos, depois que o Hizbollah decidiu abandonar a coalizão governista e convenceu seis ministros xiitas a deixar o gabinete, no ano passado.
Poderia haver um alvo mais devastador para os inimigos do governo libanês? Walid Eido representava um distrito no conturbado bairro de Basta, o reduto dos muçulmanos sunitas em Beirute. Ele era um político de inclinações populistas que constantemente criticava a "interferência" síria nos assuntos libaneses e mais recentemente passou a condenar as ações políticas do Hizbollah contra o governo.
Logo depois do atentado, a reação inicial era de choque. Mas, no Líbano, novas crises são sempre piores do que as precedentes. Cada assassinato -de um político comunista, jornalista proeminente ou parlamentar cristão-, cada surto de violência guerrilheira -61 soldados libaneses foram mortos em combate contra a Fatah al Islam, no norte do país- acelera o deslizamento do país na direção do abismo.
Ao longo dos últimos meses, as bombas vêm sendo detonadas sempre perto da meia-noite. O objetivo dos atentados é ameaçar, não matar. Mas e se a próxima bomba for detonada ao meio-dia? Quantas vítimas ela causará? Se as multidões que saíram às ruas nas áreas operárias de Basta puderam ser contidas hoje pelos soldados do Exército (quase todos xiitas), quem garante que o mesmo será possível amanhã?
Os libaneses merecem elogios por se terem recusado a iniciar uma nova guerra civil a despeito de todas as provocações. Mas estas não chegaram ao fim, de maneira nenhuma.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Saiba mais: Templo guarda túmulos de dois imãs dos xiitas
Próximo Texto: Haiti: Seleção de futebol deserta em Nova York
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.