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Atentado mata deputado libanês anti-Síria e mais 9
Político era aliado do filho do ex-premiê Rafik Hariri, assassinado em 2005
Ataque é mais um golpe na
coalizão do atual premiê
pró-EUA, Fuad Siniora;
guerra civil continua
à espreita no Líbano
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT", EM BEIRUTE
As janelas do meu escritório
se abriram com um forte estalido enquanto uma explosão ribombava pela capital libanesa.
Do lado de fora, 500 metros
adiante, havia fumaça saindo
do edifício do Staff Esporte
Clube. Me esgueirei pelas ruínas perto do mar até os destroços de um trem-fantasma de
parque de diversões -trilhos
retorcidos, vagões destruídos.
Do lado oposto havia um carro em chamas, no interior do
qual repousava o cadáver da
mais recente vítima libanesa de
assassinato político.
E não era uma vítima qualquer. O homem que morreu a
bordo do veículo era Walid Eido, membro do Parlamento por
Beirute, juiz aposentado, uma
figura reverenciada -evidentemente, inimigo da Síria, porque
de outra forma não estaria
morto- e partidário de Saad
Hariri, filho de Rafik Hariri, o
ex-premiê assassinado em 14
de fevereiro de 2005.
O atentado matou dez pessoas. Eido foi morto em companhia de seu filho Khaled. O clube era um dos locais preferidos
dos adeptos de Hariri, mas, como de hábito, este assassinato
deve ter sido bem planejado,
bem coordenado, e pago com
enorme antecedência.
E que golpe isso representa
para o grupo político que Hariri
comanda. O partido majoritário dirigido por Hariri é o motivo para que o governo de Fouad
Siniora tenha sobrevivido, com
ajuda -Deus os abençoe- dos
norte-americanos, depois que o
Hizbollah decidiu abandonar a
coalizão governista e convenceu seis ministros xiitas a deixar o gabinete, no ano passado.
Poderia haver um alvo mais
devastador para os inimigos do
governo libanês? Walid Eido
representava um distrito no
conturbado bairro de Basta, o
reduto dos muçulmanos sunitas em Beirute. Ele era um político de inclinações populistas
que constantemente criticava a
"interferência" síria nos assuntos libaneses e mais recentemente passou a condenar as
ações políticas do Hizbollah
contra o governo.
Logo depois do atentado, a
reação inicial era de choque.
Mas, no Líbano, novas crises
são sempre piores do que as
precedentes. Cada assassinato
-de um político comunista,
jornalista proeminente ou parlamentar cristão-, cada surto
de violência guerrilheira -61
soldados libaneses foram mortos em combate contra a Fatah
al Islam, no norte do país- acelera o deslizamento do país na
direção do abismo.
Ao longo dos últimos meses,
as bombas vêm sendo detonadas sempre perto da meia-noite. O objetivo dos atentados é
ameaçar, não matar. Mas e se a
próxima bomba for detonada
ao meio-dia? Quantas vítimas
ela causará? Se as multidões
que saíram às ruas nas áreas
operárias de Basta puderam ser
contidas hoje pelos soldados do
Exército (quase todos xiitas),
quem garante que o mesmo será possível amanhã?
Os libaneses merecem elogios por se terem recusado a
iniciar uma nova guerra civil a
despeito de todas as provocações. Mas estas não chegaram
ao fim, de maneira nenhuma.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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