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"Não" irlandês a tratado põe Europa em crise
Eleitorado nega em referendo a ratificação do Tratado de Lisboa, que visava mudar funcionamento da União Européia
Texto precisava de apoio unânime para entrar em vigor ; governantes dos 27 países do bloco vão se reunir na quinta buscando solução
France Presse
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Mulher passa em frente a muro da capital Dublin com a pichação "não a Lisboa"; rejeição de tratado por irlandeses impossibilita sua adoção pela União Européia
DA REDAÇÃO
Os eleitores da República da
Irlanda mergulharam a União
Européia na mais grave de suas
recentes crises, ao rejeitarem
em referendo, por 53,4% a
47,6%, a ratificação do Tratado
de Lisboa, novo conjunto de
normas para o funcionamento
do bloco de 27 países.
O resultado da votação de
quinta-feira, anunciado ontem,
compromete de vez o cronograma pelo qual o tratado passaria a vigorar em janeiro.
Os irlandeses, por exigência
constitucional, são os únicos cidadãos europeus que opinariam sobre o tratado por meio
do voto popular. Nos demais
países da UE, a ratificação vem
ocorrendo pelos Parlamentos.
O primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, politicamente enfraquecido pelo resultado,
dará explicações aos governantes do bloco, em reunião de cúpula marcada para a próxima
quinta-feira, em Bruxelas.
O encontro também definirá
o que poderá acontecer a partir
de agora. José Manuel Barroso,
presidente da Comissão Européia, braço executivo da UE,
exortou os demais países a
prosseguirem o processo de ratificação do tratado.
Na corrente contrária, Vaclav Klaus, presidente da República Tcheca -um dos países
onde o texto ainda não foi ratificado-, disse que "o Tratado
de Lisboa está morto".
Para o eurodeputado Martin
Schulz, líder da bancada socialista no Parlamento Europeu, o
referendo na Irlanda relançará
o debate sobre "a Europa com
duas velocidades", na qual alguns Estados-membros querem acelerar o processo de integração, enquanto outros
acreditam que essa integração
já é excessiva e compromete os
seus interesses nacionais.
O Tratado de Lisboa foi criado justamente em substituição
ao mais ambicioso projeto de
uma Constituição européia, rechaçado em 2005 também em
referendos populares, daquela
vez na França e na Holanda.
Abstenção menor
Compareceram para votar
53% dos 3 milhões de eleitores,
número elevado num país em
que o voto é facultativo e acima
das projeções iniciais, que indicavam 60% de abstenção.
Em 2001, quando os mesmos
irlandeses rejeitaram o Tratado de Nice (conjunto anterior
de leis da UE), o comparecimento foi inferior, 35%, o que
legitimou o governo de Dublin
a negociar com seus parceiros
do bloco pequenas mudanças
no texto e convocar uma nova
votação. A manobra não poderá
ser repetida agora com a mesma facilidade, diante de uma
abstenção bem menor.
Haviam feito campanha pelo
"sim" os principais sindicatos,
grupos empresariais e associações de agricultores. Os partidários do "não" formavam um
bloco heterogêneo, com católicos tradicionalistas, nacionalistas do Sinn Fein, grupos de esquerda e empresários isolados.
Segundo a Reuters, a campanha pelo "não" sensibilizou um
grupo crescente de trabalhadores mais modestos que se sente
cada vez mais afastado das elites políticas de Dublin e de Bruxelas, sede da União Européia.
Nos subúrbios ao sul de Dublin, de maior poder aquisitivo,
o "sim" obteve 63%, enquanto
nos bairros operários da cidade
venceu o "não", com 65%.
Aborto e casamento gay
A campanha pelo "não" foi
mais eficiente ao levantar bandeiras de fácil compreensão,
como a discutível possibilidade
de a Irlanda se tornar vulnerável à legalização do aborto, da
eutanásia e do casamento gay.
Num plano mais elaborado,
afirmavam que a integração na
área da defesa comprometeria
a histórica neutralidade irlandesa ou que a adoção de impostos mais elevados para empresas estrangeiras levaria à emigração de corporações que têm
no país suas sedes européias
(Google, Pfizer ou Intel).
Segundo o "Le Monde", os
argumentos em favor do "não"
foram amplificados pelos jornais do magnata Rupert Murdoch, visto como adversário da
UE. São dele o "Irish Sun" e o
"Irish News of the World".
Com agências internacionais
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