São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Iraque anuncia impasse em acordo com EUA

Proposta americana para manter suas tropas após fim do atual mandato da ONU fere a soberania iraquiana, diz premiê

Dirigente iraquiano cita imunidade de mercenários como empecilho; escalada retórica de Bagdá atende demanda doméstica

DA REDAÇÃO

Iraque e Estados Unidos chegaram a um impasse sobre o acordo que permitirá a permanência americana no país após o término do mandato da ONU, no final do ano. As demandas da Casa Branca ferem a soberania estatal iraquiana, afirmou ontem o premiê Nuri al Maliki, refletindo uma idéia hegemônica entre políticos iraquianos.
Para Maliki, os termos propostos inicialmente pelos EUA são inaceitáveis. "As negociações continuarão com novas idéias até as partes chegarem a uma fórmula que preserve a soberania iraquiana", disse o líder xiita, em viagem à Jordânia.
O acordo, que estabelece as bases legais para a presença de longo prazo dos EUA no país árabe, é decisivo para forjar a continuidade das políticas do governo de George W. Bush.
A incapacidade de costurar um consenso com seus aliados iraquianos fragiliza o presidente no ano eleitoral americano, num momento em que os rivais democratas pedem o fim da guerra.
Bagdá quer diminuir a interferência de Washington em assuntos internos e obter maior controle sobre as operações militares americanas. O Pentágono insiste em manter sua autonomia operacional e a imunidade de seus soldados e agentes de segurança terceirizados.
A impunidade dos mercenários estrangeiros, que não se submetem à Justiça militar nem aos tribunais civis do Iraque, revolta a população.
Agentes privados de segurança se envolveram em vários delitos desde a invasão, há quatro anos, e são acusados de abusos dos direitos humanos.

Negociação difícil
"O Iraque rejeita a insistência de Washington em garantir às suas forças imunidades às leis e tribunais iraquianos", afirmou Maliki, que enumerou outros três pontos inaceitáveis na proposta americana.
"Nós rejeitamos a demanda de Washington de realizar livremente operações militares sem cooperação com o governo iraquiano. Não podemos dar permissão para que forças independentes prendam iraquianos ou executem operações contraterroristas. E não podemos permitir que usem nossos espaços aéreo e marinho a todo momento", afirmou.
Equilibrando-se em meio a frágeis alianças, Maliki sofre intensa pressão para não ceder a termos ditados pelos EUA. O acordo, promete o premiê, será submetido ao Parlamento iraquiano para a aprovação final.
Negociadores americanos apresentaram novas propostas nesta semana, numa tentativa de fechar o acordo no próximo mês. Os EUA não comentaram o teor das alterações.
Políticos iraquianos envolvidos na negociação afirmam que Washington pode ceder na exigência de imunidade para os agentes civis -o privilégio seria mantido para os militares.
Os EUA estão dispostos a notificar o Iraque de movimentações militares e a entregar suspeitos detidos às autoridades nacionais, segundo relatos dos congressistas, que consideram as mudanças insuficientes.

Jogo de cena
O tom firme usado ontem pelo premiê Maliki pode ser diferente da posição iraquiana nas negociações, insinuou em Bruxelas o secretário da Defesa norte-americano, Robert Gates. Acusado por opositores de ser um preposto da Casa Branca, o premiê tem buscado um maior distanciamento público de Washington.
A administração Bush continua otimista sobre o acordo bilateral, afirmou o enviado americano à ONU, Zalmay Khalilzad. "Essas questões são muito complexas e discussões estão ocorrendo em um nível técnico", disse Khalilzad.


Com o "New York Times", o "Financial Times" a agências internacionais

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