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Iraque anuncia impasse em acordo com EUA
Proposta americana para manter suas tropas após fim do atual mandato da ONU fere a soberania iraquiana, diz premiê
Dirigente iraquiano cita imunidade de mercenários como empecilho; escalada retórica de Bagdá atende demanda doméstica
DA REDAÇÃO
Iraque e Estados Unidos chegaram a um impasse sobre o
acordo que permitirá a permanência americana no país após
o término do mandato da ONU,
no final do ano. As demandas
da Casa Branca ferem a soberania estatal iraquiana, afirmou
ontem o premiê Nuri al Maliki,
refletindo uma idéia hegemônica entre políticos iraquianos.
Para Maliki, os termos propostos inicialmente pelos EUA
são inaceitáveis. "As negociações continuarão com novas
idéias até as partes chegarem a
uma fórmula que preserve a soberania iraquiana", disse o líder
xiita, em viagem à Jordânia.
O acordo, que estabelece as
bases legais para a presença de
longo prazo dos EUA no país
árabe, é decisivo para forjar a
continuidade das políticas do
governo de George W. Bush.
A incapacidade de costurar
um consenso com seus aliados
iraquianos fragiliza o presidente no ano eleitoral americano,
num momento em que os rivais
democratas pedem o fim da
guerra.
Bagdá quer diminuir a interferência de Washington em assuntos internos e obter maior
controle sobre as operações
militares americanas. O Pentágono insiste em manter sua autonomia operacional e a imunidade de seus soldados e agentes
de segurança terceirizados.
A impunidade dos mercenários estrangeiros, que não se
submetem à Justiça militar
nem aos tribunais civis do Iraque, revolta a população.
Agentes privados de segurança se envolveram em vários
delitos desde a invasão, há quatro anos, e são acusados de abusos dos direitos humanos.
Negociação difícil
"O Iraque rejeita a insistência de Washington em garantir
às suas forças imunidades às
leis e tribunais iraquianos",
afirmou Maliki, que enumerou
outros três pontos inaceitáveis
na proposta americana.
"Nós rejeitamos a demanda
de Washington de realizar livremente operações militares
sem cooperação com o governo
iraquiano. Não podemos dar
permissão para que forças independentes prendam iraquianos ou executem operações
contraterroristas. E não podemos permitir que usem nossos
espaços aéreo e marinho a todo
momento", afirmou.
Equilibrando-se em meio a
frágeis alianças, Maliki sofre intensa pressão para não ceder a
termos ditados pelos EUA. O
acordo, promete o premiê, será
submetido ao Parlamento iraquiano para a aprovação final.
Negociadores americanos
apresentaram novas propostas
nesta semana, numa tentativa
de fechar o acordo no próximo
mês. Os EUA não comentaram
o teor das alterações.
Políticos iraquianos envolvidos na negociação afirmam que
Washington pode ceder na exigência de imunidade para os
agentes civis -o privilégio seria
mantido para os militares.
Os EUA estão dispostos a notificar o Iraque de movimentações militares e a entregar suspeitos detidos às autoridades
nacionais, segundo relatos dos
congressistas, que consideram
as mudanças insuficientes.
Jogo de cena
O tom firme usado ontem pelo premiê Maliki pode ser diferente da posição iraquiana nas
negociações, insinuou em Bruxelas o secretário da Defesa
norte-americano, Robert Gates. Acusado por opositores de
ser um preposto da Casa Branca, o premiê tem buscado um
maior distanciamento público
de Washington.
A administração Bush continua otimista sobre o acordo bilateral, afirmou o enviado americano à ONU, Zalmay Khalilzad. "Essas questões são muito
complexas e discussões estão
ocorrendo em um nível técnico", disse Khalilzad.
Com o "New York Times", o "Financial Times" a
agências internacionais
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