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Mulheres com a doença já são
maioria em 207 cidades do Brasil
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 207 cidades brasileiras, há
mais casos de Aids notificados em
2003 entre mulheres do que entre
homens. Os municípios são, em
sua maioria, pequenos, e o número de casos da doença parece insignificante. No país, há 3.906
municípios com casos de Aids.
A preocupação, no entanto
-alertam os técnicos da Coordenação Nacional de DST/Aids-, é
que, nessas 207 cidades, a Aids está começando pelas mulheres.
Em Barbosa Ferraz, no Paraná,
por exemplo, há seis mulheres
com a doença e nenhum homem.
Em Santo Antonio da Posse, em
São Paulo, são 20 mulheres para
14 homens. Em Novo Horizonte,
também em São Paulo, há 14 mulheres para nove homens. São cidades pacatas, sem região portuária, histórico de prostituição ou de
uso de droga injetável.
Em 89 dessas cidades, há mulheres com Aids, mas nenhum
homem com a doença. A explicação, entre outras, seria o fato de a
mulher adoecer mais rápido do
que o homem. A situação é mais
grave no Norte, onde a Aids está
chegando agora, dizem os técnicos. Nas cidades dessa região, as
mulheres são a grande maioria.
Os dados do Ministério da Saúde se referem aos casos notificados de Aids -quando alguma
doença oportunista já se manifestou. No total do país e desde o início da epidemia, são 310.310 casos
da doença, com 160 mil mortes.
Do total, 71,1% são homens. No
início dos anos 80, o número de
homens para cada mulher com
Aids chegou a 28 por 1. Atualmente, ele é de 1,8 por 1. Em muitos lugares, segundo o atual estudo, elas já são maioria.
Os números não consideram os
novos casos de HIV -quando a
pessoa tem o vírus e, às vezes,
nem sabe. A julgar pelas tendências, as novas infecções podem estar crescendo em velocidade muito maior entre as mulheres.
Desigualdades
Esse quadro confirma o que especialistas e técnicos da Coordenação de Aids vêm alertando há
anos: a epidemia, que parece controlada entre os grupos de maior
escolaridade e dos grandes centros, está avançando pelo interior
do país, infectando os mais pobres, os mais jovens e, especialmente, as mulheres.
Esse é o alerta que vem sendo
feito ao longo da 15º Conferência
Mundial de Aids, que acontece
em Bancoc. É também o tema
principal de extenso documento
divulgado hoje no mundo pelo
Unifem, Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as
Mulheres.
O texto elogia o Brasil pelas
campanhas de prevenção que visam as mulheres e pelo trabalho
das ONGs. Segundo o Ministério
da Saúde, o Brasil é o único país a
distribuir gratuitamente camisinha feminina -4 milhões neste
ano.
"O crescimento da Aids entre as
mulheres, especialmente entre as
meninas, se deve às desigualdades
que persistem no país. Estas as
tornam mais vulneráveis", diz
Monica Muñoz, representante do
Unifem no Brasil. Entre essas desigualdades estão o machismo, a
violência, a dupla jornada de trabalho. "São as mulheres, as meninas, que cuidam dos homens
quando eles caem doentes", diz.
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