São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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Mulheres com a doença já são maioria em 207 cidades do Brasil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 207 cidades brasileiras, há mais casos de Aids notificados em 2003 entre mulheres do que entre homens. Os municípios são, em sua maioria, pequenos, e o número de casos da doença parece insignificante. No país, há 3.906 municípios com casos de Aids.
A preocupação, no entanto -alertam os técnicos da Coordenação Nacional de DST/Aids-, é que, nessas 207 cidades, a Aids está começando pelas mulheres. Em Barbosa Ferraz, no Paraná, por exemplo, há seis mulheres com a doença e nenhum homem. Em Santo Antonio da Posse, em São Paulo, são 20 mulheres para 14 homens. Em Novo Horizonte, também em São Paulo, há 14 mulheres para nove homens. São cidades pacatas, sem região portuária, histórico de prostituição ou de uso de droga injetável.
Em 89 dessas cidades, há mulheres com Aids, mas nenhum homem com a doença. A explicação, entre outras, seria o fato de a mulher adoecer mais rápido do que o homem. A situação é mais grave no Norte, onde a Aids está chegando agora, dizem os técnicos. Nas cidades dessa região, as mulheres são a grande maioria.
Os dados do Ministério da Saúde se referem aos casos notificados de Aids -quando alguma doença oportunista já se manifestou. No total do país e desde o início da epidemia, são 310.310 casos da doença, com 160 mil mortes. Do total, 71,1% são homens. No início dos anos 80, o número de homens para cada mulher com Aids chegou a 28 por 1. Atualmente, ele é de 1,8 por 1. Em muitos lugares, segundo o atual estudo, elas já são maioria.
Os números não consideram os novos casos de HIV -quando a pessoa tem o vírus e, às vezes, nem sabe. A julgar pelas tendências, as novas infecções podem estar crescendo em velocidade muito maior entre as mulheres.

Desigualdades
Esse quadro confirma o que especialistas e técnicos da Coordenação de Aids vêm alertando há anos: a epidemia, que parece controlada entre os grupos de maior escolaridade e dos grandes centros, está avançando pelo interior do país, infectando os mais pobres, os mais jovens e, especialmente, as mulheres.
Esse é o alerta que vem sendo feito ao longo da 15º Conferência Mundial de Aids, que acontece em Bancoc. É também o tema principal de extenso documento divulgado hoje no mundo pelo Unifem, Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres.
O texto elogia o Brasil pelas campanhas de prevenção que visam as mulheres e pelo trabalho das ONGs. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil é o único país a distribuir gratuitamente camisinha feminina -4 milhões neste ano.
"O crescimento da Aids entre as mulheres, especialmente entre as meninas, se deve às desigualdades que persistem no país. Estas as tornam mais vulneráveis", diz Monica Muñoz, representante do Unifem no Brasil. Entre essas desigualdades estão o machismo, a violência, a dupla jornada de trabalho. "São as mulheres, as meninas, que cuidam dos homens quando eles caem doentes", diz.


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