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Republicanos querem votar guerra de novo
Senadores governistas pedem que presidente revalide autorização do Legislativo e propõem retirada a partir do fim do ano
Para dissidentes, aprovação dada em 2002 está obsoleta sem Saddam e sem arsenal proibido; proposta deve ser votada na próxima semana
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Alvejado todos os dias pela
oposição democrata e com sua
relação com o Congresso estremecida, George W. Bush tornou-se vítima de "fogo amigo".
Críticas surgidas dentro de seu
partido nas últimas semanas
culminaram ontem numa proposta, de dois senadores republicanos proeminentes, para
que o presidente dos EUA peça
uma nova autorização para a
Guerra do Iraque ao Legislativo
e prepare até 16 de outubro um
plano que incluiria o início da
retirada do país no fim do ano.
"Diante do nível de violência
no Iraque, que permanece elevado, e das poucas manifestações de compromisso político
das facções [iraquianas], o ideal
de um governo unificado, pluralista e democrático -que seja
capaz de garantir a segurança,
proteger as fronteiras e buscar
o desenvolvimento econômico- provavelmente não será
atingido no futuro próximo",
diz a medida proposta, elaborada por John Warner e Richard
Lugar -dois dos mais influentes parlamentares nos assuntos
relacionados a defesa e relações
internacionais.
O texto alega, entre outras
coisas, que uma nova autorização é necessária porque aquela
concedida em 2002 -que permitiu a invasão do Iraque em
março de 2003- estava, no entendimento de alguns legisladores, limitada à deposição do
ditador Saddam Hussein, executado em dezembro último, e
à busca de armas de destruição
em massa, nunca encontradas.
"Muitas das condições e dos
motivos que havia quando autorizamos o uso da força, cinco
anos atrás, não existem mais ou
são irrelevantes na atual situação", explicou Lugar. "Tal autorização está obsoleta."
Desgaste
Esse novo golpe para o já
combalido governo Bush veio
no dia seguinte à divulgação,
pela Casa Branca, de um relatório enumerando alguns progressos feitos na guerra -significativos na sua avaliação, quase nulos para os críticos e os especialistas. Comentando o documento, o presidente repetiu
estar confiante na vitória e pediu aos parlamentares que
aguardem até setembro, quando o comandante das tropas
americanas no Iraque, general
David Petraeus, falará sobre o
andamento das operações.
No entanto, ambos os lados
do Congresso se mostram cada
vez mais impacientes e caminham para tirar de Bush o controle do rumo da guerra.
Na quinta-feira, a Câmara
dos Representantes aprovou
medida que solicita que as tropas dêem início à retirada em
120 dias para encerrá-la até 30
de abril de 2008, permanecendo no Iraque apenas unidades
essenciais para o treinamento
das forças de segurança do país.
É a sexta proposta que define
uma data para os soldados começarem a regressar aos EUA.
Apenas uma passou pelas duas
Casas e chegou à mesa do presidente, em maio -porém ela foi
vetada com a justificativa de
que não cabe aos parlamentares o papel de estrategistas.
Bush já avisou que vetará novamente qualquer lei que fixe
cronogramas. Mas cumprir a
promessa significaria, para ele,
outro enorme desgaste e o aumento da animosidade entre o
Executivo e o Legislativo, que
já se encontra em patamares
não alcançados desde o escândalo Watergate, nos anos 70.
Lugar e Warner defendem
que o Congresso e a Casa Branca passem por cima das suas diferenças e pensem juntos em
medidas que possam ser implementadas para acabar com a
guerra. "Continuo a aconselhar
o presidente e seu governo a se
mexerem para construir uma
política mais sustentável para o
Iraque", comentou Lugar. "A
estratégia militar e diplomática
americana deve ser ajustada à
realidade de que as lutas sectárias não dão sinais de arrefecimento no curto prazo e não podem ser controladas de cima."
Dentro de uma programação
de debates sobre a guerra, esse
projeto deve ser apreciado na
próxima semana.
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