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CRENÇAS EXÓTICAS
Especialista diz que até 4.000 novas denominações surgem todo ano, período em que somem outras 2.000
Religiões brotam e morrem aos milhares
VITOR PAOLOZZI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para muitas pessoas, a religião é
uma forma de compreender melhor o universo. Se aceitarmos essa noção, tudo indica que a humanidade parece cada vez mais distante de encontrar as respostas
que procura há milênios. Vem
crescendo em ritmo acelerado o
número de novas religiões em todos os cantos do planeta.
Gordon Melton, fundador do
Instituto para o Estudo da Religião Americana e editor da "Enciclopédia das Religiões Americanas", calcula que a cada ano surgem de 3.000 a 4.000 novas religiões no mundo -ou seja, por
volta de dez por dia. Trata-se apenas de uma estimativa, já que é
impossível saber com certeza o
número exato.
"A maioria das novas religiões é
tão pequena e de vida tão curta
que elas não chegam a ser notadas
pela mídia, pelas autoridades ou
por acadêmicos", diz Lorne Dawson, diretor do departamento de
Estudos Religiosos da Universidade de Waterloo (Canadá).
Melton acredita que, das novas
religiões, de mil a 2.000 desaparecem anualmente. "As pessoas fazem releases dizendo que fundaram uma nova religião, mas não
fazem releases para contar que
elas morreram."
As dificuldades para fazer tal levantamento também esbarram
na própria definição de religião.
"Quando usamos o termo religião, o usamos como o equivalente de denominações cristãs. Há
entre cerca de 40 mil e 60 mil religiões diferentes no mundo. Pode-se dizer cerca de 50 mil, a grosso
modo", afirma Melton.
Segundo Christopher Partridge,
da Universidade de Chester (Reino Unido) e editor do "Dicionário
de Religiões Contemporâneas no
Mundo Ocidental", mais da metade dessas religiões são variações
do cristianismo.
"Há 33.830 diferentes denominações cristãs, por exemplo: catolicismo romano, assembléias de
Deus, metodismo. Também deve
ser observado que algumas religiões são confinadas a áreas geográficas específicas e, às vezes, a
grupos étnicos únicos. Se estabelecemos o critério do que constitui uma "grande religião mundial"
como a presença em mais de um
único país, há talvez apenas 22
grandes religiões mundiais, incluindo, é claro, cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo e hinduísmo", diz Partridge.
Dawson aponta os EUA como o
centro da renovação religiosa no
Ocidente. "No mundo, a África
tem essa posição, com cerca de
dez vezes mais novas religiões do
que os EUA, que, por sua vez, superam em muito a Europa."
Para Melton, são duas as razões
que explicam o fenômeno da
multiplicação das religiões: a urbanização e a ampliação das liberdades, incluindo a religiosa, em
várias partes do mundo. "No século 19 nos EUA, as velhas religiões moveram-se para o oeste,
seguindo os pioneiros. As novas
religiões se formaram nas cidades
e se moveram de uma cidade para
a outra, sendo largamente ausentes no campo. No século 19 esses
centros urbanos verdadeiramente
floresceram e aí a taxa de surgimento de novas religiões cresceu.
E vem crescendo até hoje."
"Na América Latina tornou-se
um fenômeno do século 20, largamente vinculado ao declínio e fim
do colonialismo e à ascensão de
culturas indígenas, exigindo seus
lugares na sociedade. Na África, o
colonialismo teve o efeito de impor todos os tipos de grupos cristãos. O seu fim permitiu o aparecimento de um grande número de
novas religiões africanas", diz
Melton.
A maioria das novas religiões
têm sua origem no cristianismo,
no islamismo ou no budismo. Geralmente elas surgem como um
racha. "As pessoas acham que
uma determinada religião se tornou muito mundana ou corrupta
e decidem se separar dessa tradição, fundando uma nova religião,
que acreditam ser fiel à revelação
original", diz Partridge.
"É muito difícil achar uma nova
religião totalmente a partir do zero. Elas vão pegar o que gostam
[da velha religião] e mudar o que
não gostam. A maioria das exceções, como a Igreja da Unificação,
faz a fusão de duas tradições [no
caso da igreja do reverendo
Moon, do cristianismo com religiões coreanas], afirma Melton.
Anjos extraterrestres
As novas religiões costumam
refletir a época em que surgem.
Nos anos 50, quando era grande o
entusiasmo pela descoberta de vida extraterrestre, houve um
"boom" de religiões em que deuses e anjos eram seres de outros
planetas.
"Mas havia problemas: no início, a idéia era de que esses seres
viriam de planetas relativamente
próximos, como Marte. Essa idéia
foi destruída quando começamos
a explorar o espaço. Então agora
eles vêm de galáxias distantes",
diz Melton.
Atualmente, há uma tendência
em várias religiões de vincular a
proteção ao ambiente à espiritualidade. Algumas religiões na África realizam suas cerimônias ao ar
livre, como forma de despertar a
consciência ecológica.
Partridge também destaca o
aparecimento do que chama de
"espiritualidade alternativa".
"Uma das mudanças mais significativas, particularmente na religiosidade dos ocidentais, é a
emergência de formas não-institucionais e privadas de crença e
práticas. Há um distanciamento
de formas tradicionais de crença
que se desenvolveram dentro das
instituições religiosas em direção
a formas de crença que focam no
indivíduo ["self'], na natureza ou
simplesmente na "vida'", afirma
Partridge.
"Na busca de uma espiritualidade alternativa, a pessoa pode tirar
inspiração dos ensinamentos de
Jesus, das idéias taoístas, até mesmo da importância espiritual de
golfinhos e discos-voadores.
Qualquer que seja a opção, essa
pessoa irá seguir um caminho traçado a seu modo, que se foca no
"self" e que se distingue do que
normalmente seria classificado
como "religião"."
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