São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2010

Próximo Texto | Índice

Santos põe freio a diálogo de paz com Farc

Um dia após atentado do qual guerrilha é suspeita, presidente desautoriza "gestões paralelas" visando acordo

Colombiano diz que porta do diálogo não está trancada a chave, mas afirma que não é momento de abri-la


Jaime Saldarriaga/Reuters
O presidente colombiano, Juan Manuel (no centro), acompanhado do ministro da Defesa, Rodrigo Rivera, e de chefes militares em Popayán

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, desautorizou ontem gestões internas ou externas para buscar diálogo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Disse que essa é uma prerrogativa exclusiva de seu governo.
"Está absolutamente desautorizada toda gestão paralela", disse Santos. "Muitos quiseram insinuar que podem fazer uma gestão aqui ou fora. Obrigado, mas não. Nem no exterior nem aqui na Colômbia", continuou.
Anteontem, a senadora colombiana de oposição Piedad Córdoba, que negociou a liberação de reféns pelas Farc nos últimos três anos, se reuniu com o ex-ditador Fidel Castro, em Cuba, para discutir um "roteiro de paz" para a Colômbia.
Um dia depois do atentado com carro-bomba que atingiu o centro financeiro de Bogotá, Santos fez também referência a seu discurso de posse, há uma semana, quando disse que "a porta do diálogo" com os grupos ilegais não estava "fechada com chave".
"O governo, quando considerar que as circunstancias estão dadas -e não estão dadas- abrirá a porta [para o diálogo]", afirmou, em discurso ante militares em Popayán, a 600 km de Bogotá.
Santos voltou a explicitar suas condições para o diálogo: que a guerrilha libere os reféns em seu poder, que renuncie a atos terroristas e aos vínculos com o narcotráfico.

CHÁVEZ E RECOMPENSA
Nas últimas semanas, o governo Hugo Chávez promoveu na região um plano de paz para a Colômbia. Na terça, porém, Chávez selou trégua com o governo Santos e assinou termo no qual os dois países se comprometem a não "ingerir" em seus respectivos assuntos internos .
Ao lado de Santos, o venezuelano se limitou a dizer, que, "se fosse o chefe da guerrilha", buscaria a paz, emendando que esse é um tema colombiano.
Ontem, Juan Manuel Santos ofereceu US$ 273 mil em recompensa em troca de informações sobre o atentado que atingiu as instalações da cadeia de rádio Caracol, a maior do país.
O ataque provocou ferimentos leves em 18 pessoas e danos em 424 casas, 124 pontos comerciais e 18 carros.
As Forças Armadas e o Ministério Público disseram ontem que não se podem descartar, ainda, hipóteses sobre os autores da explosão.
Segundo o jornal "El Espectador", o DAS, a agência de inteligência colombiana, afirma ter interceptado a ordem de um chefe das Farc para atentar contra um meio de comunicação.
Os principais veículos da mídia colombiana mencionam três hipóteses de autoria do atentado: as Farc, traficantes ou a extrema-direita.
No primeiro caso, as Farc buscariam uma ação de impacto para iniciarem fortalecidas uma eventual negociação com Santos.
O líder máximo da guerrilha, Alfonso Cano, propôs, em vídeo, diálogo com o governo. Há analistas, porém, que questionam a influência de Cano sobre os cerca de 8.000 combatentes das Farc, especialmente sobre a frente que atua no leste do país.
Já a extrema-direita estaria incomodada com os acenos de diálogo de Santos tanto à guerrilha como à Justiça, que investiga escândalos do governo de seu antecessor, Álvaro Uribe.


Próximo Texto: Brasil fez "apelo" por iraniana, diz chanceler
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.