São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011 |
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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo. DE NOVO, A CRISE Rebaixamento de nota dos EUA reforça tese dos 'declinistas' Observadores apontam perda da influência americana no mundo e preveem mudança profunda na política externa Para outros analistas, porém, país ainda tem chance de superar seu 'momento Sputnik' e se manter na liderança PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO Foi mais um momento "eu te disse" para os arautos da decadência americana. O rebaixamento dos EUA pela agência Standard & Poor's, na semana passada, após impasse político que quase levou ao calote na dívida do país, reforçou as teorias dos "declinistas". Esse grupo de observadores, cada vez maior, considera inexorável o declínio da influência americana no mundo. São acadêmicos como Michael Mandelbaum, diretor do programa de política externa americana da Universidade Johns Hopkins, para quem ficou claro que o império vai ter que apertar o cinto - e, com isso, haverá menos dinheiro para manter sua influência ao redor do mundo. Para "declinistas" como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, Gideon Rachman, colunista do "Financial Times", e Andrew Bacevich, da Universidade de Boston, os EUA deixaram de ser líderes da economia mundial após a crise de 2008 e nenhum outro país tem a alavancagem política ou econômica para substituí-los. Uma das principais consequências, dizem eles, será uma mudança profunda na política externa do país. Mandelbaum acha que os EUA não têm mais o cacife financeiro para continuar sendo o policial mundial, fazer projetos de "construção de nação" em países como Haiti, Kosovo e Afeganistão ou manter um aparato de bases na Otan. A dívida americana está próxima de US$ 14,5 tri, ou 95% do PIB (no Brasil, corresponde a 37% do PIB). A situação fiscal dos EUA a longo prazo é insustentável. E agora, com os cortes de estímulos do governo a curto prazo, o país tem grandes chances de cair de novo em recessão. Larry Summers, ex-assessor econômico do presidente Barack Obama, já questionou por quanto tempo "o maior devedor mundial pode continuar a ser a maior potência". De forma sintomática, o orçamento da Defesa será um dos maiores atingidos pelo corte de gastos. O acordo do dia 2 de agosto prevê corte de US$ 1 trilhão ao longo de dez anos -US$ 350 bilhões virão da Defesa, calcula Mandelbaum. A segunda parte do corte, de até US$ 1,5 trilhão, pode atingir o setor também. Não é barato se manter como a única superpotência global: as bases dos EUA pelo mundo custam bilhões de dólares. No Afeganistão, são 90 mil soldados, ao custo de US$ 90 bilhões por ano. Como os EUA vivem financiados por China e outros países, é como se pagassem a guerra com cartão de crédito chinês. "Somos cativos de outros países, principalmente da China; abrimos mão da nossa liberdade de escolha", disse Bacevich à Folha. Para ele, os EUA precisam começar a fazer sacrifícios, como retirar gradualmente as tropas da Otan, para recuperar um pouco o poder do Exército, hoje exaurido. Nem todos, porém, são tão pessimistas. "Os partidos deveriam agarrar este 'momento Sputnik' para deter o declínio do país", escreveu no "FT" Mohamed El-Erian, diretor-executivo da Pimco. Em 1957, a União Soviética pôs em órbita o satélite Sputnik, no auge da Guerra Fria. Os EUA superaram a humilhação e investiram tudo na corrida espacial, que culminou no país levando o primeiro homem à Lua, em 1969. Obama também tem essa esperança. De mais a mais, os "declinistas" da história têm sido sistematicamente desmentidos pela resiliência dos EUA. A URSS na Guerra Fria e o Japão nos anos 80, como agora a China, já foram os grandes rivais que iriam acabar com a hegemonia norte-americana. E os EUA se mantiveram líderes. Próximo Texto: Contas em xeque: Agência que rebaixou o país será investigada Índice | Comunicar Erros |
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