São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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Violência inibe ação direta da ONU na região

DO ENVIADO A MOGADÍCIO

Atuando há 30 anos em áreas de conflito, a médica alemã Luitgard Wiest levou um choque ao chegar a Mogadício, há duas semanas. "Estive em muitos lugares difíceis, como Paquistão, Iraque, Afeganistão. Nada do que vivi me preparou para a Somália", diz. "Aqui, não damos um passo sem escolta."
As precárias condições de segurança na Somália não são desafio só para ativistas. A fim de evitar riscos, a ONU delega a organizações locais a assistência à população.
O resultado é um trabalho por "controle remoto", que impossibilita uma fiscalização rigorosa e abre brechas para desvios. A falta de trabalho de campo efetivo também cria estatísticas que nem sempre refletem a realidade.
O governo dos EUA estima que 29 mil crianças abaixo de cinco anos morreram de fome na Somália desde maio. Uma funcionária do Programa Mundial de Alimentação disse à Folha que o número não tem base estatística.
Fechados em fortificações militares superprotegidas pelas forças de paz da União Africana, os funcionários da ONU têm pouca mobilidade e acesso limitado aos locais de distribuição dos recursos enviados pela organização.
Na última semana, a sensação de insegurança diminuiu um pouco na violentíssima capital somali depois que o grupo islâmico Al Shabab, ligado à Al Qaeda, se retirou de Mogadício. O motivo permanece um mistério.
"Acordamos e eles já não estavam mais aqui", diz o cirurgião Mohammed Yusuf, diretor do Hospital Medina. Embora em escala menor, a violência continuou. A insegurança é também um grande negócio. Temerosos de caírem nas mãos de sequestradores, jornalistas estrangeiros pagam até US$ 1.000 por dia por escoltas armadas. Mesmo de carro, as saídas são curtas e tensas.
Disputas envolvendo milícias locais e soldados também comprometem a assistência humanitária. Na semana passada, sete pessoas foram mortas no campo de Badbaado ao tentar impedir que soldados roubassem um caminhão com alimentos.
"Não adianta mandar comida. É preciso assegurar que ela chegará a quem precisa", disse à Folha Fatma Hassan, diretora da organização local que organizava a distribuição. Segundo ela, 60% do estoque foi roubado. (MN)


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