São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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Indústria do sequestro não poupa nem cachorro

do enviado especial a Bogotá

Goliat foi sequestrado e os sequestradores pedem 150 mil pesos para devolvê-lo (o que dá cerca de US$ 82).
Sinal de que a vida vale pouco na Colômbia? Não. Sinal de que a indústria do sequestro é tão disseminada que não poupa nem mesmo um cachorro pit bull como Goliat (Golias), da menina Maria Fernández Collados.
Goliat vai se juntar às 1.193 pessoas que permanecem em cativeiro no país, uma cifra recorde mesmo para a Colômbia.
Foram sequestradas por grupos guerrilheiros, por paramilitares de extrema-direita que os combatem ou por delinquentes comuns, relata José Alfredo Escobar, chefe do programa do governo que combate esse tipo de delito.
A cifra não inclui cerca de 300 soldados e policiais capturados pela guerrilha, para servir como moeda de troca por militantes presos (há cerca de 500 deles).
No ano passado já havia sido batido o recorde de sequestros (1.844 casos, muitos dos quais permanecem não resolvidos, do que resulta a cifra de 1.193 sequestrados ainda no cativeiro).
Trata-se, pelos cálculos das autoridades locais, da segunda principal atividade dos dois grandes grupos guerrilheiros (as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, e o ELN, Exército de Libertação Nacional).
Perde apenas para a proteção, a soldo, do tráfico de drogas, uma acusação que os guerrilheiros sempre negam, mas que é referendada até pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Mas os métodos das Farc e do ELN diferem bastante. As Farc não sequestram para pedir dinheiro, mas para obter a libertação de seus próprios detidos.
O ELN, sim, atua predominantemente na área de sequestros, atividade, aliás, que incrementou substancialmente depois que o governo decidiu conceder às Farc uma "zona de distensão" de 42 mil km2 (do tamanho do Estado do Rio). O ELN não obteve idêntica concessão.
"O sequestro criou uma nova onda de paranóia na Colômbia", diz Juan Francisco Mesa, diretor do Projeto País Livre, uma espécie de ONG (organização não-governamental) destinada a combater esse tipo de delito.
Mas a paranóia não é só pelo sequestro. A Colômbia é um dos países mais violentos do mundo, mesmo que se exclua do cálculo de vítimas as causadas pelo conflito armado entre guerrilheiros e militares, de um lado, e paramilitares e guerrilheiros, do outro.
No fim-de-semana passado, houve 74 homicídios extraconflito, a maioria (40) na cidade de Medellín. Para comparação: a média de homicídios em fins-de-semana em São Paulo é de 52.
Quanto à violência política, ela é diária, de que dá prova o fato de, anteontem, seis bombas terem explodido em agências bancárias da cidade de Cali. Foram colocadas pelas Farc como represália ao fato de os paramilitares estarem atuando na região.


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