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Indústria do sequestro não poupa nem cachorro
do enviado especial a Bogotá
Goliat foi sequestrado e os sequestradores pedem 150 mil pesos para devolvê-lo (o que dá cerca de US$ 82).
Sinal de que a vida vale pouco
na Colômbia? Não. Sinal de que a
indústria do sequestro é tão disseminada que não poupa nem mesmo um cachorro pit bull como
Goliat (Golias), da menina Maria
Fernández Collados.
Goliat vai se juntar às 1.193 pessoas que permanecem em cativeiro no país, uma cifra recorde mesmo para a Colômbia.
Foram sequestradas por grupos
guerrilheiros, por paramilitares
de extrema-direita que os combatem ou por delinquentes comuns,
relata José Alfredo Escobar, chefe
do programa do governo que
combate esse tipo de delito.
A cifra não inclui cerca de 300
soldados e policiais capturados
pela guerrilha, para servir como
moeda de troca por militantes
presos (há cerca de 500 deles).
No ano passado já havia sido
batido o recorde de sequestros
(1.844 casos, muitos dos quais
permanecem não resolvidos, do
que resulta a cifra de 1.193 sequestrados ainda no cativeiro).
Trata-se, pelos cálculos das autoridades locais, da segunda principal atividade dos dois grandes
grupos guerrilheiros (as Farc,
Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia, e o ELN, Exército de
Libertação Nacional).
Perde apenas para a proteção, a
soldo, do tráfico de drogas, uma
acusação que os guerrilheiros
sempre negam, mas que é referendada até pelo Unicef (Fundo
das Nações Unidas para a Infância).
Mas os métodos das Farc e do
ELN diferem bastante. As Farc
não sequestram para pedir dinheiro, mas para obter a libertação de seus próprios detidos.
O ELN, sim, atua predominantemente na área de sequestros,
atividade, aliás, que incrementou
substancialmente depois que o
governo decidiu conceder às Farc
uma "zona de distensão" de 42
mil km2 (do tamanho do Estado
do Rio). O ELN não obteve idêntica concessão.
"O sequestro criou uma nova
onda de paranóia na Colômbia",
diz Juan Francisco Mesa, diretor
do Projeto País Livre, uma espécie
de ONG (organização não-governamental) destinada a combater
esse tipo de delito.
Mas a paranóia não é só pelo sequestro. A Colômbia é um dos
países mais violentos do mundo,
mesmo que se exclua do cálculo
de vítimas as causadas pelo conflito armado entre guerrilheiros e
militares, de um lado, e paramilitares e guerrilheiros, do outro.
No fim-de-semana passado,
houve 74 homicídios extraconflito, a maioria (40) na cidade de
Medellín. Para comparação: a
média de homicídios em fins-de-semana em São Paulo é de 52.
Quanto à violência política, ela é
diária, de que dá prova o fato de,
anteontem, seis bombas terem
explodido em agências bancárias
da cidade de Cali. Foram colocadas pelas Farc como represália ao
fato de os paramilitares estarem
atuando na região.
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