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AMÉRICA LATINA
Em visita à Colômbia, presidente brasileiro deverá formalizar proposta de sediar encontro para reativar diálogo
Lula deve propor a Uribe reunião ONU-Farc
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deverá formalizar para o
presidente da Colômbia, Alvaro
Uribe, em Cartagena, na próxima
terça-feira, a proposta do Brasil de
sediar um encontro entre a ONU
(Organizações das Nações Unidas) e a guerrilha terrorista Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para tentar reiniciar o processo de paz. O conflito no país já dura quatro décadas.
Apesar de as Farc estarem na
agenda, Lula disse à Folha, numa
única frase, que o principal tema
de sua conversa com Uribe será
outro: "Vou convidar a Colômbia
a integrar o Mercosul". Oficialmente, ele irá a Cartagena para a
cerimônia de 40 anos da Organização Internacional do Café.
Segundo o chanceler Celso
Amorim, a intenção do Brasil ao
oferecer seu território para uma
nova tentativa de paz na Colômbia é modesta: o país não se oferece como "mediador", mas como
"terreno neutro". Na semana passada, o secretário-geral da ONU,
Kofi Annan, enviou seu assessor
James LeMoyne a Bogotá.
A participação da ONU tem o
apoio cauteloso dos EUA, principais aliados do governo colombiano contra a guerrilha. Os governos George W. Bush e Uribe
definem as FARC, fundada nos
anos 60 por rebeldes marxistas,
como um grupo terrorista e narcotraficante.
O Brasil, até agora, optou por
não se referir ao grupo como terrorista porque quer manter a porta aberta para ajudar numa eventual negociação. Mas já condenou
atentados feitos pela guerrilha.
"A posição do meu país é simplesmente a de que a decisão de
fazer a reunião é do Brasil, da Colômbia e da ONU. Nós não vamos
interferir", diz a embaixadora
americana em Brasília, Donna
Hrinak. Segundo ela, os EUA
"vêem com bons olhos toda e
qualquer iniciativa de acabar com
o conflito na Colômbia, que já dura uma geração e não é o problema de um país, mas de toda a região, de todo o hemisfério".
A viagem de Lula e a oferta ao
presidente da Colômbia são encaradas como mais um passo, e um
passo importante, na ofensiva da
diplomacia brasileira para conferir ao Brasil um papel de liderança
política na América do Sul. A Colômbia e o Equador são considerados os países mais distantes do
Brasil e mais próximos dos EUA.
Enquanto o Brasil tenta reforçar
os laços entre os países do continente para a negociação da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas), os EUA tentam fazer
acordos em separado para consolidar ou atrair os países latinos.
Até os governos anteriores de
Fernando Henrique Cardoso, no
Brasil, e de Andrés Pastrana, na
Colômbia, simplesmente não havia diálogo. O governo colombiano dizia que o Brasil se negava a
ajudar na luta contra as Farc, Planalto e Itamaraty respondiam que
nunca haviam sido chamados para isso, e os EUA simplesmente ficaram sozinhos na dianteira ao
planejar e financiar o Plano Colômbia -principal programa militar e econômico de combate à
guerrilha e ao narcotráfico.
Além disso, Pastrana tentou
uma política de negociação com
as Farc, mas seu sucessor, Uribe,
defende a "política da paulada"
contra a guerrilha. As Farc mantêm dezenas de soldados, políticos e cidadãos sequestrados, com
o objetivo de trocá-los por guerrilheiros presos. Inclusive a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, que tem dupla cidadania
(colombiana e francesa) e foi sequestrada em janeiro de 2002.
Entre os governos de Lula e Uribe, não há nenhuma identidade
ideológica. Mas há um processo
de aproximação. Os dois presidentes se encontraram três vezes,
e já houve reunião ministerial
conjunta no Itamaraty.
Já não era sem tempo, porque o
Brasil e a Colômbia não têm sequer projetos de integração física,
nem mesmo viária. Durante a viagem de Lula, será discutida a possibilidade de um acordo para desenvolver álcool combustível. A
Colômbia é produtora de cana-de-açúcar e está interessada na
tecnologia brasileira.
Como comparação: o Brasil tem
projetos com a Venezuela -que
faz fronteira com ambos- para
ponte, gasoduto e petróleo.
Se quer aproximar-se política,
econômica e fisicamente da Colômbia, o governo Lula precisa
agir rapidamente em direção ao
neoliberal Uribe, formado nos
EUA e, ao contrário do venezuelano Hugo Chávez, refratário a projetos mais "esquerdizantes".
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