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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Em visita à Colômbia, presidente brasileiro deverá formalizar proposta de sediar encontro para reativar diálogo

Lula deve propor a Uribe reunião ONU-Farc

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá formalizar para o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, em Cartagena, na próxima terça-feira, a proposta do Brasil de sediar um encontro entre a ONU (Organizações das Nações Unidas) e a guerrilha terrorista Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para tentar reiniciar o processo de paz. O conflito no país já dura quatro décadas.
Apesar de as Farc estarem na agenda, Lula disse à Folha, numa única frase, que o principal tema de sua conversa com Uribe será outro: "Vou convidar a Colômbia a integrar o Mercosul". Oficialmente, ele irá a Cartagena para a cerimônia de 40 anos da Organização Internacional do Café.
Segundo o chanceler Celso Amorim, a intenção do Brasil ao oferecer seu território para uma nova tentativa de paz na Colômbia é modesta: o país não se oferece como "mediador", mas como "terreno neutro". Na semana passada, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, enviou seu assessor James LeMoyne a Bogotá.
A participação da ONU tem o apoio cauteloso dos EUA, principais aliados do governo colombiano contra a guerrilha. Os governos George W. Bush e Uribe definem as FARC, fundada nos anos 60 por rebeldes marxistas, como um grupo terrorista e narcotraficante.
O Brasil, até agora, optou por não se referir ao grupo como terrorista porque quer manter a porta aberta para ajudar numa eventual negociação. Mas já condenou atentados feitos pela guerrilha.
"A posição do meu país é simplesmente a de que a decisão de fazer a reunião é do Brasil, da Colômbia e da ONU. Nós não vamos interferir", diz a embaixadora americana em Brasília, Donna Hrinak. Segundo ela, os EUA "vêem com bons olhos toda e qualquer iniciativa de acabar com o conflito na Colômbia, que já dura uma geração e não é o problema de um país, mas de toda a região, de todo o hemisfério".
A viagem de Lula e a oferta ao presidente da Colômbia são encaradas como mais um passo, e um passo importante, na ofensiva da diplomacia brasileira para conferir ao Brasil um papel de liderança política na América do Sul. A Colômbia e o Equador são considerados os países mais distantes do Brasil e mais próximos dos EUA.
Enquanto o Brasil tenta reforçar os laços entre os países do continente para a negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), os EUA tentam fazer acordos em separado para consolidar ou atrair os países latinos.
Até os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, e de Andrés Pastrana, na Colômbia, simplesmente não havia diálogo. O governo colombiano dizia que o Brasil se negava a ajudar na luta contra as Farc, Planalto e Itamaraty respondiam que nunca haviam sido chamados para isso, e os EUA simplesmente ficaram sozinhos na dianteira ao planejar e financiar o Plano Colômbia -principal programa militar e econômico de combate à guerrilha e ao narcotráfico.
Além disso, Pastrana tentou uma política de negociação com as Farc, mas seu sucessor, Uribe, defende a "política da paulada" contra a guerrilha. As Farc mantêm dezenas de soldados, políticos e cidadãos sequestrados, com o objetivo de trocá-los por guerrilheiros presos. Inclusive a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, que tem dupla cidadania (colombiana e francesa) e foi sequestrada em janeiro de 2002.
Entre os governos de Lula e Uribe, não há nenhuma identidade ideológica. Mas há um processo de aproximação. Os dois presidentes se encontraram três vezes, e já houve reunião ministerial conjunta no Itamaraty.
Já não era sem tempo, porque o Brasil e a Colômbia não têm sequer projetos de integração física, nem mesmo viária. Durante a viagem de Lula, será discutida a possibilidade de um acordo para desenvolver álcool combustível. A Colômbia é produtora de cana-de-açúcar e está interessada na tecnologia brasileira.
Como comparação: o Brasil tem projetos com a Venezuela -que faz fronteira com ambos- para ponte, gasoduto e petróleo.
Se quer aproximar-se política, econômica e fisicamente da Colômbia, o governo Lula precisa agir rapidamente em direção ao neoliberal Uribe, formado nos EUA e, ao contrário do venezuelano Hugo Chávez, refratário a projetos mais "esquerdizantes".


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