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Polícia encontra 65 corpos em Bagdá
Hadi Mizban/Associated Press
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Garoto chora ao ver o corpo da mãe ser levado para funeral em Bagdá; guerra sectária tomou país
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Maioria foi torturada e morta a bala; capital está dividida em "distritos" controlados por milícias que lutam entre si
Sunitas acusam premiê de não cumprir promessa de acabar com esquadrões, e violência cresce na capital apesar do reforço das tropas
DA REDAÇÃO
A polícia iraquiana encontrou ontem os corpos de 65 homens, a maioria com marcas de
tortura e ferimentos a bala, em
diferentes locais de Bagdá.
Além disso, ataques com carros-bomba e morteiros mataram pelo menos 39 pessoas e
feriram dezenas, num dia especialmente violento até para o
histórico da capital iraquiana.
Os eventos de ontem expõem
as dificuldades que as tropas
americanas e iraquianas enfrentam para conter a violência
sectária, mesmo com o deslocamento de 12 mil soldados para
Bagdá em agosto. Na prática, a
cidade está dividida em "distritos" controlados por diferentes
milícias, que lutam entre si.
Segundo a polícia, 45 corpos
foram encontrados em bairros
com predominância sunita; 15,
em regiões xiitas, e cinco,
boiando no rio Tigre. Quase todos estavam amarrados, com
sinais de tortura e marcas de
bala -características de assassinatos por "esquadrões da
morte". Ações do tipo, praticadas tanto por sunitas quanto
xiitas, se tornaram comuns
desde fevereiro, quando explodiu a violência sectária após um
ataque a um santuário xiita.
A descoberta dos novos casos
levou o líder do maior partido
sunita a exigir que o premiê
Nuri al Maliki, xiita, cumpra
sua promessa de acabar com as
milícias. Os sunitas, que são minoria e eram privilegiados pelo
regime de Saddam Hussein
(1979-2003), culpam milícias
xiitas pelos assassinatos e acusam o premiê de não agir contra elas. Uma das principais milícias do país é o Exército Mehdi, do popular -e radical- clérigo xiita Muqtada al Sadr.
"Esperamos que o governo
cumpra o que prometeu e acabe com as milícias", disse Adnan al Dulaimi, da Frente de
Coordenação Iraquiana.
No pior ataque do dia, a explosão de um carro-bomba numa praça matou 19 pessoas e feriu mais de 60. Noutro atentado, um carro-bomba matou 12
pessoas e feriu 34.
Segundo as forças americanas que ocupam o país, os
membros de milícias são cada
vez mais jovens, atraídos pela
possibilidade de receber salário
e ganhar respeito.
A tradição de "honrar" a
morte de parentes também gera novos combatentes.
Parlamento
Também no Parlamento o
clima é de desentendimento.
Ontem, aliados de Sadr tentaram aprovar uma resolução
com uma data-limite para a saída dos soldados estrangeiros, o
que o governo não aceita. O texto foi para uma comissão.
Mas o assunto que gera mais
controvérsia é o projeto de lei
para o estabelecimento de regiões autônomas no país.
Os árabes sunitas se opõem
veementemente, dizendo que a
lei dividiria o Iraque em "cantões" sectários. A região onde
são predominantes, o centro-oeste do país, não produz petróleo -os principais campos
estão no norte, predominantemente curdo, e no sul, onde se
concentram os xiitas.
Invasão "desastrosa"
Ontem, o secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, afirmou que
a maioria dos líderes do Oriente Médio lhe disse, em sua recente visita à região, que a ocupação do Iraque pelos EUA foi
"um verdadeiro desastre". Mas,
segundo Annan, os líderes se
dividem quanto à desocupação.
No Irã, o premiê Maliki visitou ontem o líder supremo do
país, aiatolá Ali Khamenei, em
Teerã.
Com agências internacionais
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