São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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Polícia encontra 65 corpos em Bagdá

Hadi Mizban/Associated Press
Garoto chora ao ver o corpo da mãe ser levado para funeral em Bagdá; guerra sectária tomou país


Maioria foi torturada e morta a bala; capital está dividida em "distritos" controlados por milícias que lutam entre si

Sunitas acusam premiê de não cumprir promessa de acabar com esquadrões, e violência cresce na capital apesar do reforço das tropas

DA REDAÇÃO

A polícia iraquiana encontrou ontem os corpos de 65 homens, a maioria com marcas de tortura e ferimentos a bala, em diferentes locais de Bagdá. Além disso, ataques com carros-bomba e morteiros mataram pelo menos 39 pessoas e feriram dezenas, num dia especialmente violento até para o histórico da capital iraquiana.
Os eventos de ontem expõem as dificuldades que as tropas americanas e iraquianas enfrentam para conter a violência sectária, mesmo com o deslocamento de 12 mil soldados para Bagdá em agosto. Na prática, a cidade está dividida em "distritos" controlados por diferentes milícias, que lutam entre si.
Segundo a polícia, 45 corpos foram encontrados em bairros com predominância sunita; 15, em regiões xiitas, e cinco, boiando no rio Tigre. Quase todos estavam amarrados, com sinais de tortura e marcas de bala -características de assassinatos por "esquadrões da morte". Ações do tipo, praticadas tanto por sunitas quanto xiitas, se tornaram comuns desde fevereiro, quando explodiu a violência sectária após um ataque a um santuário xiita.
A descoberta dos novos casos levou o líder do maior partido sunita a exigir que o premiê Nuri al Maliki, xiita, cumpra sua promessa de acabar com as milícias. Os sunitas, que são minoria e eram privilegiados pelo regime de Saddam Hussein (1979-2003), culpam milícias xiitas pelos assassinatos e acusam o premiê de não agir contra elas. Uma das principais milícias do país é o Exército Mehdi, do popular -e radical- clérigo xiita Muqtada al Sadr.
"Esperamos que o governo cumpra o que prometeu e acabe com as milícias", disse Adnan al Dulaimi, da Frente de Coordenação Iraquiana.
No pior ataque do dia, a explosão de um carro-bomba numa praça matou 19 pessoas e feriu mais de 60. Noutro atentado, um carro-bomba matou 12 pessoas e feriu 34.
Segundo as forças americanas que ocupam o país, os membros de milícias são cada vez mais jovens, atraídos pela possibilidade de receber salário e ganhar respeito.
A tradição de "honrar" a morte de parentes também gera novos combatentes.

Parlamento
Também no Parlamento o clima é de desentendimento. Ontem, aliados de Sadr tentaram aprovar uma resolução com uma data-limite para a saída dos soldados estrangeiros, o que o governo não aceita. O texto foi para uma comissão.
Mas o assunto que gera mais controvérsia é o projeto de lei para o estabelecimento de regiões autônomas no país.
Os árabes sunitas se opõem veementemente, dizendo que a lei dividiria o Iraque em "cantões" sectários. A região onde são predominantes, o centro-oeste do país, não produz petróleo -os principais campos estão no norte, predominantemente curdo, e no sul, onde se concentram os xiitas.

Invasão "desastrosa"
Ontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou que a maioria dos líderes do Oriente Médio lhe disse, em sua recente visita à região, que a ocupação do Iraque pelos EUA foi "um verdadeiro desastre". Mas, segundo Annan, os líderes se dividem quanto à desocupação.
No Irã, o premiê Maliki visitou ontem o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, em Teerã.


Com agências internacionais


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