São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Lula diz que vai a cúpula; Chávez sobe tom de acusações

DA ENVIADA A VILLAMONTES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que pretende ir à reunião de emergência da Unasul, União de Nações Sul-Americanas, convocada para amanhã no Chile com o objetivo de tratar a crise boliviana. Condicionou, porém, sua presença à uma concordância tanto do governo Evo Morales como da oposição para que o encontro não seja lido como "ingerência" em assuntos internos do país.
"Não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem que haja concordância do governo boliviano e da oposição. São eles que têm de dar o paradigma da nossa participação. Se não, será ingerência, e isso o Brasil não fará", afirmou Lula em Petrópolis, onde participou de um evento.
A presidente chilena, Michelle Bachelet, que exerce a presidência rotativa da Unasul, confirmou ontem pela manhã a reunião extraordinária em Santiago. Em La Paz, Evo Morales saudou a realização da reunião e agradeceu a "solidariedade" da região.
Já o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um dos articuladores da reunião no Chile, atacou duramente o general Luis Trigo, comandante das Forças Armadas da Bolívia, que na sexta-feira havia advertido a Caracas de que os militares não aceitariam ingerência externa.
Chávez acusou Trigo e outros generais de "fazer uma espécie de greve que permitiu aos fascistas massacrarem o povo da Bolívia". Instou-o a reclamar da ingerência americana. Disse ainda que o general se deu "a liberdade" de respondê-lo "sem consultar" Morales.
"Lancei uma declaração forte, reconheço, mas ratifico: se derrubam Evo ou o matam, não vou ficar de braços cruzados", continuou.
O porta-voz do Ministério da Defesa, major Teófilo Medina, disse à Folha que as Forças Armadas não comentaria o caso.
As primeiras declarações de Chávez já haviam provocado reações negativas até de parlamentares governistas. O Executivo não criticou e, em sinal de mal-estar, tampouco comentou a advertência de Trigo.
A acusação do venezuelano chega em momento delicado, quando as Forças Armadas partiram a campo para atuar no estado de sítio de Pando e para retomar estações de gás. Antes, estavam expressamente orientadas a evitar confrontos e reclamavam nos bastidores de um marco legal para atuarem sob temos de serem processados no futuro por eventuais mortes. Uma fonte diplomática brasileira afirmara ainda, no começo da semana, que ao menos um integrante do comando militar disse a Morales que preferia o diálogo a uma repressão mais efetiva.

Recados à oposição
Apesar de criticar duramente os ataques da oposição boliviana ao envio de gás do país ao Brasil, o presidente Lula guardou distância do tom de Chávez e mencionou as regiões em suas declarações. "Se as duas partes não estão pedindo que nos reunamos, e nenhuma aceita, a reunião termina sendo inútil", disse sobre o encontro da Unasul. O presidente foi ainda mais direto: "Quando tem uma crise em um país, o Brasil não pode ficar dando palpite".
Lula, que pavimenta o caminho do Brasil como mediador, preferiu falar do Grupo de Amigos da Bolívia, formado, a pedido de La Paz, por Brasil, Argentina e Colômbia para mediar a crise. O presidente afirmou que telefonou a Morales na última quinta-feira para falar do tema: "Tinha acertado com o presidente Morales que o Grupo de Amigos da Bolívia ia até La Paz [capital do país vizinho] conversar com ele e outros setores", contou.
"Mas na véspera da partida dos nossos representantes, ligaram de lá afirmando que não era o melhor momento para fazer negociação", disse o presidente brasileiro. (FLÁVIA MARREIRO E ROBERTO MACHADO)



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