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Líderes árabes moderados têm medo
JUDITH MILLER
DO "THE NEW YORK TIMES", EM AMÃ
O envolvimento de árabes nos
confrontos entre Israel e palestinos tem deixado os líderes árabes
moderados cada vez mais preocupados. Não temem apenas o fim
do processo de paz. Sentem que
está ameaçada também a própria
estabilidade de seus governos.
"Os líderes árabes estão com
medo", diz um diplomata ocidental. "Pode-se quase cheirá-lo."
Poucos analistas ou autoridades
árabes afirmam que a presente
violência poderá levar a uma nova
guerra árabe-israelense. "Os árabes estão muito fracos para ir à
guerra", declara um membro do
governo jordaniano.
Ele diz, porém, que os confrontos poderão destruir, num futuro
próximo, o que sobrou dos esforços por um acordo de paz. E isso
teria sérias consequências para os
árabes e seus governos.
Se o processo de paz não puder
ser retomado, deverão ser beneficiados os árabes radicais como
Saddam Hussein, ditador do Iraque, e grupos islâmicos extremistas como o Hamas e o Hizbollah.
"As velhas raposas em Israel e
nos países árabes diriam que estavam certos ao afirmarem que o
inimigo só entendia a linguagem
da força", argumenta a autoridade jordaniana. "Eles iriam desencadear mais ações duras por parte
de Israel e violência adicional."
A perspectiva de que árabes e
judeus frustrem-se com os acordos de paz é particularmente desanimadora na Jordânia, país moderado e estável que tem buscado
na paz a garantia para a prosperidade econômica.
A atual crise ressalta uma marca
da vida política árabe: enorme
discrepância entre os pronunciamentos oficiais -destinados, sobretudo, a reforçar as cores nacionalistas do governo diante dos
olhos da população- e o que as
autoridades dizem em conversas
particulares sobre Israel e seus vizinhos árabes.
Publicamente, a maioria dos Estados do Oriente Médio criticou
somente Israel por suas operações militares de anteontem contra os palestinos.
Nos bastidores, contudo, muitas autoridades também reclamavam de Arafat, da Autoridade Nacional Palestina e de vários líderes
árabes, especialmente do Egito.
Vários árabes e ocidentais dizem que o Egito pressionou Arafat a rejeitar as propostas de Israel
na cúpula de Camp David, realizada nos EUA em julho.
Além disso, têm sido constantes
as manifestações no país. Ontem,
após assistirem a um inflamado
sermão, cerca de 10 mil egípcios
tomaram as ruas do Cairo pedindo uma guerra contra Israel.
Uma autoridade árabe disse
ainda que a convocação egípcia
de uma cúpula árabe, a ser realizada no Cairo no fim deste mês,
poderia piorar a situação e expor
o que ele chama de "tibieza árabe". "Declarações belicosas poderiam pôr em xeque tudo o que
Jordânia e outros Estados moderados construíram", disse ela.
Um membro do governo da
Jordânia alerta para os perigos
dos discursos. "Israel é uma potência militar, mas sua estrutura
psicológica é frágil. A retórica árabe exacerbada e as ameaças de
Arafat de declarar guerra não são
ouvidas apenas como fanfarronices. Deixam os israelenses apavorados e os levam a concluir que os
árabes nunca aceitarão Israel."
Salameh Nematt, do jornal árabe "Al Hayat", publicado em Londres, diz que é impossível falar de
uma "reação árabe", pois "não há
um mundo árabe".
Mas Nematt lembra a mídia
árabe via satélite. As imagens dos
confrontos "levaram o sofrimento palestino e sua causa a vários
lugares, de um modo novo e dramático. A cobertura ressaltou o
sentimento anti-Israel".
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