São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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Líderes árabes moderados têm medo

JUDITH MILLER
DO "THE NEW YORK TIMES", EM AMÃ

O envolvimento de árabes nos confrontos entre Israel e palestinos tem deixado os líderes árabes moderados cada vez mais preocupados. Não temem apenas o fim do processo de paz. Sentem que está ameaçada também a própria estabilidade de seus governos.
"Os líderes árabes estão com medo", diz um diplomata ocidental. "Pode-se quase cheirá-lo."
Poucos analistas ou autoridades árabes afirmam que a presente violência poderá levar a uma nova guerra árabe-israelense. "Os árabes estão muito fracos para ir à guerra", declara um membro do governo jordaniano.
Ele diz, porém, que os confrontos poderão destruir, num futuro próximo, o que sobrou dos esforços por um acordo de paz. E isso teria sérias consequências para os árabes e seus governos.
Se o processo de paz não puder ser retomado, deverão ser beneficiados os árabes radicais como Saddam Hussein, ditador do Iraque, e grupos islâmicos extremistas como o Hamas e o Hizbollah.
"As velhas raposas em Israel e nos países árabes diriam que estavam certos ao afirmarem que o inimigo só entendia a linguagem da força", argumenta a autoridade jordaniana. "Eles iriam desencadear mais ações duras por parte de Israel e violência adicional."
A perspectiva de que árabes e judeus frustrem-se com os acordos de paz é particularmente desanimadora na Jordânia, país moderado e estável que tem buscado na paz a garantia para a prosperidade econômica.
A atual crise ressalta uma marca da vida política árabe: enorme discrepância entre os pronunciamentos oficiais -destinados, sobretudo, a reforçar as cores nacionalistas do governo diante dos olhos da população- e o que as autoridades dizem em conversas particulares sobre Israel e seus vizinhos árabes.
Publicamente, a maioria dos Estados do Oriente Médio criticou somente Israel por suas operações militares de anteontem contra os palestinos.
Nos bastidores, contudo, muitas autoridades também reclamavam de Arafat, da Autoridade Nacional Palestina e de vários líderes árabes, especialmente do Egito.
Vários árabes e ocidentais dizem que o Egito pressionou Arafat a rejeitar as propostas de Israel na cúpula de Camp David, realizada nos EUA em julho.
Além disso, têm sido constantes as manifestações no país. Ontem, após assistirem a um inflamado sermão, cerca de 10 mil egípcios tomaram as ruas do Cairo pedindo uma guerra contra Israel.
Uma autoridade árabe disse ainda que a convocação egípcia de uma cúpula árabe, a ser realizada no Cairo no fim deste mês, poderia piorar a situação e expor o que ele chama de "tibieza árabe". "Declarações belicosas poderiam pôr em xeque tudo o que Jordânia e outros Estados moderados construíram", disse ela.
Um membro do governo da Jordânia alerta para os perigos dos discursos. "Israel é uma potência militar, mas sua estrutura psicológica é frágil. A retórica árabe exacerbada e as ameaças de Arafat de declarar guerra não são ouvidas apenas como fanfarronices. Deixam os israelenses apavorados e os levam a concluir que os árabes nunca aceitarão Israel."
Salameh Nematt, do jornal árabe "Al Hayat", publicado em Londres, diz que é impossível falar de uma "reação árabe", pois "não há um mundo árabe".
Mas Nematt lembra a mídia árabe via satélite. As imagens dos confrontos "levaram o sofrimento palestino e sua causa a vários lugares, de um modo novo e dramático. A cobertura ressaltou o sentimento anti-Israel".



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