São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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PRÊMIO
Dirigente é reconhecido pelos esforços de aproximação com a Coréia do Norte, cujo líder foi elogiado por ter facilitado o diálogo
Presidente sul-coreano ganha Nobel da Paz

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA

O presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2000, anunciou ontem em Oslo (Noruega) o comitê responsável pela premiação. Kim foi premiado pelo trabalho na redução das tensões na península da Coréia, dividida entre o sul, capitalista, e o norte, comunista.
Abrigo de uma das últimas heranças da Guerra Fria, a região guarda uma das fronteiras mais militarizadas do planeta e um dos regimes mais misteriosos e isolados, o da stalinista Coréia do Norte. Também o norte e o sul permanecem tecnicamente em guerra, pois nunca assinaram um tratado de paz definitivo desde o fim da Guerra da Coréia, em 1953.
Na Coréia do Sul, 37 mil soldados norte-americanos se entrincheiram contra a ameaça de ataques do Exército norte-coreano, uma das mais poderosas máquinas bélicas da Ásia.
Mas essas características, que fizeram da península um dos principais focos de tensão no mundo pós-Guerra Fria, começaram a ser lentamente mudadas após Kim Dae-jung, um ativista pró-direitos humanos e dissidente nos tempos da ditadura militar sul-coreana, vencer as eleições presidenciais da Coréia do Sul, em 1997.
No poder, Kim passou a implementar a chamada "política dos raios de sol", destinada a diminuir, por meio de diálogo, tensões na rivalidade com o norte comunista.
O objetivo final dessa política é a reunificação de um país dividido desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Kim Dae-jung, 74, também guarda uma biografia de militância pela democratização de seu país, o que lhe valeu o apelido de "Nelson Mandela coreano". O atual presidente foi perseguido, preso, torturado e exilado pela ditadura militar norte-coreana. Sobreviveu a uma tentativa de assassinato de agentes da ditadura graças a uma intervenção de Washington minutos antes de sua execução.
Com a democratização da Coréia do Sul se consolidando nos anos 90, Kim Dae-jung passou a destacar a reunificação coreana como uma das prioridades de sua militância. E a "política de raios de sol" obteve como resultado principal até agora sua viagem a Pyongyang, capital norte-coreana, em junho último. Pela primeira vez, um dirigente da Coréia do Sul visitava o rival do norte.
O agraciado com o Prêmio Nobel foi recebido por Kim Jong-il, principal dirigente da Coréia do Norte e protagonista da primeira dinastia comunista do mundo. Ele sucedeu ao pai, Kim Il-sung, que governou o país até a morte, em 1994.
Kim Jong-il não foi premiado com o Nobel da Paz. O comunicado do comitê norueguês reconhece a contribuição do regime comunista ao processo de "reconciliação e possível reunificação da península coreana".
Mas o dirigente de um dos últimos regimes stalinistas, apesar de sua recente moderação, não poderia receber o Nobel.
Seu país ainda frequenta as listas de países que violam os direitos humanos e que mantêm programas para produção de armas de destruição em massa.
A Coréia do Norte ainda engrossa a relação dos 11 Estados acusados por Washington de patrocinar o terrorismo.
A premiação de Kim e a menção ao papel da Coréia do Norte representam um estímulo ao processo que decolou a partir do encontro de cúpula em junho passado. Desde então, tem se intensificado a aproximação entre dois países que se enfrentaram numa batalha naval há apenas 18 meses.
Resultados dessa fase inicial de aproximação: em cerimônias nos Jogos Olímpicos de Sydney, atletas sul-coreanos e norte-coreanos desfilaram lado a lado. Houve ainda a permissão para um número limitado de reencontros entre familiares que vivem separados desde a divisão da península.
Em Hong Kong, militares dos dois lados se reuniram pela primeira vez. E a secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, com uma viagem a Pyongyang planejada para ainda este mês, anunciou que o presidente Bill Clinton poderá visitar a Coréia do Norte em novembro.


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