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PRÊMIO
Dirigente é reconhecido pelos esforços de aproximação com a Coréia do Norte, cujo líder foi elogiado por ter facilitado o diálogo
Presidente sul-coreano ganha Nobel da Paz
JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
O presidente sul-coreano, Kim
Dae-jung, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2000, anunciou ontem em Oslo (Noruega) o comitê
responsável pela premiação. Kim
foi premiado pelo trabalho na redução das tensões na península
da Coréia, dividida entre o sul, capitalista, e o norte, comunista.
Abrigo de uma das últimas heranças da Guerra Fria, a região
guarda uma das fronteiras mais
militarizadas do planeta e um dos
regimes mais misteriosos e isolados, o da stalinista Coréia do Norte. Também o norte e o sul permanecem tecnicamente em guerra,
pois nunca assinaram um tratado
de paz definitivo desde o fim da
Guerra da Coréia, em 1953.
Na Coréia do Sul, 37 mil soldados norte-americanos se entrincheiram contra a ameaça de ataques do Exército norte-coreano,
uma das mais poderosas máquinas bélicas da Ásia.
Mas essas características, que fizeram da península um dos principais focos de tensão no mundo
pós-Guerra Fria, começaram a ser
lentamente mudadas após Kim
Dae-jung, um ativista pró-direitos humanos e dissidente nos
tempos da ditadura militar sul-coreana, vencer as eleições presidenciais da Coréia do Sul, em
1997.
No poder, Kim passou a implementar a chamada "política dos
raios de sol", destinada a diminuir, por meio de diálogo, tensões
na rivalidade com o norte comunista.
O objetivo final dessa política é a
reunificação de um país dividido
desde o fim da Segunda Guerra
Mundial.
Kim Dae-jung, 74, também
guarda uma biografia de militância pela democratização de seu
país, o que lhe valeu o apelido de
"Nelson Mandela coreano". O
atual presidente foi perseguido,
preso, torturado e exilado pela ditadura militar norte-coreana. Sobreviveu a uma tentativa de assassinato de agentes da ditadura graças a uma intervenção de Washington minutos antes de sua execução.
Com a democratização da Coréia do Sul se consolidando nos
anos 90, Kim Dae-jung passou a
destacar a reunificação coreana
como uma das prioridades de sua
militância. E a "política de raios
de sol" obteve como resultado
principal até agora sua viagem a
Pyongyang, capital norte-coreana, em junho último. Pela primeira vez, um dirigente da Coréia do
Sul visitava o rival do norte.
O agraciado com o Prêmio Nobel foi recebido por Kim Jong-il,
principal dirigente da Coréia do
Norte e protagonista da primeira
dinastia comunista do mundo.
Ele sucedeu ao pai, Kim Il-sung,
que governou o país até a morte,
em 1994.
Kim Jong-il não foi premiado
com o Nobel da Paz. O comunicado do comitê norueguês reconhece a contribuição do regime comunista ao processo de "reconciliação e possível reunificação da
península coreana".
Mas o dirigente de um dos últimos regimes stalinistas, apesar de
sua recente moderação, não poderia receber o Nobel.
Seu país ainda frequenta as listas de países que violam os direitos humanos e que mantêm programas para produção de armas
de destruição em massa.
A Coréia do Norte ainda engrossa a relação dos 11 Estados
acusados por Washington de patrocinar o terrorismo.
A premiação de Kim e a menção
ao papel da Coréia do Norte representam um estímulo ao processo que decolou a partir do encontro de cúpula em junho passado. Desde então, tem se intensificado a aproximação entre dois
países que se enfrentaram numa
batalha naval há apenas 18 meses.
Resultados dessa fase inicial de
aproximação: em cerimônias nos
Jogos Olímpicos de Sydney, atletas sul-coreanos e norte-coreanos
desfilaram lado a lado. Houve
ainda a permissão para um número limitado de reencontros entre familiares que vivem separados desde a divisão da península.
Em Hong Kong, militares dos
dois lados se reuniram pela primeira vez. E a secretária de Estado
dos EUA, Madeleine Albright,
com uma viagem a Pyongyang
planejada para ainda este mês,
anunciou que o presidente Bill
Clinton poderá visitar a Coréia do
Norte em novembro.
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