São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Em videoconferência ensaiada, presidente fala com soldados dos EUA para apoiar o plebiscito constitucional

"Show" de Bush defende ação no Iraque

DA REDAÇÃO

Em videoconferência com um grupo previamente selecionado de militares americanos que estão em Tikrit, cidade iraquiana de Saddam Hussein, o presidente George W. Bush discorreu sobre a importância do plebiscito sobre o projeto de Constituição do Iraque e afirmou que, "enquanto eu for presidente, não recuaremos e nada aceitaremos que não seja uma vitória total" contra a insurgência.
A iniciativa de Bush, classificada pela France Presse de ofensiva midiática, coincide com a divulgação de duas pesquisas em que ele aparece com o menor índice de aprovação desde o início de seu primeiro mandato.
Apenas 32% dos americanos apóiam a política do presidente para o Iraque, diz o Instituto Gallup, que pesquisou para a CNN e para o jornal "USA Today".
Uma segunda pesquisa, encomendada pelo "Wall Street Journal" e pela rede de televisão NBC, revela que a taxa de aprovação de Bush está em 39%. Diz que 48% esperam que a oposição democrata assuma o controle do Congresso nas legislativas de novembro do ano que vem, nove pontos a mais do que os que desejam a vitória republicana. Para apenas 28%, o país está no bom caminho.
A videoconferência, diz a Associated Press, foi previamente ensaiada por uma funcionária do Pentágono, Allison Barber. Dela participaram dez militares americanos da 42ª Divisão de Infantaria e um soldado iraquiano com relativa fluência em inglês.
Um dos participantes disse ao presidente que os iraquianos estavam ansiosos para votar no plebiscito do próximo sábado e que o número de eleitores inscritos no feudo do clã de Saddam Hussein havia crescido em 17%.
O soldado iraquiano, instado por Bush a fazer alguma pergunta, disse apenas: "Bom dia, sr. presidente, e muito obrigado por tudo. Eu gosto do senhor".

Toque de recolher
A partir da meia-noite de ontem, o Iraque fechou suas fronteiras e limitou o trânsito de pessoas para evitar o deslocamento de comandos de insurgentes interessados em prejudicar o plebiscito.
Automóveis não circularão amanhã. Foi anunciado um toque de recolher, proibição de a população deixar suas casas em determinados horários noturnos.
O comando americano informou que os atentados prosseguiam, mas que eram agora em 40% menos freqüentes e mortíferos do que às vésperas das eleições legislativas de janeiro.
Nos últimos 18 dias, diz a Associated Press, 445 pessoas morreram, sobretudo na explosão de carros-bomba e de minas à beira de estradas ou por conta de disparos efetuados em zonas urbanas.
Ontem, até o início da noite, a Reuters relatava a morte de um soldado americano em Dujail, cidade xiita em que Saddam massacrou civis em 1982. Entre os mortos iraquianos, em dia de relativa calma, há um policial em Baiji, dois policiais em Kirkuk, dois civis em Mossul e uma mulher em Ramadi. Oito policiais foram feridos em atentado em Bagdá.
Prosseguiam, enquanto isso, os esforços da embaixada americana e das lideranças xiitas e curdas para assegurar a maior participação possível da minoria sunita no plebiscito sobre a Constituição.
Emenda ao projeto votada anteontem permite que os sunitas sugiram mudanças posteriores, no plenário da Assembléia Nacional. Com isso, um dos maiores grupos sunitas, o Partido Islâmico Iraquiano, concordou em abandonar a frente do boicote e em fazer campanha pelo "sim".
Ao mesmo tempo, no entanto, a influente Associação de Acadêmicos Islâmicos, basicamente sunita, posicionou-se contra o projeto constitucional, pois ele "fragmentaria o Iraque e destruiria sua identidade".
O projeto prevê uma federação, solução que os sunitas acreditam prejudicá-los como minoria.


Com agências internacionais

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