São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010 |
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Em festa, Chile conclui resgate de mineiros Pela previsão, retirada levaria 48h, mas equipes aceleraram trabalho; presidente capitaliza sucesso de operação Custo total do resgate é estimado em cerca de R$ 37 milhões, a serem divididos entre Estado e mineradoras privadas
LAURA CAPRIGLIONE ENVIADA ESPECIAL A COPIAPÓ (CHILE) Terminou ontem às 21h55 quando o operário Luis Urzúa, 54, foi içado de dentro da mina San José, no deserto de Atacama, a mais espetacular aventura humana debaixo da terra. Foram 22h36 de trabalho ininterrupto, bem menos do que a previsão inicial, de 48 horas, para o salvamento. Os trabalhos se encerraram totalmente à 0h32 de hoje (mesmo horário de Brasília), quando o último dos seis socorristas que desceram à mina para ajudar no resgate voltou à superfície. O presidente chileno, Sebastián Piñera, mais uma vez capitalizou a operação (como fez nos últimos dias), abraçando Urzúa demoradamente e depois liderando a entonação do hino chileno. "Me sinto orgulhoso de ter o privilégio e a responsabilidade de ser o presidente de todos os chilenos", disse. O drama começou quando, no dia 5 de agosto, 33 homens dirigidos pelo chefe de turno Urzúa viram-se soterrados sob toneladas de terra. Prosseguiu quando, durante 17 dias em que ficaram perdidos no meio da montanha, a 700 metros de profundidade, conseguiram dividir, mesmo esfomeados, poucas latas de atum e pêssegos. Rostos cavernosos, produto do longo período de fome e das infecções intestinais (decorrentes da ingestão de água contaminada), perderam em média 10 kg cada. Encontrados, mantiveram, apesar do estresse de uma vida confinada sob temperatura de 38ºC e hiperumidade, o espírito de união durante 70 dias. Foram salvos porque, à resistência, união e espírito de solidariedade, uniu-se o que há de mais moderno em geologia, tecnologia de perfuração e suporte à vida em condições extremas. O custo da operação foi US$ 22 milhões (R$ 37 milhões). Três quartos saíram dos cofres do governo e o resto, de empresas privadas. Os mineiros saíram sãos e salvos, à vista da exigência da prova física e psicológica. Um caso de pneumonia, outros de afecções dermatológicas, e ainda infecções dentárias (já conhecidas antes do resgate) -limitou-se a isso o que apresentaram. MISSÃO CUMPRIDA "Missão cumprida, Chile", ouviu-se na praça da Intendência, centro de Copiapó, quando a Fênix 2 com Urzúa aflorou da terra. Três mil pessoas que acompanhavam em um telão o resgate imediatamente puseram-se a cantar o hino nacional. Riam. Muitas agitavam bandeiras. Mas o clima não era de uma final de futebol. Nos rostos crestados pelo sol do deserto e no fervor com que se cantava a música dos mineiros do Chile, estava o orgulho de uma categoria profissional vital para o país. Copiapó é cidade mineira há séculos. "O que vimos nesses 70 dias -a força de vontade, a união, a resistência- são coisas que só puderam existir porque em Copiapó se cristalizou uma cultura de mineração e de dignidade profissional", disse Juan Herrera, mineiro de 62 anos, os olhos marejados, a bandeira azul com estrela amarela da região de Atacama (Copiapó é capital) nas mãos. Luis Urzúa foi o último a sair da mina porque era o líder do grupo. "O capitão é o último a sair do barco", repetia-se sempre. Ele já era o líder daquela equipe antes mesmo do desabamento -chefiava o turno. Pela organização mineira, o turno começa quando os trabalhadores entram na mina e termina quando saem. Por isso, foi relativamente fácil para os homens soterrados escolherem Urzúa como seu líder durante o período de confinamento. Em eleição promovida pelos organizadores do resgate, assim que os mineiros foram encontrados, ele recebeu os votos de 30 homens. Com o fim do resgate, finda também o acampamento Esperança. Para se despedir do terreno pedregoso e arenoso, frio, seco, inóspito, as famílias dos 33 mineiros planejam uma grande festa no próximo domingo. Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: O "corredor": Gozador, mineiro sai em disparada festejando saída Índice | Comunicar Erros |
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