São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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EUA e Israel têm divergências, diz jornal

Segundo "New York Times", Bush põe em dúvida a habilidade de Olmert, que teme pressão americana por concessões

Presidente americano e o premiê de Israel se reuniram na Casa Branca; declarações sobre projeto nuclear do Irã dão aparência de acordo

DA REDAÇÃO

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, encontraram-se ontem na Casa Branca dentro de um clima em que as aparentes convergências -sobretudo quanto à necessidade de impedir que o Irã obtenha uma bomba atômica- acobertam desconfianças mútuas.
As declarações dos dois governantes estão à primeira vista sincronizadas. Em entrevista à rede de TV NBC, Olmert disse pela manhã que a ameaça representada pelo Irã "constitui um assunto de fundo moral para o mundo inteiro", e não apenas ao seu país, que Teerã ameaça "varrer do mapa".
Horas depois, Bush alertou que o Irã corre o risco de permanecer "economicamente isolado" se prosseguir no enriquecimento de urânio. Voltou a qualificá-lo de "uma ameaça à paz mundial" e disse que só abriria um diálogo bilateral caso o país interrompesse a produção de combustível nuclear.
Olmert negou que tivesse com relação a Teerã a intenção de "preparar uma guerra". "Não estou procurando o confronto. Estou procurando uma saída", afirmou. Disse que compreenderia se Washington abrisse diálogo com os iranianos, com o objetivo, compartilhado por Israel, de impedir que o Irã obtenha a bomba. Há uma pressão crescente, dentro e fora dos EUA, para que a Casa Branca inicie negociações diretas com o Irã.
"Todo compromisso que impedisse o Irã de chegar à capacitação nuclear seria aceitável para o presidente Bush e também para mim", disse Olmert.
O "Le Monde" afirma que o governo israelense não teme uma reviravolta de sua aliança com Washington só em razão das eleições da semana passada, que levaram a oposição democrata a obter a maioria nas duas Casas do Congresso. Os democratas são tão pró-israelenses quanto os republicanos.
Mas o jornal francês e o "New York Times" relatam a existência de temores mútuos. O Estado de Israel acredita que os EUA o pressionarão a fazer concessões aos palestinos, como forma de obter o apoio dos países árabes para a formação de um bloco regional contra o projeto nuclear iraniano.
Os israelenses também atribuem à obsessão americana de favorecer a democracia no Oriente Médio o fortalecimento de grupos islâmicos radicais, como os palestinos do Hamas. Jerusalém acredita que seus interesses estratégicos estariam mais bem resguardados com o fortalecimento de regimes árabes autoritários, como o Egito.
Israel teme que Washington, ao insistir apenas nas pressões diplomáticas contra o Irã, permita que aquele país ganhe tempo e chegue à bomba.
Lembra ainda que Robert Gates, designado para substituir Donald Rumsfeld no Pentágono, é favorável ao diálogo bilateral com os iranianos.
Por sua vez, os americanos -e a confidência foi recolhida pelo "New York Times"- desconfiam da habilidade de Olmert, que atolou por dois meses seu Exército no Líbano e não conseguiu neutralizar as forças do Hizbollah, facção xiita justamente ligada ao Irã.
As operações no Líbano, somadas à radicalização nos territórios palestinos, levaram Olmert a suspender o plano de retirar da Cisjordânia grande parte dos assentamentos judaicos.
O "New York Times" lembra a sugestão dada em setembro por um dos mais próximos assessores da secretária de Estado Condoleezza Rice, Philip Zelikow. Ele disse, em conferência, que uma coalizão de países árabes para pressionar o Irã só se formaria caso se resolvesse a disputa entre árabes e israelenses -eufemismo para designar concessões de Israel.


Com agências internacionais


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