São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2007

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Rei espanhol foi prepotente, diz Chávez

Venezuelano cita "arrogância imperial" da colonização espanhola para criticar monarca que mandou que ele se calasse

Madri tenta baixar tom de contenda, cita interesses e investimentos na região e afirma que relações serão normalizadas no curto prazo

Jorge Silva/Reuters
Chávez chega com neto, Jorge, à entrevista; ele diz que não precisa de investimentos espanhóis


DA REDAÇÃO

Enquanto o governo espanhol se esforçava para encerrar a repercussão em torno da contenda entre o rei Juan Carlos e Hugo Chávez, no último sábado no Chile, o venezuelano voltou à carga ontem contra o monarca e o país europeu.
Embora tenha dito que não deseja que o "lamentável incidente" se converta em crise política e diplomática, Chávez afirmou que o rei espanhol foi "prepotente" e "desrespeitoso" com ele durante o encerramento da 17ª Cúpula Ibero-Americana em Santiago.
Na cerimônia, o venezuelano acusou o ex-premiê espanhol José María Aznar, do conservador PP, de fascista. O atual premiê, José Luis Zapatero, interveio, pedindo que Chávez respeitasse o ex-líder eleito democraticamente. Depois, o rei Juan Carlos interpelou Chávez, alto: "Por que não te calas?"
Ontem, Chávez chamou os correspondentes estrangeiros para uma entrevista em Caracas na qual deu sua versão do episódio -que provocou enorme reação na Espanha, onde virou tema de política interna dada a proximidade das eleições gerais de março de 2008.
A discussão também tirou dos holofotes a controvertida reforma constitucional proposta por Chávez, a ser submetida a referendo no dia 2. A oposição venezuelana quer usar o bordão "Por que não te calas?" -que já virou tema de inúmeras paródias na internet, comentadas até por Chávez- na campanha do "não".
Segundo Chávez, o rei "explodiu" irritado com o discurso dele e seus aliados "revolucionários" Evo Morales, da Bolívia, e Daniel Ortega, da Nicarágua. "O rei explodiu de tanto ouvir coisas", em especial numa reunião privada na sexta.
Chávez disse ainda que "nem o povo espanhol" entendeu a defesa "insustentável" do socialista Zapatero ao opositor Aznar: "Então não se pode falar de Hitler porque é um ataque ao povo alemão?".
""Chávez agrediu o rei" é manipulação. O que o menino mau fez foi expor suas idéias", capitalizou. Sugeriu "paciência" ao rei nas próximas cúpulas, porque a "América Latina está mudando" de rosto político.

Colônia e investimentos
O venezuelano recheou seu discurso com alusões à Conquista da América. Disse que a fala do rei refletia "500 anos de prepotência". ""Por que não te calas?" é a mesma fúria imperial, arrogância imperial".
"Há que lembrar ao rei que somos livres, que bastante sangue correu para libertar-nos das correntes espanholas." "Faz 500 anos que de Madri imperial partiu a ordem: que se calem. [...] Por que não te calas, Túpac Amaru? Os fizeram calar quando lhes cortaram as gargantas [...]", continuou.
Sobre as queixas de empresários espanhóis à "insegurança jurídica" na Venezuela, Chávez disse que esse investimento "não é imprescindível". "Se o governo espanhol e os espanhóis que vivem aqui começarem a gerar um novo conflito, não vai dar certo, porque a Venezuela se respeita."

Panos quentes
Anteontem, o PP de Aznar chegou a pedir que Madri convocasse o embaixador espanhol em Caracas para explicações. Mas o governo Zapatero já sinalizou que quer encerrar o caso, citando os interesses econômicos e dos cidadãos espanhóis na Venezuela e na região.
"Temos a convicção profunda de que será possível recuperá-las [as relações diplomáticas] em um espaço relativamente curto de tempo", disse o chanceler Miguel Ángel Moratinos no Senado espanhol.
"Tudo se resolverá", disse Zapatero ontem.
O principal jornal espanhol, "El País", e a agência de notícias Efe preferiram ver o lado positivo da fala de Chávez ontem: "Não quero nenhum conflito com o rei". Para o diário, o venezuelano "baixou o tom".
O episódio respingou ainda nas relações entre Chile e Venezuela. Ontem, o governo venezuelano respondeu ao chanceler chileno, Alejandro Foxley, que afirmou após a cúpula que seu país "não compartilha do estilo" de Chávez e chamou de "desqualificações" as declarações do presidente sobre o rei Juan Carlos.
O vice-chanceler venezuelano, Rodolfo Sanz, chamou Foxley "à sensatez" e disse que o diplomata ofendeu Caracas ao qualificar o governo Chávez de "pseudo-revolucionário".


Com agências internacionais


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