São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Calotes geram revolta na Colômbia

Protestos por quebra de financeiras populares deixaram um morto; cinco cidades decretaram toque de recolher

Conhecidas como "pirâmides", empresas, em torno de 200 no país, atraíam investimentos prometendo lucros de 150%; Bogotá diz que não indenizará

DA REDAÇÃO

Uma pessoa morreu a tiros, e ao menos cinco cidades decretaram toque de recolher desde quarta-feira na Colômbia devido a protestos, em vários departamentos, de milhares de pessoas que perderam dinheiro com a quebra de mais de 30 investidoras populares no país.
As chamadas "pirâmides" -cerca de 200 em toda a Colômbia- são empresas que atraem pequenos investimentos, muitas vezes poupanças pessoais, com promessas de ganhos de até 150% em poucos meses. Estima-se que quase R$ 2 bilhões estejam envolvidos em suas operações, e o governo suspeita de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico.
Em geral, essas empresas trabalham com dinheiro vivo e não mantêm registros de suas operações. O governo condena a atividade, mas diz não conseguir caracterizar a sua ilegalidade devido à dificuldade no rastreamento das transações.
Na quarta-feira, a DRFE (Dinheiro Rápido, Fácil e Vivo, em espanhol) -a maior "pirâmide", com 66 agências e estimados R$ 390 milhões recebidos em 94 mil operações só entre abril e setembro - anunciou a incapacidade de honrar os compromissos assumidos, dando início à revolta.
A polícia interveio em todas as agências da empresa, que atribui a quebra à crise global, e ordenou a devolução dos R$ 390 milhões aos investidores e a suspensão imediata das suas atividades nos ao menos dez departamentos em que atua.
Na cidade de Guesaco, em Nariño, um funcionário municipal morreu ao ser confundido por manifestantes com um empregado da empresa, na qual se encontrava para fazer um balanço financeiro a mando do governo federal, e levar três tiros, segundo o secretário departamental de Governo.
Em outras cidades, manifestantes invadiram e saquearam sucursais da DRFE e de outras empresas do ramo, por vezes arrombando cofres. A situação gerou enfrentamentos com a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo para dispersá-los.
Em algumas sedes das empresas, funcionários simplesmente fugiram com o dinheiro, deixando recados aos investidores. Em Santander de Quilichao, foi achada uma nota que dizia deixar "as cadeiras mais caras do mundo" para os manifestantes e que "as únicas pirâmides do mundo que existem e não se vão são as do Egito".
Os distúrbios concentraram-se nos departamentos de Nariño, Cauca e Putumayo, na região sudoeste, além de Risaralda e Quindío, no centro. As cidades que decretaram o toque entre quarta e quinta-feira foram Popayán, Pasto, Túquerres e Ipiales, além de Santander.

Reação governamental
Frente aos distúrbios, o presidente Álvaro Uribe convocou reunião com o ministro da Fazenda, Óscar Iván Zuluaga, e outras autoridades econômicas. Uribe condenou o que chamou de "esquemas de calote".
Zuluaga disse que o governo não tem motivos para indenizar os investidores. "Do Orçamento não sairá nem um peso sequer", afirmou. Segundo o ministro, o fato de a atividade ser ilegal impede que se tomem medidas legais para compensar os investidores enganados.
Zuluaga se disse surpreso que as pessoas continuassem investindo nas "pirâmides" apesar das advertências do governo. Os alertas, no entanto, não evitaram as críticas ao governo quanto à falta de regulação da atividade e à demora em agir quando ficou clara a dimensão do problema.
O governo e entidades comerciais colombianas temem que os calotes afetem o nível de atividade econômica no período do Natal, agravando as já sérias conseqüências da crise global na Colômbia. A previsão de crescimento do país para 2009 já é de apenas 1%, contra 3,5% neste ano e 7,5% em 2007.

Com agências internacionais


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